Green Valley

CAPÍTULO 11

Em Green Valley..

POV| MON

Está chovendo em Green Valley essa noite. Eu não gosto de dias chuvosos, na verdade só o barulho dos pingos contra o telhado já me deixa em estado de agonia.

Me remexo na cama, até esticar o braço para alcançar o meu celular que descansava em cima da cômoda, 22:49 se destacava na minha tela de bloqueio e abaixo uma das fotos do meu carrossel de wallpaper, a foto da vez é uma em que estou com Yuki em Miami. 

E nessa hora que sinto ainda mais falta da minha amiga, em como ela sempre fica em ligação comigo por horas só porque está chovendo. Yuki é a única pessoa além do meu pai e de Richie que sabem desse meu pequeno “trauma”, não sei nem se posso denominar assim.

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Eu iria completar cinco anos quando aconteceu e Richie três.. Uma criança dessa idade não se lembra de muita coisa, mas posso afirmar que memórias significativas, ainda mais memórias dolorosas, até uma mente infantil pode guardar muito bem.

E eu guardei.

Estava chovendo muito lá fora, e a tia Mea tinha acabado de me colocar na cama, depois de um lanche noturno delicioso e uma história que sempre acabava da mesma forma “e viveram felizes para sempre”.

A babá tinha se esquecido de fechar as cortinas do quarto, então da cama eu observava os pingos baterem no vidro das janelas e escorrem lentamente, esperando o sono vir.

Mas ele não vinha. Parece que algo estava me mantendo acordada.

Fechei os olhos tentando induzir o meu corpo a dormir, mas no exato momento que faço isso ouço vozes alteradas vindo do térreo, é como se essas vozes antes estivessem abafadas por uma porta e agora foram liberadas. 

Vozes que conheço muito bem, minha mãe e o meu pai.

Mas.. está tão alto. Eu já ouvi os meus pais brigando antes, mas agora é diferente.

Me sentei na cama para calçar minhas pantufas de unicórnio, e com cautela sai do meu quarto, passei pelos corredores até chegar nas escadas que davam acesso a sala, me agachei ali mesmo quando vi os meus pais saindo do escritório, os dois alterados.

-Você vai ter coragem de largar o seus filhos, Débora? (Nunca ouvi o meu pai chegar a gritar antes)

Alberto Armstrong ainda estava com roupas sociais o que indica que ele chegou da empresa e foi direto para o escritório, permanecendo lá até agora.

-Seus filhos, Alberto. Você os queria, eu dei, agora deixa eu seguir a minha vida!

Eu ainda não entendia muito bem o peso dessas palavras, até entender o que veio depois e com o passar dos anos.

-O Richard não tem nem três anos ainda, a Mon.. eles precisam de uma mãe, como pode fazer isso sem remorso algum?

-Alberto, menos, sem drama..

-Eu não entendo, eu não consigo entender. Você se casou comigo, tivemos filhos.. e agora você quer nos abandonar?

-Você conseguiu o que queria, me tirou da minha vida, da minha carreira de modelo, eu aceitei me casar com você por saber que me daria uma vida luxuosa… olha para isso aqui (Abriu os braços querendo se referir a casa) e foi bom no começo, foi maravilhoso no começo, mas foi ficando entediante. Essas crianças acabaram com o meu corpo, acabaram com a minha paz..