O ELEVADOR

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Levavam menos de cinco minutos de caminhada do prédio antigo da unidade de artes, carinhosamente apelidado de Bloco Arruinado, até a quadra de futebol da Universidade de Jamestown Hall. O trajeto não era longo. Os prédios mais antigos abrigavam os cursos de artes plásticas, como pintura, gravura, escultura e artesanato, além de artes visuais, como fotografia, vídeo e produção, e artes cênicas. Eles ficavam localizados ao fundo da universidade, próximos aos campos de treino de futebol.

Por outro lado, os prédios mais novos e atraentes se situavam logo na frente do campus, desfrutando de maior visibilidade. A decisão de manter a unidade de artes afastada tinha como motivo o fato de que os alunos de artes cênicas precisavam de espaços amplos para suas performances, enquanto os estudantes de artes plásticas requeriam vários armazéns, alguns para pintura e outros para cerâmica. Além disso, havia sempre um ou outro aluno de escultura que optava por trabalhar com madeira, vidro ou serralheria, espalhando faíscas de solda pelo ar.

A subdivisão de artes visuais também tinha suas particularidades, incluindo a necessidade de um estúdio escuro de revelação. Os estudantes dessa área frequentemente faziam registros ao ar livre pelo campus, com suas câmeras sempre prontas para capturar momentos. Jungkook havia capturado Taehyung inúmeras vezes, transitando de um armazém a outro como uma borboleta sociável. Taehyung carregava consigo uma pochete velha e surrada, presa ao redor do quadril, com alguns potes de tinta dentro. Para Jungkook, isso beirava o ridículo, mas Taehyung parecia não se importar com o julgamento alheio.

A verdade era que Taehyung não parecia ligar para o julgamento de ninguém. Desde sua pochete bizarra até o pincel com cabo ridiculamente longo preso atrás da orelha, suas roupas e pele frequentemente manchadas de tinta, ele exibia uma atitude desleixada que frustrava Jungkook e seu perfeccionismo quase doentio. Para piorar, essa atitude despretensiosa de Taehyung não afastava ninguém; pelo contrário, atraía suspiros de admiração em vez de caretas de desgosto.

Jungkook poderia debater o quanto quisesse com Taehyung, mas era inegável que a universidade parecia pertencer a este último. Taehyung conseguia conquistar a todos com suas mãos sujas de tinta a óleo e seu charme irritantemente adorável.

No entanto, Taehyung tinha um pequeno problema: assim como uma borboleta, ele voava de um lugar para outro, pousando em todos os galhos que encontrava pelo caminho. Retirava pólen de todas as flores que achava bonitas, sem se fixar em nenhuma. Mesmo que Jungkook negasse, ele sabia o quão facilmente Taehyung podia encantar, mas não podia se dar ao luxo de se deixar levar por alguém que voaria para o próximo galho ao menor movimento brusco.

Enquanto se dirigia para a entrada do campo, o telefone de Jungkook vibrou repetidamente, arrancando-lhe reviradas de olhos toda vez que via o nome do remetente nas mensagens. Taehyung não parava de encher seu saco, mas Jungkook preferiu ignorá-lo em vez de se estressar; o dia era importante demais para se estressar com uma gracinha de Taehyung. 

Jungkook fazia parte do time de futebol. Jamestown tinha um insuportável sistema próprio de pontuação: Além dos alunos terem de ficar acima da média — alunos abaixo da média por dois semestres consecutivos eram normalmente cortados — também eram obrigados a terem pontos extra curriculares e “incentivados”, o'que também pode ser interpretado com obrigados, a participar de todas as atividades acadêmicas, como por exemplo a Exibição de fim de curso, uma espécie de TCC que os alunos formandos eram obrigados a fazer no final da graduação. 

Jungkook estava um pouquinho mais atrasado do que os outros no quesito pontos extra curriculares. Tinha se transferido para universidade quando o semestre já havia iniciado e sua antiga faculdade não tinha algo nem mesmo parecido com o sistema de Jamestown para que lhe rendesse algum crédito ou algo assim. Estava conseguindo alcançar os outros pegando todas as atividades disponíveis que apareciam no quadro de avisos no hall do prédio de Artes e fazia parte do time de futebol como crédito de pontos fixo. 

DESCULPAS PEONEAS E OUTRAS COISINHASOnde histórias criam vida. Descubra agora