Capítulo 3

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Tenho evitado Luke. Ele, pelo contrário, parece querer me torturar. Frequentemente me chama a sua sala com a desculpa de tirar uma dúvida sobre o funcionamento da empresa, mas vez ou outra faz perguntas pessoais que eu finjo não ouvir. Até aí tudo bem, não fosse ele envolver outras pessoas nisso.

Lisa trabalha no escritório há dois anos, somos amigas e ela é a única pessoalmente que confio fielmente aqui. Na quarta feira ela chegou a minha sala meio nervosa e disse.

—Grace, o que aconteceu entre você e o Sr Hoffmann?

—Como assim o que aconteceu? —eu digo tirando os óculos, enquanto me levanto de um susto.

—Não sei, amiga. Ele me fez umas perguntas sobre você. Achei que vocês tivessem um lance ou coisa do tipo.

—Que tipo de perguntas?—eu me dirijo até a porta da minha sala e a fecho. Aponto para um sofá e Lisa se senta.

—Perguntou se você é casada, se tem filhos, há quanto tempo trabalha aqui. Enfim, quis a ficha completa.

—E você deu? —eu digo arregalando os olhos.

—Claro que não! Disse que não sabia, que eu e você não éramos tão próximas. Mas ele não é bobo, ele sabe que somos amigas e por isso perguntou.

—Sei.— meu coração está disparado, a raiva toma conta de mim.

Estava indo tudo bem até aquele idiota começar a fazer perguntas e envolver outras pessoas.

—Grace?—Lisa fala pegando na minha mão e me trazendo de volta a realidade.

—Oi?—eu digo olhando para ela.

—O que aconteceu entre vocês?— ela faz uma expressão de dúvida,  parece curiosa.

Eu respiro fundo e então digo.

—Sabe o cara que eu disse que me deixou no altar 5 anos atrás?

—Sei... Não, não é possível— Lisa cobre a boca com as mãos e seus olhos estão arregalados.

—Pois é, é ele. Aquele fodido. Filho da puta. Ele é o meu ex noivo.

Lisa respira fundo, parece chocada com o que acabei de dizer.

—Isso explica essas perguntas. Mas se ele te deixou no altar porque fica querendo saber da sua vida?

—Não sei, deve ser remorso. Ele deve tá querendo saber se eu segui em frente, se consegui superar. Deve ser consciência pesada.

—Não pareceu isso quando ele perguntou, pareceu mais... interesse. Pareceu interesse.

—Acredite, Lisa. Ele não está interessado em mim. Não estava 5 anos atrás e não está agora.

—Se você diz... —ela pega na minha mão de novo —amiga você não pode contar que eu te disse, ele pode me demitir. Eu só te perguntei porque fiquei confusa.

Eu mordo o lábio de raiva mas prometo não contar. Me levanto e vou até a janela da sala, levanto as persianas e dou de cara com Luke encarando. Eu abaixo depressa.

—Acho que ele já sabe.

Lisa da um grunidinho e afunda o rosto em uma almofada.

—Eu vou ser despedida.

—Não vai não, se você for, eu vou junto. Além do que, ele é quem não está sendo profissional.

—Tem razão. —ela parece se acalmar— E você e Gerrard? Como estão?

—Estamos indo bem. Ele quer namorar sabe? Eu acho cedo demais.

—Vocês já estão saindo há seis meses.

—Eu sei, eu sei. Mas sei lá. Acho que tô com medo. Por enquanto tá bom, ele vai na minha casa as vezes, eu vou na dele, saímos juntos. Só não queria rotular as coisas.

—Bem, o Gerrard não parece o carinha pra ficar saindo de vez em quando. Ele não parece gostar de sexo casual, ele parece querer construir família.

—Se é isso que ele quer, eu não posso dar.

—Grace, você diz que seguiu em frente mas ainda deixa as coisas do passado atrapalharem seu futuro. Porque não se permite viver algo novo?

—Vou pensar. Agora tô muito ocupada pensando em como vou fazer com esse maluco na minha cola.

—Ele é um gato. As meninas do escritório estão louquinhas por ele.

—Que façam bom proveito. —eu digo colocando os óculos.

—Sei. Você não está nem um pouquinho mordida?

—Não. E só pra você saber, ele tem pinto pequeno.

—Sério? —ela diz arregalando os olhos.

—Não. Tô brincando. O único defeito daquele desgraçado é ser um desgraçado.

Eu e Lisa caímos na risada. Ela levanta do sofá e e diz.

—Tenho que voltar, amiga. Qualquer coisa vou te atualizando.

—Faça isso.

Eu dou uma abraço em Lisa e ela sai da sala. Fico em pé na porta e vejo Luke tomando um café enquanto olha para mim. Faço que não vi e fecho a porta.

***

—Onde tem camisinha? —Gerrard pergunta enquanto me beija.

—No criado mudo—eu digo tirando a blusa.

Ele então para de me beijar.

—Que foi? Eu fiz alguma coisa? —pergunto enquanto o encaro surpresa.

—Não. Eu só queria algo a mais, Grace. Estamos saindo há seis meses. Eu quero namorar você, não ficar vindo aqui sempre que você quer transar.

—Gosto de você, Gerrard. Gosto de verdade. Mas se me pedir algo a mais do que estou oferecendo, eu sinto em te dizer que vamos ter que nós afastar.

—Prefere se afastar de mim ao invés de aceitar meu pedido de namoro?

—Não, não prefiro. Mas você vai me obrigar a fazer isso.

Gerrard coloca a camisa e se levanta depressa, ele vai em direção a porta e então diz.

—Não sou esse tipo de cara, Grace. Me liga quando mudar de ideia.

Ele sai e me deixa ali sozinha, com tesão e me sentindo uma merda. Gosto de Gerrard, mas eu tenho medo de relacionamento. Medo de gostar tanto dele e ficar vulnerável. O amor é um cão dos diabos, como dizia Charles Bukowski.

Abandonada no altar -Amanda PlathOnde histórias criam vida. Descubra agora