capítulo 10

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Quando finalmente tenho alta volto para casa. Minha cabeça nunca esteve tão cheia e tão confusa. As cartas de Luke, tudo o que aconteceu. Eu devo ser mesmo uma pessoa horrível. O álcool contribuiu e muito para as coisas terem chegado onde chegaram. Eu provavelmente não teria deixado ele tocar em mim se estivesse sóbria, mas eu não estava. Eu quase nunca estou. Esse é o problema. Talvez eu devesse procurar ajuda. Beber tanto não é normal. No hospital o médico me passou o contato de um psiquiatra amigo seu, eu devo estar muito mal mesmo.

Eu ainda não tenho coragem de encarar Gerrard desde que deixei meu ex noivo me dedar numa sala escura. Tenho nojo de mim as vezes por mim. Mas eu não consigo negar a atração que tenho por Luke, e o quanto eu queria odiá-lo. Quando ele me disse tudo aquilo eu quase senti pena dele, por um momento pensei em ouvir sua justificativa, o porquê dele ter feito tudo o que fez. Mas sabe o que me preocupa? Pensar que ele pode ter um bom motivo, e aí eu perdoá-lo. Ele não merece perdão. Independente do motivo. Ele me fez sofrer por 5 anos. Eu me tornei essa pessoa vazia. Oca.

***
Deito na minha cama e me afundo nas cobertas. Quando o celular toca eu pego e ligo o visor, é Gerrard. Eu atendo.

—Oi, Gerrard.

—O que aconteceu, Grace? Estou preocupado. Você saiu teve alta e nunca mais me procurou. Eu ligo você não atende, eu vou até seu apartamento mas o porteiro não me deixa entrar. Aconteceu alguma coisa?

—Aconteceu. Muita coisa. A gente precisa conversar, não dá mais pra adiar. Você pode vir aqui amanhã a tarde? —eu digo tentando não chorar.

—Posso, posso sim. Vai ficar tudo bem, Grace. Eu sei que deve estar envergonhada por causa do álcool mas eu estou aqui com você.

—Eu sei. E eu não mereço isso. —eu digo enquanto as lágrimas rolam pelo meu rosto e a minha fala fica carregada.

—Não seja boba. Claro que merece. Amanhã estarei aí.

—Certo. —eu digo e então desligo o telefone, sem querer ele tenha tempo pra responder.

Eu sou uma filha da puta. Mas não sou uma traidora. Eu jamais faria Gerrard sofrer com toda essa merda. É por isso que eu não queria namorar. Ele é um cara legal, e quando visse a confusão que eu sou seria engolido por ela. Eu nunca quis que tudo isso acontecesse. Mas aconteceu. Um adulto paga, eu tenho que pagar pelos meus erros.

***
Eu durmo até o meio dia e então faltando uma hora pra finalmente encontrar Gerrard eu levanto da cama e tomo um banho, me arrumo tentando trazer de volta a minha dignidade.

Gerrard bate a porta as duas da tarde. Ele tenta me cumprimentar com um beijo mas eu afasto o rosto. Ele parece perceber que não estamos bem, seu rosto é triste.

—Senta. —eu digo, enquanto aponto para o sofá. —Tenho que te contar uma coisa. Tenho que te contar muita coisa. —falo tentando encher meus pulmões de ar.

Ele engole em seco e então responde.

—Pode falar, amor.

—O Luke, o cara da festa.

—Sim? O que tem ele?

—Ele é a razão por eu ser assim, ele é o meu ex noivo.

Ele fica em silêncio um minuto enquanto tento ler sua expressão.

—Eu sei, Grace.

—Sabe? Sabe como? —eu digo chocada.

—Eu li os bilhetes que ele deixou, as flores. Eu não sou burro. Ele assinou como L. O nome dele é Luke, o jeito como ele te olhou na festa.

Eu abaixo a cabeça envergonhada. Ele prossegue.

—Entendo você ter guardado isso, estou feliz que você tenha me contado. Ele ainda tem sentimentos por você. E eu não me importo com isso. Eu só quero saber se você sente algo por ele ainda.

—Depois que ele voltou pra minha vida tudo virou um caos, eu sinto raiva o tempo todo. Parece que ele sempre me puxa pro fundo do posso. Me faz ficar desestabilizada.

—Isso meio que responde o que eu perguntei. —ele diz olhando para o lado.

—Gerrard, eu gosto de você. E se eu te pedi pra vir aqui é porque não quero magoar você. Preciso ser honesta sobre tudo. Tem mais uma coisa.

—Pode falar—ele diz olhando para mim, seus olhos estão vermelhos e marejados.

—Aquela noite ele me tocou. Não fizemos sexo. Mas eu deixei ele me tocar. Eu estava bêbada demais mas eu não vou colocar a culpa na bebida, talvez eu realmente quisesse. O fato é que depois de tudo isso eu fiquei bebi demais e eu só me lembro de apagar totalmente.

—Ta me dizendo que seu ex noivo aparece aqui e você fode com ele?

—Não fodi com ele. Eu o afastei. Mas antes disso ele me tocou, eu estava bêbada, estava triste, estava com tesão. E eu sei que não tem perdão e que você deve me odiar mas eu não posso enganar você.

—Certo. —Gerrard levanta enquanto vai em direção a porta e eu o interrompo.

—Como nós ficamos agora?

—Eu preciso pensar, Grace.

Ele diz enquanto bate a porta.

Eu fico sozinha no meu apartamento. Amanhã tenho que voltar a trabalhar e tudo o que consigo pensar é em ter que olhar pra cara daquele desgraçado.

Abandonada no altar -Amanda PlathOnde histórias criam vida. Descubra agora