2. Liber Tenebrarum.

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Presente.

Ele gostaria de destruir o capitalismo com suas próprias mãos.

Era difícil não se sentir dessa maneira enquanto montava um caderno de viagens, onde a estadia em um hotel era maior que a soma do seu salário anual e o de toda sua família. Jungkook simplesmente não conseguia compreender como era possível que alguém pudesse pagar por tudo aquilo na economia atual em que vivia.

Tentou não pensar na dívida em vermelho no aplicativo em seu celular ou em como faltavam semanas para o quinto dia útil chegar, e ele já não possuía um tostão no bolso.

Fitando os seis dígitos na tela de seu computador, Jungkook levou um copo de cafezinho ardente até os lábios e o bebeu em um único gole, saboreando a queimação que tocou a ponta da sua língua.

Eu não me importo que você seja pobre, aja como se fosse rico.

Foram as palavras gentis da sua chefe, Lalisa, em sua primeira semana trabalhando como analista de marketing na agência de viagem Seoul Euphoria.

Jungkook sorriu e assentiu, engolindo a humilhação em seco, porque ele precisava realmente de um emprego.

Agora, fazia seis meses que Jungkook estava lá, e ele se sentia como uma versão cinzenta de si mesmo. Mais fantasma do que homem, pois sua força vital era drenada a cada dia que passava oito horas sentado na cadeira de rodinhas diante do computador, e mais quatro horas em pé no transporte público durante o horário de pico - na ida e na volta para casa. Ele estava trabalhando para sobreviver, sem saber o que era viver, de fato.

Ele temia que um dia fosse acordar e descobrir que o peso da realidade se sobrepôs à leveza dos seus sonhos.

Só conseguia ter uma boa noite de sono quando estava medicado. Aos 24 anos, remédios controlados para dormir haviam se tornado seus melhores amigos.

Ao menos você tem um emprego de verdade. Está na hora de abandonar suas fantasias, aceitar que já é um homem adulto e viver o mundo real.

Ele tentou ignorar a voz rouca e cínica que se assemelhava muito a de sua falecida avó.

Sentiu algo se quebrar ao redor de seus dentes. Foi só então que se deu conta de que estava mordiscando o copo de cafezinho ansiosamente. Ele precisava urgentemente de uma pausa para um cigarro.

Uma bolinha de papel o atingiu em cheio na testa. Ele franziu o cenho, puxando para baixo o seu fone com cancelamento de ruído. Subitamente foi atingido pela cacofonia de vozes falando ao menos quatro idiomas diferentes ao seu redor.

Ele encontrou Yugyeom, seu colega de mesa, companheiro de intervalos para um cigarro e compartilhador de fofocas edificantes, fitando o próprio monitor com os olhos marejados.

— Morre aos 45 anos o ator coreano vencedor do Oscar, Kim Namjoon.

— Nem fodendo  — Jungkook suspirou.  — Como isso aconteceu?

— Aparentemente, ele foi encontrado sem vida em seu apartamento, a apenas algumas quadras daqui. A causa da morte ainda é desconhecida até o momento.

— Suicídio.

— É o que todos estão comentando, embora a verdade jamais será revelada ao público.

— É assim que as coisas funcionam no mundo dos famosos. — Jungkook ponderou, pensando em toda a carreira do Kim como ator. Como ele havia sido o primeiro e único ator coreano a ganhar um Oscar, sua era de ouro no cinema, como ele mudou a imagem dos homens coreanos no exterior. O Kim era uma inspiração para qualquer artista masculino no país, incluindo Jungkook. Mas não importava quão famoso, rico e inalcançável você fosse, a escuridão ainda podia ser um inimigo presente em sua mente. — Descanse em paz, Kim Namjoon, você sempre será famoso.

O Pacto de Jungkook - [Taekook]Onde histórias criam vida. Descubra agora