capítulo 7

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No dia seguinte, já começamos com o belo som da praga daquele gongo vibrando pelo ar. Parece que vai virar rotina ser acordado assim, e de bônus, teve aquela opressão básica, sabe? Suspira...

"Ok, ontem eu prometi para mim mesmo que ia fazer de tudo para tornar essa convivência agradável, e, não vai ser meu mal humor por não ter dormido direito à noite que vai estragar isso."

Com certa moleza, saí da cama e fui fazer minha higiene pessoal. Na volta, tomei o café da manhã (leia-se, fiz um teste de resistência). Teve aquela sopa radioativa, só que hoje ela estava com uma coloração preta e bem mais amarga e picante. Enfim, saí para cortar o resto da lenha, a Poláris seguindo logo atrás, indo cuidar da horta de tomates com a cara do Satanás, troço tenebroso, credo. Ela parecia bem cansada, se as olheiras na pele parda dela fossem alguma indicação. O que me faz pensar... Será que ela é mestiça? Deixando isso de lado, peguei o machado, e gente, ontem eu nem tinha reparado, mas olhando assim de perto parece que tem umas runas entalhadas no cabo. Pra que serão elas? Ok, voltando à tarefa, cortei as toras em partes menores e as transferi para o tronco de apoio, dividindo no meio cada uma. Voltei a repetir o processo. Uns 20 minutos depois, eu já não estava mais suportando o silêncio que se instalou no ambiente. Tipo, não conversar por muito tempo é tão sufocante. Decidido a mudar isso, comecei a falar algumas curiosidades da "Terra". Foram coisas tipo:

"O canto dos pássaros é tão lindo, né? Dá para acreditar que alguns pássaros têm a capacidade de imitar sons de outros animais ou até mesmo a voz humana?"

"Você sabia que existem flores que desabrocham só à noite, atraindo insetos noturnos para polinização?"

"Em alguns lugares, contam histórias sobre árvores ancestrais que têm o poder de sussurrar segredos antigos para aqueles que se aproximam com humildade e respeito. Interessante, né? Imagina o quanto elas devem saber."

"Nossa, que pedra bonita! De onde eu vim, em algumas regiões, há pedras que podem brilhar à luz da lua, e tem quem diga que elas podem realizar desejos se encontradas em certas noites do ano."

"Tem algumas lendas que dizem que certos caminhos noturnos são feitos de estrelas caídas do céu, e aqueles que seguem esses caminhos podem ser levados a lugares mágicos e desconhecidos. Parando para pensar... Será que eu não achei um desses caminhos?"

E disso para baixo, fiquei falando por um tempo (e sendo completamente ignorado no processo), até que a elfa se levantou abruptamente e entrou na cabana. Tá, eu sei que devo ter falado demais, mas precisa de toda essa ignorância? Ela voltou minutos depois com uma cesta em mãos, vindo na minha direção com aquele olhar mortal, empurrou a cesta no meu peito, dizendo em um rosnado.

-- Pirralho, cala a boca, pega a merda dessa cesta e vá colher os clarius daquela horta!

Apontou para uma trilha ao norte da cabana e voltou para dentro. Fiquei piscando de boca aberta para isso. Em um bufo irritado, segui o caminho para fazer o que foi ordenado tão docemente. Essa foi a pior decisão que já tomei na vida. Acho que é bem pior do que comer wasabi puro. Quando voltei do campo, extremamente cansado, destruído e maltrapilho, após uma luta cirrada com o secretário de Satanás, seu corpo era branco e manchado de vermelho sangue, olhos ferozes e brancos, vazios, sem qualquer piedade, patas finas e nojentas corriam velozes por todos os lados, espalhando ao vento seu odor repugnante através da pedra azul em sua testa, balançando seus cabelos verdes tóxicos. Foi uma luta brutal e desequilibrada, porém voltei vitorioso. Chegando na cabana, fui em direção à Poláris. Assim que cheguei mais perto, meu semblante passou a ter um brilho de admiração. O motivo? A elfa estava no meio de um treino de espadas! Mano, aquilo foi a coisa mais linda que eu vi na minha vida! Observando-a treinar, fiquei impressionado com sua enorme graça e delicadeza. Seus movimentos eram como uma dança hipnotizante, com um controle perfeito de seus golpes. Ela cortava as folhas que caíam das árvores sem dividi-las ao meio, porém gerando ondas poderosas de vento que desafiavam até mesmo a velocidade do som. A elfa finalizou sua técnica, quase me acertando no processo. Finalmente, saindo do seu transe, guardou sua espada na bainha e clicou a língua irritada.

Drómo Gia Ton Paraideis Onde histórias criam vida. Descubra agora