Primeiro Dia (Caos)

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Sonhos são coisas engraçadas se a gente parar para pensar. Estou falando dos sonhos que temos quando dormimos, é loucura uma pessoa "inconsciente" conseguir criar cenários imaginários,na maioria das vezes (pra mim pelo menos) em uma realidade completamente diferente da sua. Gosto de sonhar, o despertador que não gosta das minhas fantasias e sempre me traz de volta pra onde prefiro evitar antes das nove da manhã, a vida real.

- Bora princesa, a moleza acabou, acorda! - O grito de Mainha me lembrou que a partir de hoje minhas segundas-feiras não seriam mais tão preguiçosas.

- Já acordei Mainha, só não consegui levantar. - Meu cabelo estava bagunçado e grudava na minha boca enquanto eu falava. Estava exausta, a ansiedade não permitiu que eu dormisse antes das duas da manhã e a preguiça não deixava que eu me levantasse antes das nove.

- Se não levantou,não acordou! - Mainha pensava como uma retrógrada.

- Levantei, tá vendo? - Falei enquanto mostrava com os braços que finalmente tinha sentado na cama, não era uma garota completamente levantada, mas já era um começo.

- Bora Camila, sem enrolação hoje amor, eu tenho que chegar cedo e você sabe o horário da escola. - Depois de insistir tanto quanto um CD arranhado, ela cedeu e decidiu me levar de carro, pelo menos, no primeiro dia.

Dei um joinha de olhos fechados pra direção que achei ser a de onde ela estava e depois de uns minutos abri os olhos e vi meu quarto na desordem rotineira dele.
Meu quarto é cheio de posters de cantores, músicas e filmes; as paredes são verde musgo e o chão é coberto por um tapete azul felpudo. A iluminação é uma led que quase sempre é amarela; o lado direito é dividido entre a estante e a escrivaninha e do outro lado tem minha cama e um janelão que faz questão de esfregar na minha cara que o sol nasceu.

Eu fiquei parada só olhando as poeirinhas que voavam e "brilhavam" quando batiam nos raios do sol até lembrar do porquê eu acordei cedo. Me olhar no espelho do banheiro foi um baque pra mim, fazia tempo que não me via tão estranha; o cabelo pro alto e a pele seca acabavam comigo, mas pra isso existe a palavra que alguns evitam (especialmente o doido da rodoviária) banho.


Ouvir Taylor Swift e Cazuza enquanto se arruma é realmente um problema tão grande? Minha perda de noção da hora não tem nada haver com meu gosto musical. Não tem com a cabeça funcionar bem se você leva uma chuveirada de água gelada antes mesmo do sol se dar conta que amanheceu.

- Você não vem?! - Mainha disse enquanto arremessava minha blusa.

- Eu to indo, eu já já termino! - Para uma mulher os mínimos detalhes importam, ela deveria me entender, já que é uma. Tinha me transformado na melhor versão de mim que consegui encontrar, meu cabelo agora estava arrumado e definido, o delineado (que eu fiz três vezes) estava alinhado e minha pele estava bonita e corada, mas não ao ponto de parecer que levei um tapa (eu espero) ainda ia colocar um brilho no canto do olho mas antes que pudesse encostar na paleta eu ouvi a buzina do carro, se demorasse mais um pouco era a lata verde descascada que ia me levar ao meu novo cativeiro.

Como não tinha uniforme ainda tive a liberdade de escolher a roupa; ela se resumia a uma calça boca de sino com estrelas de água sanitária (que eu fiz) e uma blusa verde de manga comprida. Os colares e anéis não importam, não quero ser comparada a outra garota ruiva que descreve coisas inúteis.

- Curso de Teatro Camila, sério? Não tinha nenhum curso melhor? - Minha escolha de curso ainda é um assunto delicado pra conversar com minha mãe, ela não aceita muito bem, acha que a atuação vai acabar me fazendo vender arte na praia. (às vezes também acho)

- Mainha, O Sinal! - Salva pelo sinal verde do semáforo de entrar em mais uma discussão sobre o resto de todo meu futuro.

São Pedro consegue ser bem ambíguo em horário de pico, dependendo do dia as manhãs são mais movimentadas que as noites e vice-versa, hoje por um tempo parecia que só existia eu e Mainha no mundo, as ruas perto de casa estavam vazias e o bar da esquina ainda não tinha começado a tocar músicas sem sentido.(para o bem da população.) As únicas coisas que eu via na rua eram latinhas de cerveja e o resto do que parecia ser bexigas de festa; mas minha teoria de ser a última sobrevivente do planeta junto com a minha mãe foi por água abaixo quando entramos na BR principal, as pessoas e carros começaram a aparecer e a rádio municipal (Bom Dia, São Pedro! FM) começou a tocar.

Entre Papos, Gatos & Café Gelado.Onde histórias criam vida. Descubra agora