Ao bater no portão, ouvi passos se aproximando. Noah chegou junto com mamãe, tia Gal e papai. Corri para recebê-los, e Carl logo foi ao encontro da mamãe. Tia Gal observou a sala, notando o sofá rasgado, e lamentou internamente por nossas condições. E consigo, trouxe doações da igreja que frequentava: mantas, fraldas, roupas e até mesmo mantimentos. Fiquei encantada com meu pequeno irmão, tão frágil como um cristal. Peguei suas mãozinhas e acariciei, dizendo em meus pensamentos: "Seja bem-vindo, meu irmão. Essa será sua nova família, e que sua jornada seja mais doce do que a minha."
Um imenso amor preencheu meu coração. Noah irradiava uma luz tão forte que pareciam faróis de xenônio. Tornei-me sua protetora, e Carl agia como se fosse seu pai. Sempre que conseguia um dinheiro na rua, Carl logo comprava leite e comida para nosso irmão. Infelizmente, nossa situação econômica só piorava, e papai não conseguia se manter em nenhum emprego. Era difícil, pois ele não tinha boas recomendações e a falta de educação formal era um obstáculo.
Isso me lembra a época em que ele jogava muito e ganhava muito também. Às vezes, ganhava dinheiro, outras vezes seu prêmio era em forma de gado, galinhas ou bodes. No entanto, na mesma frequência em que ganhava bastante, ele perdia rapidamente, gastando com bebidas e festas.
Em uma dessas ocasiões, ele me deu de presente uma porquinha que nomeei de Agnes. Agnes se tornou meu animal de estimação favorito, e me divertia muito com ela. No entanto, a felicidade de uma garotinha com fome dura pouco tempo, e em questão de minutos, acabei saboreando sua carne suculenta, sem sentir culpa. "Que desgraça", pensei. Mas a carne era tão gostosa e macia... e eu estava com muita fome. Então, senti-me perdoada.
Por um breve momento, experimentei uma satisfação plena. E, com certeza, Agnes era a única que poderia nos alimentar. "A sorte abandonou papai há muito tempo."
A desgraça só aumentava gradualmente. Noah chorava dia e noite, e todo o leite que mamãe lhe dava ele vomitava. Passamos muito tempo indo e voltando de hospitais, até descobrirmos que ele sofria de um distúrbio gastresofágico, conhecido como refluxo. Embora seja comum em bebês, para uma família pobre, era quase fatal.
Eu sabia que ele sobreviveria, mas teria que enfrentar essa enfermidade. Mesmo sabendo disso, como poderia deixar de me entregar a um irmão? Era uma parte de mim ali, indefesa. Embora soubesse que tudo acabaria bem no final, a parte humana em mim tinha medo e desconfiava dos homens. A família toda se prontificou a ajudar, e foi assim que testemunhei o afeto crescendo cada vez mais dentro dessa família. Esse bebê era uma enorme bênção na vida de todos, e foi através da dor que o amor floresceu.
Vovó se dedicou totalmente a ajudar seu neto, acompanhando-o em todas as consultas médicas. Ela fazia novenas pela sua recuperação e, ao olhar diretamente em seus olhos, não conseguia conter as lágrimas e o pegava no colo. Correntes de orações foram criadas, e todo o amor que mamãe sentia por papai naquela época foi direcionado apenas para uma pessoa: Noah. Ele se tornou seu grande amor, na verdade, o amor de todos nós.
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AS 33 VIAGENS D'ELLA ( DIAMANTE BRUTO) LIVRO 1/LGBT
Paranormal"Nas sombras do desconhecido, entre o limiar da vida e da morte, encontra-se Ella de Orleans, uma alma marcada pelo destino. Dotada de poderes além da compreensão humana, ela é capaz de viajar entre dimensões, desvendar mistérios ancestrais e dialog...