3. O ritual.

31 10 0
                                    

Era noite de uma sexta-feira treze quando Jungkook pôs os pés em um cemitério.

Acima de sua cabeça, relâmpagos iluminavam o céu por trás das nuvens, lançando clarões ofuscantes sobre ele.

Era quase como se a chuva que se aproximava fosse um presságio para que ele soubesse que não deveria estar prosseguindo com aquilo, ou talvez um incentivo para que continuasse. Ele preferiu confiar na segunda opção.

Atravessou os portões metálicos em arco com sua mochila, contendo suas compras recentes - um saco de sal grosso e velas brancas. Após deixar o sebo, certificou-se de passar em uma loja de esoterismo e comprou os ingredientes necessários para o ritual.

Ele tomou o celular do bolso, na tela inicial marcava dez minutos para às sete da noite. Precisava ser rápido se não quisesse tomar um banho de chuva.

Jungkook tinha uma afeição mórbida por cemitérios, talvez porque morava bem em frente a um. Sua casa ficava a apenas alguns passos de distância do cemitério do bairro, e ele sempre caminhava por lá quando precisava espairecer a mente.

Não era como seu pai e avó, que não desperdiçavam uma chance de comparecer a todos os funerais possíveis, mesmo aqueles de pessoas que nem conheciam - tudo em nome das fofocas.

Jungkook gostava de cemitérios porque, ao caminhar pelos corredores de lápides solitárias, com apenas o cantar das cigarras e a companhia dos fúnebres repousando sob a terra, sentia um tipo de paz que não experienciava em nenhum outro lugar.

Ele dobrou a esquina e se deparou com um grupo de góticos que não poderiam ter mais de quinze anos, todos sentados em uma lápide. Quando passou pelos adolescentes com olhos delineados por tinta escura e vestidos em correntes e espartilhos, eles o encararam.

Um deles, uma garota com a cara cheia de espinhas e um delineado meio exagerado, se levantou da sepultura e ofereceu um baseado para ele.

ㅡ Ei, moço bonito, quer fumar um?

O grupo atrás dela soltou risadinhas entorpecidas. O aroma amargo de maconha prensada o fez enrugar o nariz.

ㅡ Não, valeu, estou de boa ㅡ respondeu Jungkook, passando reto por eles.

Ele dirigiu-se até a lápide mais distante do grupo e ajoelhou-se na terra. A placa de mármore acima do túmulo chamou sua atenção.

Kim Tae Pyung 1982 - 2020. Querido esposo, pai e amigo. Descanse em paz.

ㅡ Com licença, senhor, eu não vim perturbar o seu sono. Só vou pegar um pouquinho disso aqui e vou embora. ㅡ Ele se sentiu na obrigação de dar ao menos uma explicação enquanto apanhava um punhado de terra na cova do homem e enfiava numa sacola de plástico. Jungkook havia lido na internet que a terra de cemitério era uma propriedade mágica para aproximar o mundo físico do espiritual. E que ao retirar a terra do túmulo, ele deveria deixar algo em troca. Por isso, depositou uma rosa branca sobre a lápide em agradecimento. ㅡ Muito obrigado pela sua ajuda.

Tae Pyung não ofereceu uma resposta, e Jungkook se sentiu extremamente grato por isso.

Assim que rodou as chaves na fechadura de casa, ele ouviu um choro arrastado e manhoso do outro lado.

Ao abrir a porta, um flash de pelagem escura atravessou seu caminho, se esfregando nas suas pernas.

ㅡ Bammie ㅡ cantarolou Jungkook com a voz aguda. Ele abaixou-se e bateu levemente num local próximo ao rabo do cachorro, onde sabia que era o ponto fraco do dobermann marrom. Em resposta, o cachorro latiu alto e empinou o traseiro para ele. ㅡ Seu safadinho.

O Pacto de Jungkook - [Taekook]Onde histórias criam vida. Descubra agora