8. Mysferum.

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Ele estava correndo por sua vida.

As árvores se alongavam até o céu, tão altas que cobriam toda a floresta em uma escuridão impenetrável. Os galhos se curvavam como garras de monstros tentando capturá-lo, rasgando a barra da sua capa mirrada e miserável e arranhando a pele descoberta do seu rosto.

Os hematomas queimavam em suas bochechas, as solas dos seus pés latejavam em carne viva, seus pulmões ardiam por ar. Entretanto, Minho ignorou toda sua dor. Pois não podia se dar ao luxo de depositar energia em nada além da sua escapatória.

Os gritos e passos apressados estavam se aproximando agora. Ele se atreveu a espiar por trás dos ombros, e se arrependeu no mesmo instante. Podia vislumbrar o contorno dos fiéis do padre segurando tochas e atravessando a mata com cães de caça, bocas abertas prontas para se fechar ao redor da sua garganta, sedentos à sua procura.

Eles não descansariam até capturá-lo, vivo ou morto.

Minho devia ter se reduzido a cinzas. Ele era um bruxo. Um herege. Amaldiçoado, era o que cochichavam em seu vilarejo. Um discípulo do inimigo pego praticando a magia proibida.

Porém suas correntes haviam sido quebradas. Ele estava livre agora e não tinha intenção de desistir sem lutar.

Ele penetrou mais a fundo na floresta, sabendo que era o local onde os monstros se escondiam, mas sem se importar. Ser devorado por um monstro era uma sina mais agradável do que aceitar a morte pelas mãos de qualquer homem.

O som da água corrente e o aroma de terra umedecida tomaram seus sentidos.

Ele afastou as relvas e galhos à sua frente, e então não teve escolha a não ser parar o passo.

Minho se encontrava na beira de um penhasco. Metros abaixo, estendia-se um rio de águas nebulosas e violentas, correntezas mortais e indomáveis.

Os passos se aproximaram, assim como os gritos de vitória.

Ele está ali.

Peguem-no.

Minho olhou para trás, e então voltou-se para a queda mortal inevitável que o esperava. Não havia nenhuma fuga milagrosa para ele. Aquela era a sua única saída.

Se aquele fosse o dia da sua morte, ele decidiu que seria por suas próprias mãos.

Não pensou, apenas ergueu os pés do chão e se jogou em queda livre.

Quando seu corpo atingiu a água, foi como se milhares de agulhas penetrassem a sua pele. O frio o abraçou até os ossos, e ele foi imediatamente cego pela dor. Tentou bater os braços e as pernas para voltar à superfície, no entanto, isso só o fez afundar mais ainda. A correnteza era intensa e agitada demais, fazendo com que fosse impossível se mover sob a água. Redemoinhos se formavam, envolvendo suas pernas, arrastando-o com o fluxo da natureza.

Não importava o quanto lutasse, ele não conseguia sair do lugar, apenas afundar mais e mais naquele rio desconhecido.

Ele foi incapaz de prender o fôlego por mais tempo. Sua boca se abriu por instinto, procurando por ar. A água inundou seus pulmões. Lentamente, seu corpo deixou de lutar e passou a se entregar ao pacífico conforto de um sono que não o garantia um despertar. Sua cabeça ficou leve, seus membros soltos ao redor do corpo, boiando nas águas profundas do rio.

A luz do sol sobre a superfície foi a sua última visão antes de se render totalmente à escuridão da inconsciência.

E então ele ouviu um latido.

O Pacto de Jungkook - [Taekook]Onde histórias criam vida. Descubra agora