Capítulo 9 ( Entre a cruz e a espada)

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            Quando eu era uma jovem garota, uma das coisas que mais me encantava, e tocava minha alma com um sentimento especial era a época de Natal. Lembro-me claramente que nessa ocasião a minha família se aproximava ainda mais.

Minha avó decorava a casa, e eu e Carl montávamos a nossa humilde árvore de Natal. Embora fosse apenas um objeto simples, com galhos de plástico e algumas bolinhas de vidro, para nós tinha um significado muito maior e uma visão mais profunda. Meu pai adorava chegar do trabalho e nos presentear com algumas moedas escondidas pelos cômodos da casa. Sem pensar duas vezes, saíamos em busca do tesouro. Minha mãe achava tudo isso maravilhoso e ficava imensamente feliz por nós. Tivemos esses momentos especiais em nossas vidas até completarmos entre oito e dez anos de idade.

Contudo, após esse período, o Natal já não era mais o mesmo. A lembrança que permanece em minha mente é bela e reconfortante. Lembro-me também que, ao cair da noite, eu corria para a calçada da casa e ali ficava ansiosa esperando pelas luzes do vizinho da última rua. Ele tinha um imenso pinheiro, quase seis metros de altura, completamente decorado com luzes coloridas. Eu desejava ardentemente que um dia o nosso Natal tivesse uma árvore tão grande e brilhante como aquela. O tempo passou e as coisas mudaram, é claro.

O Natal já não era mais o mesmo. Nossa família se dividiu ao longo do tempo, e cada um passou a ter outros compromissos. De acordo com suas prioridades, alguns preferiram passar o Natal com os amigos, na igreja ou em qualquer outra atividade que nos separava. Assim, perdemos o verdadeiro significado da data: a união familiar, o amor e a paz. Essas grandes virtudes foram deixadas pelo nosso mestre Jesus, e é isso que ele realmente gostaria de ver. A árvore da última rua também deixou de existir, substituída por um cantinho para churrasco. No entanto, nunca perdi a esperança e a fé.

Quando completei 23 anos, alguns dos meus desejos, que fizeram uma grande diferença não apenas na minha jornada, mas também na vida dos meus irmãos, se tornaram realidade.

Mamãe e papai abandonaram completamente seus excessos materiais. Não bebiam e não fumavam. Uma felicidade para nós, proporcionada por um derrame e um tumor benigno. Infelizmente isso precisou acontecer para que os dois tomassem uma decisão em suas vidas antes que fosse tarde. Mesmo eu sentindo dor horrenda em meu peito ao ver papai jogado em uma maca no corredor do hospital e sem nada poder fazer, no final valeu à pena. Enquanto a mamãe, seu diagnóstico foi bem preciso; ou ela parava de fumar e de beber ou como dizia ela era, o "caixote" seu fim.

Mas graças a Deus e com sua imensa misericórdia, eles aprenderam a lição. Seus hábitos mudaram muito e como consequência, isso se refletiu em nós. Estavam mais amorosos com a vida, com as pessoas. Ocasionalmente tinham longas conversas com sua filha estranha. Passávamos tardes divertidas em família, levando-me a crer que por um "breve" momento pensei que poderíamos ser como uma família modelo. Tipo aquelas dos comerciais de margarina.

E foi exatamente como o que aconteceu. Breve, momentâneo e passageiro. Tínhamos o certo perfil de família, mas ainda faltava algo. A estabilidade financeira.

Carl e eu ajudávamos com as despesas da casa, no entanto o dinheiro não era suficiente para todas.

Papai ainda trabalhava como coveiro, mas o aluguel da casa em que morávamos era muito alto e já não tínhamos mais condições de arcar com o preço e por fim não deu outra, voltamos a morar novamente com a vovó.

Certamente os sonhos de mamãe não eram esses. Casar-se com um grande homem dotado de altos dotes seria a vida perfeita. Porém, o sonho não se concretizou, e por fim seu príncipe não passava de um sapo.

A vizinhança já sabia do acontecido, é claro. Entretanto já não éramos a principal atração. Com o tempo ficamos fora de moda. O assunto já era outro, algo mais peculiar e sombrio ocupou a mente dos fofoqueiros de plantão.

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