O LABORATORIO

545 84 14
                                    

A escuridão que envolvia o corredor do laboratório fotográfico foi rapidamente deixada para trás, cedendo espaço a uma suave luminosidade vermelha que banhava o ambiente, criando uma atmosfera misteriosa e acolhedora. A noite já havia caído, e a luz escarlate pintava Taehyung enquanto ele entrava no laboratório deserto.

Imediatamente, seus sentidos foram envolvidos por um aroma familiar, o cheiro dos produtos tóxicos de revelação: ácido, metálico e alcalino. Puramente químico, assim como Jungkook.

Ele estava ao final do amplo salão do laboratório, em uma das diversas estações de trabalho. Ajustava um ampliador com um olhar crítico. Taehyung parou por um momento, observando-o antes de se aproximar. Jungkook sempre dizia o quão concentrado Taehyung ficava ao deslizar um pincel em uma tela, mas ele entrava no mesmo tipo de transe ali, movendo-se com confiança entre os equipamentos, tão focado a ponto de não perceber Taehyung ali.

Foi somente quando Jungkook se afastou do ampliador e se dirigiu a uma das pias de revelação que seus olhos finalmente recaíram sobre Taehyung. O reconhecimento e a surpresa se espelharam na expressão de Jungkook.

— Oi. — Ele disse, surpreso; não esperava que ele aparecesse ali tão rápido. Havia acabado de mandar a mensagem e nem sabia bem o porquê havia mandado. Agiu por impulso. Queria vê-lo. Talvez fosse bom que Taehyung tivesse aparecido tão rápido, assim sua coragem não se esvaía completamente.

Ele tinha fugido. Admitia.

Fugiu o dia inteiro desde que sua mente processara o que quase acontecera na sala de estar do apartamento. Ainda processava, na verdade, e isso o pôs em pânico. Não foi ao resto das aulas, se escondendo no fundo do laboratório onde seria o único lugar que não acabaria cruzando com Taehyung.

É claro que ele poderia bem resolver ir ali atrás dele se quisesse. Não seria uma novidade Taehyung invadir as unidades de artes que não eram as suas. Ainda assim, ele não fez, e Jungkook era grato a isso. E no fundo, ele sabia que Taehyung não faria.

Taehyung não pressionava. Já tinha percebido isso. Lhe dava mais tempo para pensar, respirar, processar do que era mesmo justo e necessário. Então, depois de horas se acalmando no repetido processo de afogar suas fotos na bacia de revelador, resolveu chamá-lo.

Com uma única mensagem, digitou: "Terminei algumas fotos. Quer ver como estão?"

E Taehyung apareceu. É óbvio que apareceria. Ele não sabia muito bem porque o chamara, mas parecia o certo. Estava com medo de voltar ao apartamento, mas não queria ignorar mais aquilo.

— Oi. — Disse suavemente, se aproximando com leveza. Taehyung era bom nisso de deixar as coisas de lado e agir normalmente. Jungkook não. — Terminou com as fotos?

Jungkook assentiu, sentindo o coração acelerar. — Quase. — Respondeu, desviando o olhar. Ele engoliu em seco, tentando disfarçar o nervosismo. Apontou para as fotos em um varal próximo. — Estou fazendo alguns processos diferentes, mas já acabei uma parte. — Disse, com voz rouca. — Tem umas de molho.

Taehyung se aproximou das imagens com curiosidade, examinando-as atentamente. Enquanto o fazia, seus lábios formaram um leve sorriso, como se estivesse compartilhando um segredo silencioso com as fotografias. — Isso é uma borboleta? — Ele perguntou com um risinho. Na foto que encarava ainda era a janela fazia. Alguns pinguinhos de tinta na lente da câmera faziam parecer que borboletas de tinta voavam na janela.

Jungkook sentiu seu rosto corar. Tinha esquecido de esconder aquela. — Esteve pintando até agora? — Ele perguntou mudando de assunto. Seu olhar furtivo descendo para a pochete surrada com novas manchas frescas de tinta, pendurada em Taehyung. Ele sempre tirava quando terminava de pintar e deixava pendurada sobre o cavalete.

DESCULPAS PEONEAS E OUTRAS COISINHASOnde histórias criam vida. Descubra agora