capítulo 11

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Volto para o escritório na manhã seguinte. Tudo está igual, a não ser um pequeno buquê de margaridas na minha mesa.

“Seja bem vinda, Grace. Me lembre de esconder todas as garrafas de bebida de você”

Ass:L

***
Eu me dirijo até a sala de Luke, quando ele me vê seu rosto se ilumina. Ele sorri e então anda na minha direção.

—Estou muito feliz que tenha voltado.

—Não por muito tempo. Você venceu, Luke.—eu digo enquanto jogo um papel em sua mesa.

Ele pega o papel e me olha surpreso.

—O que é isso? —ele passa os olhos pelo papel e então olha pra mim com os olhos tristes.

—Minha demissão. Você acabou com a minha vida de novo.

Ele corre até mim e pega nas minhas mãos.

—Do que está falando, Grace? Estou preocupado.

—Eu e Gerrard. Já era. Você estragou tudo, assim como estragou meu emprego. Não tem porque continuar aqui. Não faz sentido. Essa é minha demissão.

—Demissão? Você vai jogar todos esses anos de esforço fora, Grace?

—Bem, parece que todos esses anos de esforço não foram o suficiente pra essa empresa, quando escolheram alguém pra ocupar a vaga pensaram logo em um pênis. Todo o meu esforço não valeu de nada.

—Grace, você não precisa fazer isso. Se tudo isso é por minha culpa eu me demito, você continua aqui. Não é justo.

—Claro que não é justo, Luke. E com Gerrard? Você também vai consertar as coisas? Você consegue consertar?

Seus olhos estão vermelhos e ele treme enquanto tenta achar uma resposta para minha pergunta.

—Grace, eu não queria. Eu juro que não queria te prejudicar. Eu só, só não consigo resistir a você. Tudo em você me deixa fraco, eu acabo agindo como uma criança irresponsável. Eu digo, eu prometo, juro que não vou te procurar mas quando eu vejo estou fazendo isso. Parece um ímã, uma força que me leva até você. Como se eu não controlasse meu corpo.

Ele chega mais perto, posso sentir seu hálito fresco, ele quase me beija. Eu fico imóvel enquanto espero.

—Eu posso consertar, Grace. Me deixe consertar as coisas. Eu amo você. Amo você de verdade. Sempre amei, sempre foi você. Todos esses anos, eu fiquei aqui, esperando por você. Parado no mesmo lugar, como uma pedra. O lugar no meu coração ainda é seu. Basta você aceitar.

—Se você me ama tanto porque me abandonou no altar, Luke? Porque você me deixou? Porque me fez tanto mal? —eu digo enquanto as lágrimas escorrem pelo meu rosto.

Luke se afasta de mim e então começa.

—Pouco antes de nos casarmos meu pai disse que estava doente, muito doente. Ele precisava de alguém pra cuidar da empresa da família porque achava que não ia durar muito tempo. Nós dois estávamos com as passagens compradas para a capital, nós, eu e você, íamos morar aqui, íamos trabalhar nessa multinacional. Era seu sonho lembra? Você passou a faculdade toda falando nisso, seus olhos brilhavam, Grace. Eu te via falando disso com tanta paixão. Quando meu pai disse que eu teria que cuidar da empresa, da minha mãe e da minha irmã meu mundo desabou. Eu não podia te obrigar a ficar comigo ali naquela cidade, naquele lugarejo. Você era grande, você queria coisas grandes. Eu não podia te reduzir a uma vida ali, como uma dona de casa totalmente submissa. Eu sabia que se eu falasse pra você, você abriria mão disso. Você me amava demais. Você faria qualquer coisa por mim. Até sacrificar seu futuro por mim. Mas eu não podia fazer isso. Não era justo com você. Eu pensei por dias o que ia fazer. Quando finalmente tomei a decisão já era no dia do nosso casamento. Eu me odiei por ter deixado você naquela igreja. Eu ainda me odeio. Mas eu não podia destruir seus sonhos. No final eu achei que tinha feito a coisa certa, você veio pra essa cidade, conseguiu uma vaga. Cresceu na empresa. Quando eu soube da vaga eu não pude deixar de me inscrever, eu precisava ver você. Eu tinha esperanças de te ver feliz, casada, realizada profissionalmente. Mas quando eu vi você assim, destruída, eu quis cuidar de você. Eu não posso deixar a mulher da minha vida se destruir assim. Sei que errei. Mas eu posso consertar as coisas, Grace.

Eu ouço tudo enquanto permaneço imóvel. Em choque. Dou um grito de dor enquanto coloco as mãos na cabeça.
Minha voz tem raiva, ódio. Eu estou prestes a explodir.

—Você não tinha o direito, Luke. —eu falo pausadamente enquanto coloco a mão no coração, disparado, estou prestes a ter um colapso. —Eu escolheria você, escolheria você mil vezes. Eu moraria com você debaixo da ponte. Eu abriria mão dos meus sonhos. Tudo o que sempre quis foi uma vida com você. Se você tivesse me contado, tivesse me deixado escolher tudo poderia ter sido diferente. Tudo. Você sabia que eu estava grávida? Sabia? —eu grito enquanto digo sem pensar, um segredo que nunca contei a ninguém. Por anos esse foi meu maior segredo.

—Grávida?—Luke se desmancha em lágrimas. Ele tenta me abraçar mas eu o afasto. —Mas como? Como? Onde está o bebê? —ele diz com a voz trêmula.

—Eu perdi, Luke. Perdi sozinha em um apartamento. Eu senti toda a dor sozinha enquanto sentia a última parte de você sair de mim. Eu queria tanto ter visto os olhos dele, eu queria tanto ter tido o nosso filho.

—Me desculpe, Grace. Me perdoa por favor. —ele se ajoelha na minha frente enquanto chora agarrado nas minhas pernas. Seu choro é alto e ele grita de dor.

Eu choro e então tiro ele de perto de mim.

—Assine minha demissão assim que tiver um tempo. —eu digo enquanto enxugo as lágrimas e saio da sala, deixando Luke ajoelhado no chão.

Abandonada no altar -Amanda PlathOnde histórias criam vida. Descubra agora