Drómo Gia Ton Paraideis

capítulo 6

Diante do breu que se perdia por toda parte, senti a brisa do vento na minha pele e, com ele, o som de leves risadas viajando pelo ar. Meio confuso e desorientado, lentamente fui abrindo meus olhos, esses aos quais nem percebi que havia fechado. Sem saber direito o que estava acontecendo, afinal, não era para eu estar morto?

Em uma reflexão tardia, minha mente finalmente processou a informação de que o machado estava a poucos centímetros do meu pescoço, enquanto a elfa, à minha frente, esbanjava um sorriso de diversão no rosto, claramente zombando do meu estado de medo. Meu corpo inteiro dava leves tremores, não ousando mexer um único músculo, devido ao choque, podia sentir meus lábios abrir e fechar tentando formular alguma frase, somente para as palavras fugirem antes mesmo de qualquer som ser produzido e, tudo que passava pela minha mente era:

"Mas que diabos...?"

Então a elfa, diante do meu estado estático, em instantes escureceu seu olhar e, transformou sua risada zombeteira em um sorriso gélido.

-- Que foi? Até parece ter visto um fantasma, João... Ou talvez foi um machado...?

Saindo do meu estupor, franzi o cenho com aquilo, a incredulidade e a raiva tomaram posse de mim, fazendo com que se rompesse a barreira que mantinha todo meu estresse e sentimentos sob controle, toda minha angústia e fúria saíram em ondas violentas, subjugando todo meu medo, sem nem pensar nas consequências simplesmente mandei tudo pro escambau, e respondi:

-- Tá doida!? Tá querendo me matar?

A elfa me olhava com um olhar entediado, sequer se abalando pela explosão, simplesmente disse, dando de ombros:

-- Não seja tão dramático.
-- Foi só um teste pra descontrair. E você falhou miseravelmente.

Nesse momento eu já estava indignado, fala sério um teste? só se for teste do meu ovo, tá achando que eu sou o quê?! uma caça para você ficar brincando antes de matar!?!
respondi aquilo sem nem sequer tentar esconder a indignação na voz.

-- Teste? Que tipo de teste é esse?

-- Um teste de reflexo e coragem, obviamente. E pelo visto, você não tem nenhum dos dois.

Disse ela terminando com um sorriso de escárnio, fazendo-me fungar pelo nariz, ficando cada vez mais alterado.

-- Ah pronto!! Se tá de brincadeira com minha cara!
-- Medo? Eu?!

Gritei já perdendo o resto de autocontrole, nessa altura do campeonato, meu rosto já estava mais vermelho que um pimentão de tanta raiva.

-- Você não sabe do que sou capaz!

A elfa apenas riu, um som cortante como uma lâmina afiada.

-- Você que pensa. Pelo que vi ontem... Você é um ótimo saco de pancadas.

Sem dar chance para argumentos, a elfa pressionou o machado no meu peito e se virou em direção à floresta, e disse:

-- Agora, pare de se lamentar e vá cortar lenha. Temos suprimentos para repor.

Vendo ela sumir de vista, apertei os punhos, resistindo ao impulso de socar a parede. Encarei por um momento onde a das orbes prateadas estava a poucos instantes, meus olhos faiscando de indignação. Então, com um suspiro pesado, virei as costas e fui cortar logo a merda da lenha.

-- Eu mostrarei a ela

murmurei pra mim mesmo enquanto me posicionava diante da tora no chão, apertando o cabo do machado com força, o levantei no ar com um pouco de dificuldade, devido ao peso ser maior do que esperava, e disse:

-- Eu vou provar que não sou fraco.

Usando toda minha força e raiva que estava sentindo naquele momento, dei o primeiro golpe que imediatamente partiu a tora em dois. Fiquei sorrindo orgulhoso do meu feito por um momento, até perceber que o machado ficou preso no tronco de apoio, e lá fui eu pagar pelos meus pecados para desengatar aquilo. Enquanto isso, a alguns metros de distância, escondida atrás das árvores vendo aquela cena ridícula, a elfa observava com um sorriso satisfeito no rosto. Depois de um momento parada ali, ela se virou e saiu, preparando-se para sua própria tarefa: caçar.