CONFORTO

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Jeon JungKook se orgulhava de sua firmeza, não era do tipo que tremia facilmente. Ele não se entregava facilmente a fatores emocionais, ou talvez devesse dizer que estava profundamente mergulhado neles, seja qual fosse a situação. Nunca soube ao certo qual das duas era a verdade. No entanto, a realidade, ainda que fugaz e ambígua, era uma só. Seus sentimentos o envolviam como uma onda súbita, rápida e sufocante, quase assustadora. Ser emocionalmente recluso ou vulnerável não mudava os fatos; ele sentia, e muitas vezes sentia mais do que sua mente conseguia processar. Era como tentar editar fotos em um celular antigo, uma tentativa fadada ao fracasso. Eram programas incompatíveis, esforços vãos.

Por vezes, ele tentava lidar com essas emoções, mas logo sentia seu corpo aquecendo, seu coração batendo freneticamente como um alerta de incêndio iminente. Não havia mensagem de erro em sua mente; era mais fácil resetar o sistema do que continuar tentando. Por isso, era mais fácil rejeitar os sentimentos desde o início. Ao primeiro sinal de desconforto, ele se armava com suas defesas reluzentes e resistia bravamente. Não era do tipo que se abalava facilmente, justamente por sua própria proteção, nem se permitia envolver emocionalmente.

Entretanto, quando Taehyung puxou o notebook para o proprio peito e deslizou o braço por trás de seu pescoço, foi inevitável não tremer.

Jungkook sentiu um arrepio percorrer sua espinha quando Taehyung se aproximou, seu coração acelerando descontroladamente. O calor subiu pelas suas bochechas enquanto ele lutava para manter a compostura, desejando desesperadamente que o chão se abrisse e o engolisse inteiro.

Taehyung deslizou seu braço ao redor dos ombros de Jungkook, trazendo-o para mais perto de seu peito. Uma onda de calor o envolveu, tornando ainda mais difícil para Jungkook respirar. Ele tentou se concentrar na tela do notebook à sua frente, mas seus pensamentos estavam em turbilhão, incapazes de se fixar em qualquer coisa além da sensação de Taehyung tão perto dele.

Ele teve de se acomodar, encolhido entre o braço de Taehyung e seu peito. Jungkook prendeu a respiração, lutando para se concentrar. Se Taehyung pudesse sentir as batidas estranhas e frenéticas de seu coração, Jungkook preferiria se jogar da janela do 15º andar a enfrentar aquela situação. O que diabos passara por sua cabeça ao convidar Taehyung para dormir consigo três dias atrás? E Taehyung, intrometido como sempre, não apenas aceitara de imediato, como transformara isso em um hábito, para o desespero de JungKook.

Muitas vezes, Taehyung agia como se as ações de Jungkook fossem uma nova conquista desbloqueada; quase como em um jogo. Foi assim com o café, por exemplo. Depois que Jungkook aceitou a primeira xícara, Taehyung oferecia todos os dias. E quando Jungkook, ainda se convencendo de que tinha enlouquecido, preparou chá para ele, Taehyung passou a aparecer todos os dias para tomar café da manhã juntos.

Jungkook reclamava, o espraguejava e fazia caretas. Mas no final aceitava tudo. Tal como, Taehyung achava, um gatinho de rua filhote e assustado, mostrando as garras minúsculas com medo para quem apenas estava tentando o adotar.

Ele realmente odiava essa parte de si. Essa parte interna que ele sequer sabia controlar. Ele nem sabia como funcionava. Queria poder reagir normalmente, mas sequer conseguia processar quando coisas que mexiam com ele aconteciam.

Era irritante porque para outras pessoas era tudo muito fácil. Se notassem o caos interno em que Jungkook vivia se enfiando talvez fossem mais "devagar" com ele. Talvez ele não estivesse com os ombros incrivelmente tensos agora, por estar deitado sobre o braço de Taehyung.

Ele sentiu um arrepio no braço quando Taehyung lhe tocou. Sem uma palavra, Taehyung iniciou carinho no braço de Jungkook, seus toques suaves como uma suave brisa em meio a uma tempestade. Jungkook o olhou sorrateiro, pelo canto dos olhos. Taehyung ainda mantinha os olhos fixos na tela do notebook, o carinho era displicente. Ele apenas sentiu vontade de fazer.

DESCULPAS PEONEAS E OUTRAS COISINHASOnde histórias criam vida. Descubra agora