Capítulo 2 (Trevas e Luz não Se Misturam)

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       Uma vida só é o que pensam que temos. Passei por tantas outras e a cada dia que se passava, eu pensava que essa seria a minha última nessa existência. Talvez o meu último aprendizado nessa terra.

Os anos foram se passando e eu já estava em iminência à adolescência. As mães de meus colegas do bairro onde morava as proibiam de brincar com a estranha menina que era vista como esquisita e como Maria macho. Como se deduzia. Devido a isso não tive muitos amigos. E como insisto em dizer; o ser humano rejeita aquilo que não compreende, faz parte da natureza deles.

Porém enquanto as rejeições aconteciam, minhas visões se tornavam cada vez mais constantes e junto, vieram os pesadelos. Ora bons e ora ruins. Era muito complicado fingir que gostava desse corpo e o aceitava. Minhas necessidades de sentir como homem e agir como tal, se tornaram um fardo em minha vida. E principalmente a de ter uma companheira. Ficava por horas na frente do espelho na expectativa que fosse me revelar o meu verdadeiro eu, almeja esse desejo a todo instante. Até que esse dia chegou. Foi na época do Dia dos Namorados e estava à frente do televisor quando algo me surpreendeu. Uma propaganda de um perfume em que o foco era o referente dia comemorado é claro, me surpreendeu ao avistar a espantosa figura. Observei um belíssimo rapaz de olhos estonteantemente azuis e cabelos negros. "lindo de morrer".

No mesmo instante cai em prantos

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No mesmo instante cai em prantos. Entendi que aquele rosto era o meu. O meu corpo, eu o queria muito. Não era justo, pensei... Que tipo de crueldades fizeram comigo.

Desde então fiquei... Não digo obcecada. Mas esses adjetivos passaram a ter a minha total atenção.

De certa forma isso me deixou confortável. Mais tranquila com o tempo. Contentei-me que, um dia havia sido belo e que me contentaria com ao admirar a beleza dos outros.

Como um rio seco e sem vida, mamãe me tratou ao longo dos anos. Levava surras por quaisquer motivos. Mas também por conta da bebida.

Papai nunca foi um homem muito digno. Teve várias mulheres, vivia enfurnado em jogatinas e cada vez bebia mais e mais e consigo arrastava mamãe. Passávamos horas sem comer eu e meu irmão. Porém, embora com os estômagos vazios, esse devido tempo nos servia suficientemente para concluirmos que tipo de homem e mulher, que deveríamos não ser.

Uma coisa era certa, jamais deveríamos seguir seus exemplos ordinários.

Sabia que em outras vidas, havia sido ferida, mas nunca alguém me deixou tão ferida quanto mamãe. Ela me culpava por algum motivo que é muito difícil de compreender. A culpa por ter nascido uma criança diferente, culpa por ter os cabelos dourados e culpa por ser parecida com a última amante que papai arrumou.

Confesso que dona Eleonora, por muitas vezes "testou meu réu primário." E acredito que recíproca seria verdadeira. Mas porque eu era culpada? Como uma criança teria uma sentença tão banal assim?

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