Talvez um pouco preocupante

834 101 202
                                    

— Do que você tá falando, franguinho? Ninguém vai te matar, vim apenas buscar o que me pertence...

Ouvindo aquela voz profunda e familiar, eu abri os olhos sem acreditar que era realmente quem eu estava pensando, mas o que vi foi muito diferente do que eu imaginava. Por causa da luz do sol atrás dele, não tive uma visão clara de sua aparência, os raios solares que passavam direto por ele e me alcançavam tornavam difícil para visualizar, mas uma coisa era certa.

Ele estava na forma real dele.

Embora não pudesse ver com clareza, eu ainda conseguia ver algumas das características dele e isso me assustou. Ele era alto, mais alto do que um humano considerado alto poderia ser, seu corpo era esguio e sua pele parecia ser lisa e de tonalidade cinzenta. Eu era capaz de sentir o cheiro de sangue vindo dele e pude ver nitidamente algo pingando lentamente de seus lábios.

Eu já havia presenciado muitas coisas na vida, mas tenho certeza que nunca senti tanto medo quando agora. Mesmo que eu tivesse a garantia dele de que eu não seria morto, não é como se eu pudesse pensar nisso com clareza quando entrei em pânico ao ver a forma real dele.

Não consegui mais olhar pra ele e virei o rosto, só percebi naquele momento que eu estava tremendo, era como se meus ossos tremessem junto a mim e eu não conseguia controlar isso. Eu estava com medo e me sentia péssimo por isso, mas não era algo que eu pudesse evitar, saber que você está na frente de algo que poderia facilmente te matar em um piscar de olhos pode tirar toda a sua razão, principalmente se você já provocou e irritou esse "algo" alguma vez na vida.

Não sei quantos segundos ou minutos passei assim sem olhar para ele, tentando não pensar de que forma horrível eu morreria e falhando miseravelmente, mas fui trazido de volta a realidade quando senti um toque macio de uma mão em meu rosto. Apertei os olhos, não querendo olhar, mas logo percebi que o toque parecia humano e não consegui assimilar com a textura da pele que vi antes, ainda assustado, eu abri os olhos e olhei para quem me tocou.

E era Francis...

Ok, não era bem ele, mas sim o doppelganger que gostava de usar a aparência dele.

— Você se machucou? Eu deveria ter planejado melhor o impacto que causei na van, mas não pude me controlar, estava ansioso para te ver de perto e te tocar...

Ele estava sorrindo como sempre fazia e me senti mal por ele, por causa da reação que tive, sei que ele ignorou minha reação propositalmente e usou a aparência de Francis para que eu não ficasse tão assustado...

Espera!

Por que caralhos eu sempre acabo de um jeito ou de outro achando tudo isso normal?! Urgh... Não consigo pensar direito... Essa dor de cabeça piora tudo! Por que sempre me sinto assim quando ele conversa comigo? Sempre acabo humanizando ele, quando nem mesmo um ele é.

— Por que não está me respondendo, coisinha? — ele me puxou pelo queixo, fazendo com que eu o olhasse nos olhos.

Não consegui responder ele imediatamente, pois, senti um rubor subindo por meu rosto quando observei aqueles olhos. Nunca havia visto aquele olhar nele, era um olhar profundo, mas ele parecia concentrado, concentrado em meu rosto... E eu nem podia me afastar, pois, simplesmente estava preso numa camisa de força!

Não que eu quisesse me afastar, é claro, mas o constrangimento me fazia ter esse impulso de querer fugir. Me senti patético, era minha primeira vez sentindo isso em relação a um olhar.

Porra, parecia como se ele estivesse me comendo com os olhos...

Não importa em qual sentido seja, eu não gostei nada da idéia.

The Milkman | That's not my neighbor Onde histórias criam vida. Descubra agora