CAPÍTULO 1

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Em Green Valley..

O sol raiou lindamente no horizonte, como de costume, o tom alaranjado surgia de maneira estuporante, quase denunciando que o dia de hoje provavelmente seria quente, a garoa presente em todas as folhas, das vastas variações de plantas da fazenda, os animais já davam sinais de que estavam despertados, as vacas já mugiam do curral, assim como as galinhas se amontoavam para sair do poleiro, os porcos roncavam dos seus chiqueiros lamacentos, os sabiás e as maritacas cantavam lindamente a sinfonia de todas as manhãs.

Os peões levantavam cedo, antes mesmo do sol raiar já estavam de pé em suas atividades.

De longe já dava para sentir o aroma devastador do bolo de laranja que Amélia preparava da grande cozinha da fazenda. Junto com o café miúdo e passado na hora.

-Não, eu não tenho curiosidade de saber minhas origens. Se me largou, é porque não me queria, ora! Fica todo mundo me enchendo as paciências, graças a Deus já tenho tudo o que um ser humano precisa pra ser decente. Trabalhar nesta fazenda é praticamente tudo o que eu conheço do mundo e tá de bom tamanho.

-Esse negócio de luxúria e ganância, não é comigo não, eu só quero uma vida tranquila sabe? Uma terrinha pra plantar, um lugar onde eu possa descansar as costas, sem passar por cima de ninguém.

-Amor? Namoro?... De complicada já basta eu, também não tenho paciência. Amélia quer que eu case, disse que já estou passando da idade..

-Besta mermo...

-Quer que eu pegue uma dessas moças aí e traga pra morar na fazenda, fazenda nem nossa é, como vou trazer alguém pra viver no que não é meu?

-SAMANUN??

-Lá vem..

-Samanun, minha filha... (Amélia chegou no curral, enxugando as mãos no pano de prato) Não acredito que você está conversando com essa vaca de novo, Samanun.. (A mais velha negava com a cabeça incrédula)

A essa hora o resto do gado estava na ordenha mecânica com os outros peões, mas Sam fazia questão dela mesma ordenhar manualmente a vaca Catarina.

Sim, o nome da vaca era Catarina e, a própria Samanun a colocou esse nome. Ela tinha carinho por todos os animais da fazenda, mas nutria um carinho especial por Catarina, a vaquinha de porte pequeno, raça Jersey e cor de caramelo.

Se levou da banqueta de ordenha, abriu a porteira para liberar a vaca.

-Vai lá, amiga.. (Alisou o pelo do animal antes dela sair do curral)

Samanun olhou de relance para a mãe, antes de pegar o balde com 8 litros de leite, do esterco.

-As vezes eu acho que gosta mais dessa vaca, do que da sua própria mãe.. (Amélia cruzou os braços vendo a filha caminhar em sua direção)

-Deixa de drama mulher.. (Ela sorriu e entregou o balde para a mãe por debaixo da madeira)

-Venha logo tomar café, está enfiada nesse curral desde que o sol raiou, fiz bolo de laranja..

Era o bolo predileto de Samanun e, Amélia sabia bem isso.

-Tá certo. (A mais nova pulou a porteira e começou a caminhar ao lado da mãe)

-Preciso que vá a cidade para mim, está faltando algumas coisas na cozinha.

Amélia se referia a pequena cidade, centro da região, não era tão longe assim da fazenda, lá moravam menos de 3 mil habitantes e estava resumida basicamente a igreja, um mercadinho, o bar do seu Jorge, uma escola, um açougue, prefeitura, um postinho, uma loja de vestuário e um cabaré.

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