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                          PIPER MCLEAN

     Quando se cresce tão cercada de pessoas mas, ao mesmo tempo, tão sozinha, se torna um padrão ter comportamentos de rebeldia para chamar atenção. Pelo menos foi isso que a psicóloga falou ao meu pai, o famoso Tristan McLean, antes de anunciar a minha expulsão do colégio.

     O Instituto Júpiter Para Meninas (IJPM), era nada mais nada menos que o maior e mais caro colégio interno de Nova York, também sendo a sexta instituição de ensino da qual sou expulsa em 16 anos.

     Meu pai nunca forá muito presente, sua desculpa é que sempre está indo atrás de garantir o melhor futuro para mim. Como que me fazer crescer sendo criada por babás, perseguida por paparazzis, e sendo alvo de revistas de fofoca eram o melhor para mim eu não sei.

— Eu já me desculpei, vai mesmo continuar me ignorando? — quebro o silêncio que se fazia presente desde que saímos do campus da IJPM, o que já fazia mais de quarenta minutos. — Sério, pai?

     Suspiro com o castigo do silêncio, não esperava que depois do que fiz fosse receber abraços calorosos e palavras orgulhosas, mas, considerando que era a segunda vez em que ele aparecia após uma expulsão minha, esperava ao menos receber uma bronca. Um grito. Qualquer tipo de contato.

— Eu não acredito que você se deu ao trabalho de aparecer somente para me ignorar. — provoco, o encarando dirigir concentradamemte. — Era mais fácil ter mandado a Jane, ela pelo menos é paga para fingir que se importa comigo.

— Jane é paga para ser minha assistente pessoal aqui em Nova York, não para ficar cuidando das suas birras infantis. — Me surpreendendo, assim como me surpreendi quando vi que ele estava sem o motorista, meu pai quebra seu silêncio me dando uma resposta seca.

— Isso não pareceu te impedir nas últimas quatro vezes que ela apareceu. — rebato, cruzando os braços. — Ou quando ela veio em todas as reuniões de pais, apresentações, palestras...devo continuar, papai? Cuidado, a lista é grande, vai acabar tendo que triplicar o salário dela por tanta hora extra.

— Piper! — sinto a raiva em seu tom quando me repreende, parte de mim desejando que essa raiva seja dele mesmo. — Apenas cale a boca, não quero ouvir mais sua voz.

— Não me surpreende, minha voz deve te trazer o sentimento de culpa pelos oito meses que ficou fora sem ao menos me fazer uma ligação. — continuo, ignorando totalmente a ordem. — Me diz, ela ainda é como o senhor se lembrava, pai?

     Observo os dedos da mão do meu pai ficarem brancos de tanta força que ele usa para apertar o volante. Não recebo nada além de um olhar repreensível, o que já foi mais do que ganhei em muitos meses. Por fim, desisto da minha batalha perdida e encosto a cabeça no encosto do banco de coro, observando pela janela enquanto o sol se preparava para trocar de lugar com a lua.

                                      🩶

     Sinto o meu corpo dar um espasmo assustado quando o carro balança de forma levemente brusca. Aperto meus olhos algumas vezes e bocejo, observando que já estava escuro lá fora. Sinto o gosto na minha boca denunciar que dormi por bastante tempo, o que me faz estranhar o fato de ainda estar em movimento.

— Pai, já não deverí... — viro o rosto para o banco do passageiro vendo uma morena de cabelos cacheados dirigindo, arregalo meus olhos, assustada. — Jane?

— Oi, querida. Dormiu bem? — seu tom era doce, como de costume, e seu sorriso denunciava um "sinto muito" que me fez soltar um suspiro frustrado — Ele precisava voltar para o estúdio.

— Sem ao menos se despedir? — luto contra o tom decepcionado, já não fazia mais sentido depois de tanto tempo. — Ele pelo menos vai jantar em casa?

     A assistente fiel do magnífico Tristan McLean me olhou por alguns segundos, desviando o olhar da estrada, enquanto parecia ponderar sobre a melhor maneira de me falar o que precisava.

— Já entendi, ele não vai. — digo, tentando não soar magoada. — Tudo bem, vamos ser nós duas então. Como sempre. Mal posso esperar para te contar o que aprontei dessa vez.

— Por mais que eu esteja louca para ouvir sobre o que você andou fazendo, mocinha, estamos sem tempo. — ela fez uma pausa, lutando para manter o sorriso nos lábios. — Precisamos chegar logo na pista de voo, o piloto já está nos esperando.

— Como? — arqueeio as sobrancelhas sem entender do que Jane está falando. — Vamos para algum lugar encontrar com meu pai?

— Não, não exatamente. — ela suspira, parecendo devastada. — Estamos indo para a Malibu, Piper. Tenho ordens do seu pai para te levar para um novo colégio.

— Na Califórnia?

     Sinto o ar se tornar pesado de respirar, meus pensamentos repetindo um "acorda, acorda agora!" a fim de me fazer despertar de um pesadelo. Mas não era um pesadelo. Era real. E cada momento que se seguiu foi real.

     A notícia, o choro, eu tentando me jogar do carro em movimento, tentando fugir da pista de voo. Dentro do pequeno avião particular, tentei ligar várias vezes para o meu pai, mandar mensagens, porém, como sempre, não obtive resposta. Era real, eu estava sendo mandada para longe de casa.

     Eu estava sendo abandonada pela pessoa que deveria me amar incondicionalmente.

Losing Game - Jasiper Onde histórias criam vida. Descubra agora