capítulo 5

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***
Quando o efeito da bebida passa eu vejo a merda que fiz. A merda gigantesca que fiz. O que diabos eu estava pensando quando aceitei o pedido de Gerrard? Aquele desgraçado é o culpado. Ele veio aqui e bagunçou a minha cabeça, ele faz isso comigo. Me faz ser essa pessoa que odeio. Sem sentimentos, sedenta por sexo e atenção. Tudo o que conheço é isso.
Em pensar que uns anos atrás eu não poderia imaginar que viveria esse tipo de vida.

Charles Bukowski disse uma vez:

“As relações humanas são estranhas. Quer dizer, você passa um tempo com uma pessoa, comendo, dormindo, vivendo e amando, conversando com ela, indo aos lugares - e, um dia, tudo acaba”

É assim que sinto. Passei 8 anos da minha vida com uma pessoa que amava, que achava que seria meu marido e pai dos meus filhos.
Mas um dia ele me deixou no altar e isso acabou. Eu tive que aprender a viver sozinha depois de passar 8 anos fazendo isso com alguém. Luke era o independente da relação. Ele me pegava pela mão como os pais pegam as crianças. Eu não tinha que me preocupar com quase nada pois ele estava ali comigo, pra facilitar a minha vida. Pra me carregar no colo quando ficasse muito difícil caminhar. E um dia simplesmente tudo acabou.

Vocês sabem o que é confiar cegamente em alguém e depois descobrir que tudo foi uma mentira? Imagina como deve ter ficado a minha cabeça!

***

Terapeuta, 4 anos atrás.

-Voce precisa superar isso, Grace.

-Eu sei, Ana. Mas eu sinto tanta raiva dele. Tanta raiva. Eu sinto ódio -digo enquanto aperto a poltrona estofada do consultório com as mãos.

-Não é hora de procurar ele? Pra saber porque ele fez isso? Talvez assim ficasse mais fácil superar.

-Não quero nunca mais olhar pra ele, Ana. Quero que ele morra. Morra.

-Como você se vê daqui um tempo, Grace? Com todo esse ódio no coração?

-Não me vejo.

-Não tem mais expectativas?

-Não penso mais sobre isso. Antes eu planejava tudo. Agora eu vivo um dia de cada vez.

-Isso não é de todo ruim.

-Eu sei.

-Já tentou sair com outras pessoas? Conhecer outros rapazes.

-Só sexo casual.

-E como se sente fazendo sexo casual com estranhos, Grace?

-Me sinto bem na hora. Mas vazia depois. Me sinto vazia o tempo todo. Menos nesse momento. Quer dizer, quando consigo progredir no trabalho também me sinto bem. Fora esse tempo me sinto anestesiada.

-Anestesiada? -Ana coloca os óculos na ponta do nariz.

-É, a maior parte do tempo me sinto dopada.

-Por causa dos antidepressivos?

-Talvez. As vezes eu tomo mais que o necessário.

-Grace, já falamos sobre isso. Você pode acabar tendo uma overdose.

-Não são tantos assim. Quando estou anestesiada me sinto melhor, não penso em nada. Eu como, durmo, trabalho. Isso tudo com a mente vazia. Limpa.

-E quando o efeito passa?

-Quando o efeito passa eu bebo.

-Você é jovem demais pra essas coisas, Grace. Não pode continuar assim ou não vai durar muito tempo.

-Não sei se isso é ruim.

-Grace, não podemos progredir assim. Os pensamentos suicidas já tinham ficado pra traz. Por isso diminuímos o número de consultas e a supervisão.

-Só tô brincando.-eu digo enquanto mecho no cabelo.

-Vamos fazer uma mentalização. Quero que feche os olhos.

Eu obedeço.

-Agora quero que você imagine que eu sou Luke, quero que imagine que ele está aqui na sua frente. O que você diria pra ele?

Eu respiro fundo enquanto tomo tempo para pensar, a raiva toma conta de mim e explodo.

-Odeio você.

—E o que mais? —ela pergunta

—Odeio o que você fez comigo. A pessoa que você me transformou. Por que você fez isso? Por que? 8 anos! Você não acha que eu merecia mais? Por que eu não fui o suficiente?

Começo a chorar descontrolamente e Ana interrompe a sessão.

-Acabamos por hoje, Grace.

***

No dia seguinte eu dou entrada no meu pedido de férias.
Estou sentada na minha sala brincando com uma caneta quando Luke irrompe na sala.

-Está fugindo por causa de ontem?

Eu evito responder mas ele é insistente.

-Adiei as minhas férias por muito tempo. Agora que estou namorando juntei o útil ao agradável. Não se dê tanta importância senhor, Hoffmann. -eu sorrio enquanto olho fixamente para ele.

Ele cerra a mandíbula e fecha o punho.

-Não precisa ir, Grace. Já disse que não vou atrapalhar seu namoro.

-Como eu disse, não se dê tanta importância. Eu iria de qualquer jeito.

-Tudo bem. Boas férias então.

-Ah, eu terei. -não deixo de gargalhar enquanto Luke sai batendo a porta e todos do escritório ficam perplexos.

***

-Gerrard? Que acha de viajarmos juntos? Tem um lugar lindo que quero conhecer. -digo enquanto aliso seu peito.

-Estou com umas férias vencidas, amor. Qual o lugar?

-Havaí.

-Havaí? -ele sorri enquanto me puxa para um beijo -Não sabia que gostava de praia.

-Claro que eu gosto. Gosto sim.

-Então eu vou adorar ser seu acompanhante.

-Certo. Agora vem cá. -eu o beijo enquanto desabotuo a sua causa.


Abandonada no altar -Amanda PlathOnde histórias criam vida. Descubra agora