Borboleta Magenta

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Quatro. Quatro horas. Quatro longas horas encarando a tela do meu celular, como se fosse um portal para o mundo que eu tanto desejava, mas que agora me parecia tão distante. Cada notificação vibrando, cada mensagem chegando, meu coração dava um pulo. Era Lorena? Finalmente ela ia me explicar aquela conversa estranha? Ou Pimenta finalmente contaria mais detalhes sobre aquele beijo alcoólico de sábado?

A verdade é que eu não sabia o que queria. Uma parte de mim ansiava por respostas, por clareza. Outra, preferia me afogar na negação, fingir que nada havia acontecido e seguir em frente. Mas como fazer isso? As imagens do beijo, da mão de Pimenta em meu rosto, da sua boca na minha, me assombravam como fantasmas em um loop incessante. Por mais que o álcool tenha facilitado o caminho minha boca não teria se juntado a dele se eu não quisesse.

Mas, decidi faltar à escola. Não aguentava enfrentar os olhares curiosos, os cochichos maldosos, as piadinhas sem graça. No colégio, eu era apenas mais uma cara na multidão. Mas agora, com o beijo do Loiro, eu me sentia diferente, exposta e até um pouco vulnerável. Talvez um dia, bastasse um dia para que todos esquecessem. 

(Acho que já tá bom esse assunto do beijo)

Afinal, quem liga para o drama de uma garota que nem é popular? Mas por enquanto, eu precisava de um refúgio, um lugar onde pudesse me esconder da realidade e das minhas próprias emoções. E esse lugar era o meu celular.

Mas os celulares tem um defeito, a bateria acaba.

Então desci e encarei a TV da sala por um bom tempo vendo um vídeo do meu musical favorito, Wicked (Eu espero muito que o filme não seja uma decepção) e fiquei lá até Nala lamber minha cara, me acordando em um horário que parecia algo perto das uma da manhã.

Algum horário da manhã – Luz do sol na minha cara – Não faço ideia de como tá o céu.

— Nossa, ela fica feia dormindo né mãe? - Ouvi a voz daquela pequena de cabelo castanho perto da minha cama.

— Deixe sua Tia Helena, vem, jajá ela acorda. - Vi Ana Clara pelo vulto da minha visão de olhos quase fechados.

— Dormiria se vocês não falassem tão alto. - Falei esfregando os olhos e ri com uma risada fraca.

— BOM DIA TIA! - Helena falou saltando em cima de mim. 

— Bom dia amorzinho, como você tá?  - Arregalei os olhos um pouco confusa, mas logo correspondi o abraço.

— Tô bem, a gente veio buscar você hoje, né mãe? - Helena falou olhando pra minha irmã 

— Sim, mas se  arruma rápido Camila, não posso me atrasar.

— Bom dia pra você também Ana Clara.

Eu estava quase calçando o sapato pra pegar meu trocado pro lanche do intervalo e sair pra não perder a carona da minha irmão quando eu reparei um serzinho pequeno me olhando de cima a baixo de dentro do quarto.

— Tia, deixa eu te perguntar uma coisa…- Ela perguntou com um olhar sério enquanto segurava Pepita no colo, isso me lembra Mainha no mês passado, tal vó, tal neta.

— Oi? Pode perguntar. 

— Você anda beijando em baladas? - Meu coração gelou.

— COMO?! - Soltei um grito desesperado - De onde você tirou isso?!

— Essa daqui é você não é? - Ela falou mostarando o celular rosa com a capa de coelhinho, era possível que a foto daquele maldito do Caíque tem chegado até a minha sobrinha.

— Quem te mostrou isso?!

— Minha amiga da escola.

— Apaga isso por favor titia. - Falei com um sorriso nervoso, meu olho tava quase piscando.

Entre Papos, Gatos & Café Gelado.Onde histórias criam vida. Descubra agora