4. Está pronto para fazer um pacto com o Diabo?

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Ele estava chapado.

Aquilo era uma alucinação induzida por seus remédios tarja preta. Só podia ser. Jungkook já havia tido muitos delírios antes, quando tomava seus comprimidos e se recusava a deitar para dormir - às vezes, até mesmo fazia isso de propósito. Ele se deparava com duendes se esgueirando pelos cantos obscuros do seu quarto e se escondendo embaixo da sua cama. Seu cachorro já até se transformou em um leão-marinho bem na sua frente certa vez.

Coisas estranhas aconteciam quando estava medicado. Sua mente não era um local seguro e ele não era um narrador confiável.

Embora pudesse jurar que não havia ingerido nenhum comprimido naquela noite.

Quando o homem começou a se aproximar dele com passos deliberados, ele recuou, caindo de bunda no chão. Seus dedos apertaram o cabo do canivete com tanta força que doeram.

— Quem é você?

— O garoto me invocou, mas não sabe quem eu sou? — Isso lhe rendeu uma gargalhada profunda e sombria. O som pareceu estremecer o mundo, e por um instante, até mesmo os trovões se calaram. Os cabelos na nuca dele se arrepiaram. O que Jungkook havia invocado naquele cemitério? — Você não é um deles, não é? — Os olhos do desconhecido se voltaram com interesse para onde o grimório estava largado no chão. — Não, você é apenas um mortal não iniciado, e sob algum desastre do destino, conseguiu a proeza de pôr as mãos no Liber Tenebrarum.

— Eu não estou entendendo. — Ele engoliu em seco, numa tentativa de limpar o nó que se formou em sua garganta e dispor certa compostura em sua voz. — Eu não roubei nada de lugar nenhum. Encontrei o grimório em um sebo e paguei por ele. Quem é você, porra?

No entanto, o estranho não se importou com suas desculpas esfarrapadas. Nem ao menos se deu o trabalho de responder sua pergunta.

— Então você é um homem que age pela lei, que segue suas doutrinas. Um homem de fé, eu presumo?

Ele espremeu os lábios em uma linha fina, incapaz de responder sua questão.

O sorriso do homem apenas se alargou.

Ele piscou, e então lá estava ele, bem diante de Jungkook.

Ele ofereceu uma mão para Jungkook, e por alguma razão que lhe era desconhecida, ele a aceitou sem hesitar. Garras se fecharam ao redor do seu pulso e o puxaram para cima sem esforço.

Agora, eles se encontravam cara a cara. Tão próximos, que Jungkook podia se ver refletido em seu olhar curioso. Tão próximos que podia observar cada detalhe minuciosamente esculpido do seu rosto como uma escultura criada pelas mãos abençoadas de Michelangelo.

Próximos o suficiente para ele ter certeza de que aquela criatura não era humana.

— Quem você acha que eu sou, Jungkook? — Ele ergueu uma sobrancelha para ele, o canto do seu lábio se curvou para cima. — Suponho que isso depende do que você acredita. — O homem começou a andar em círculos ao seu redor, analisando-o, assim como uma fera ao brincar com sua presa. — Eu sou o perigo do qual sua avó lhe alertou. O causador de todas as depravações da humanidade. O culpado dos pecados fervendo em sua mente tortuosa. — Garras escuras tomaram o seu queixo e o ergueram, até ele não ter escolha a não ser fitá-lo diretamente nos olhos, se vendo confinado em um oceano negro violento. — Eu sou aquele que você se recusou a nomear quando era uma criança. Aquele para quem rezou nas horas mais escuras quando adulto, esperançoso que talvez, diferente de Deus, ele atendesse as suas preces. Estou aqui agora e eu as atenderei.

O estômago dele se retorceu. Bile subiu à sua garganta, mas ele se forçou a engoli-la.

Foi quando Jungkook notou que enquanto o temporal caía impetuosamente no cemitério, na rua, em toda a cidade, nenhuma gota o tocava mais. Com o cabelo pingando e suas roupas encharcadas pela chuva, ele estremeceu, mas não foi devido ao frio.

O Pacto de Jungkook - [Taekook]Onde histórias criam vida. Descubra agora