Punição

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Abrindo os olhos, uma dor latejante atingiu minha cabeça, olhando em volta percebi que estava em uma espécie de enfermaria. Minha garganta estava seca e eu sentia uma certa ardência na minha boca. Toquei meu rosto, sentindo um curativo na minha maçã do rosto.

Me lembrei rapidamente do que aconteceu noite passada e quis enterrar meu rosto no travesseiro de tanta vergonha, acho que a bebida me deu mais coragem do que eu precisava.

O que Francis deve pensar de mim agora? Eu estraguei todas as chances que eu tinha!

Argh...

Eu não estava tão bêbado ontem para ter um surto, não achei que aquilo fosse acontecer de novo... Por um instante, cheguei a pensar que eu finalmente estava curado, consegui me controlar por tanto tempo, mas parece que eu estava errado sobre isso, felizmente não fiz nada grave...

Mas por que justo agora?! Justo quando finalmente estava recomeçando! Eu finalmente estava tendo uma vida normal, consegui passar 6 meses sem agredir ou matar ninguém, então por que agora?

Meus pensamentos foram interrompidos, quando ouvi a porta da enfermaria abrindo e um homem entrando.

Ele usava um terno escuro, cabelo penteado para trás e parecia muito profissional com seu crachá no peito e prancheta em suas mãos.

Esse era o homem que cuidou da minha contratação, Karl Heinrich. Ele pode ser considerado uma espécie de diretor de RH. Ele era o tipo de cara que falava muito, quase como um professor de faculdade dando uma palestra muito longa.

Me senti nervoso com o olhar sério dele e baixei a cabeça, me preparando para o sermão que eu iria levar.

Olhando para meu colo, ouvi um longo suspiro vindo dele.

— Mikhael, vou ser direto. Os superiores estão bastante insatisfeitos com a sua recaída, entretanto, você não será demitido. Você deve imaginar o porquê, não há tantas pessoas competentes para este trabalho e muito menos pessoas que estejam dispostas a se arriscar nisso.

Eu assenti com a cabeça, eu sabia muito bem disso, quem iria querer se candidatar a uma vaga onde você pode morrer de forma brutal no final do dia?

— Sim, eu sei. — murmurei, minha voz saindo mais rouca que o normal.

Karl se sentou na cadeira ao lado a cama em que eu estava, então prosseguiu.

— Quando contratamos você, decidimos ignorar o seu histórico criminal e sua condição mental, porque nós estávamos precisando de um novo porteiro urgente, então não nos importamos de pagar um preço por você, mas espero que o que aconteceu ontem não se repita. Você não irá receber uma punição pelo o que ocorrido, pois, nas câmeras é nítido que, dessa vez, não foi você quem começou, foi o inquilino Angus Ciprianni que lhe provocou.

Ouvindo a citação desse nome, apertei meus punhos, tentando controlar minha raiva. Eu sentia a necessidade de matar ele.

Karl pareceu notar a minha reação, pois logo em seguida disse:

— Escute Mikhael, mesmo que você não vá receber uma punição, devo te avisar que se por algum acaso, o inquilino Ciprianni aparecer morto repentinamente e terem indícios de que foi assassinato... Você vai receber mais do que uma simples punição, entendeu?

Me senti mais irritado quando ouvi isso, mas balancei a cabeça novamente.  Sei que se eu não me controlar, definitivamente o que vai acontecer comigo é pior do que morrer.

— Sim, entendi... É só isso, senhor?

Karl não disse nada por um tempo, então tocou meu ombro.

The Milkman | That's not my neighbor Onde histórias criam vida. Descubra agora