Céu de Tempestade

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O primeiro dia foi hà duas semanas e desde aquela segunda caótica as coisas têm sido “normais”. Desde que os professores começaram a passar trabalhos e atividades enormes, minha vida tem se resumido a ração de gato, o ar insuportável daquela escola e o trabalho de sábado e domingo no Café Com Tapioca. Falando no Café, Leo anda distante de mim, não com raiva ou magoado, mas ele não anda falando muito, vive rindo pro celular como um bobo; pergunto e ele diz sempre que não é nada, que eu tô inventando ou é coisa da minha cabeça,mas Sayuri tem quase certeza de que ele tá no começo de um relacionamento, quem diria, Leo namorando! (Pelo menos eu acho)

Eu e Lorena nós vimos quase todos os dias desde aquela segunda, não fazemos nada além de olhares de longe e acenos com a mão. Ela sempre vive com os amigos da banda e uma garota hippie, tentei falar alguma coisa mas Sayuri vive me puxando pelo braço pra bater perna pela escola. Nesse meio tempo já conheci a quadra, piscina e a biblioteca (onde estou agora) que se tornou meu lugar favorito, venho aqui praticamente todos os dias antes do começo do horário de aulas. A Biblioteca é bonita, suas paredes seguem o padrão de porcelanato marfim brilhante e suas prateleiras são longas e altas, feitas de madeira clara e divididas por gênero literário. A entrada leva a gente pra recepção onde ficam duas moças simpáticas e um pouco mais pra frente tem a grande escada de veludo verde que leva as pessoas pra parte central da biblioteca. Dentre os degraus largos da escada estão as prateleiras que dividem os livros de romance clássico à terror psicológico.

— Você vive lendo? - A Voz do loiro não é uma que você confunde.

— Não, só quando não tenho nada pra fazer, e você, faz alguma coisa? - Ele riu mesmo sem eu ter contado nenhuma piada.

— Jogar futebol não conta? - Ele falou com a bola de futebol na mão, de onde ele tinha tirado ela?

— Quis dizer algo útil Pimenta. - Falei enquanto voltava meus olhos pro meu livro.

— Jogar é importante, eu ganhei todos os troféus pra escola nos últimos dois anos! - Ele falou sorrindo enquanto fazia pose de fortão, me fez rir um pouco.

— Posso voltar a ler? - Era óbvio que não.

— Com que tempo? - Ele disse enquanto mostrava o relógio de pulso dourado e vermelho.

      Quando olhei a hora, eram 8h15, as aulas já tinham começado a 15 minutos e ele não tinha nem feito a questão de me avisar.

— POR QUE VOCÊ NÃO ME AVISOU?! - Gritei com ele e levantei quase tropeçando.

— Você não deixou eu falar, só sabia me criticar. - Falou dando de ombros.

— PERFEITO! agora eu vou ter que sair correndo pra não perder a bolsa por falta, valeu mesmo  lind.. PIMENTA! - Quando fico nervosa embaralho as palavras.

Quando corria pelos corredores só conseguia ouvir a risada dele ainda na biblioteca, ele não se importava de chegar cedo na aula, acho que a única coisa que liga é futebol. Quase não entrei na primeira aula,minha sorte foi que a professora não estava lá e a sala estava uma completa desordem, consegui me infiltrar sem que ninguém percebesse,a não ser…

— Onde você estava? - Sayuri falou quando encostou no meu ombro.

— Na Biblioteca Sa, não é óbvio?

— Sozinha? 

— SENTEM-SE, AINDA TEM AULA NESSA ESCOLA! - Sempre sou salva de momentos constrangedores pelos gritos de alguém, desta vez veio da voz rouca da Lúcia, a professora velha de história.

      

    Depois das aulas de história, foram duas de física e mais duas de matemática, eu não aguentava mais ver tanto número no quadro e nenhum na minha conta bancária. O Sinal do intervalo tocou e eu não tinha nada pra fazer além de comer o sanduíche de geleia de morango então passear pelo colégio não parecia uma má ideia. A Ala oeste do  não é um lugar que eu costumo visitar, nem os outros pelo visto, não vi quase nenhuma alma viva por lá, a não ser a garota que dançava sozinha na sala de dança, pelo que eu ouvia, quase sempre vazia. Observei de longe por um tempo, ela era negra e tinha longas tranças com as pontas loiras, tenho a impressão de já ter visto o rosto dela em algum lugar, só não lembrava de onde. Ela dançava algo como aquelas danças urbanas sabem? Street dance eu acho, e muito bem por sinal. Quando percebeu que eu estava olhando, parou a música que tocava no rádio e ficou me encarando.

Entre Papos, Gatos & Café Gelado.Onde histórias criam vida. Descubra agora