Capítulo 15

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A dor da perda subjugava-me com ondas frias de angústia e desespero, pesando sobre meu corpo como chumbo nas profundezas de um abismo obscuro, entorpecendo meus sentidos e roubando o ar dos meus pulmões à medida que meus gritos ecoavam na solidão do campo, sumindo entre os uivos furiosos dos ventos.

O mundo ao meu redor se comprimia e se resumia a uma escuridão sem fim, onde apenas o brilho avermelhado do sangue fresco em minhas mãos e o rastro quente das lágrimas que desciam como chamas ardentes pelo meu rosto me ancoravam na consciência de que tudo aquilo era real.

Eu não conseguia acreditar que aquilo estava acontecendo. Por que fui tão descuidado? Seu inútil, imbecil! Agora ela está morta... Por sua culpa! A Melfa se foi... E eu simplesmente não consegui fazer nada para salvá-la. Apenas a observei mascarar a dor por trás de um sorriso fraco, gastando seu precioso ar em um último pedido, enquanto, lentamente, sua vida se esvaía de seus olhos.

Agora, aqui estou, pateticamente prostrado no chão, lamentando minha própria fraqueza, sentindo na carne as consequências de subestimar meu oponente. Se eu não tivesse, naquele mísero instante, parado para vê-la lutar, não teria permitido que essas adagas fossem cravadas em minhas pernas. Ela não teria abaixado sua guarda para me salvar, n-não teria sido atingida...

Depois de um tempo preso em um loop de autojulgamento e depreciação, a exaustão finalmente dominou meu corpo. Quando me acalmei, ergui o olhar para o céu e, com um pesar sufocante, suspirei, tomando uma decisão: eu daria a Melfa um enterro digno, honrando suas raízes, não importava o que eu tivesse que fazer.

Levantei-me com dificuldade, ignorando por completo as adagas que ainda estavam cravadas em minhas coxas, caminhei até a bolsa preta, abandonada em algum ponto da luta. Vasculhei seu interior à procura de um cobertor, algo que pudesse envolver o corpo dela.

Encontrando o que procurava, retornei para perto da Melfa e ajoelhei ao seu lado. Envolvi-a cuidadosamente no cobertor branco, que rapidamente se tingiu de vermelho. Meus movimentos eram lentos e dolorosos, misturando seu sangue ao meu, enegrecendo a terra sob nós.

Quando terminei, olhei para as adagas cravadas em minhas coxas. Com um gemido de dor, agarrei o cabo da primeira e puxei com toda a força, o metal rasgando minha carne ao sair. Tratei a ferida rapidamente, o sangue escorrendo entre meus dedos, antes de passar para a segunda adaga, repetindo o mesmo processo.

Com tudo concluído, guardei minhas coisas e coloquei as duas bolsas sobre os ombros. Agachei-me com dificuldade, mas consegui colocar o corpo de Melfa sobre minhas costas, amarrando-o a mim como um grande casulo. Com esforço, me ergui e comecei a caminhar em direção à vila.

A cada passo, o peso de Melfa nas costas parecia crescer, e cada respiração tornava-se mais difícil, como se o ar estivesse drenado de vida. A tristeza e a aflição me sufocavam enquanto, repetidamente, revivia a cena do último pedido dela, que, por causa da minha burrice, tirou a vida de alguém que finalmente havia recuperado o brilho nos olhos, a paz que há tanto tempo lhe fora roubada

Em algum momento, no meio do caminho, minha mente se desligou do mundo. Os sons que outrora eram calmantes - o canto dos pássaros, o farfalhar das folhas - e até a refrescante brisa do vento naquele dia quente já não podiam ser sentidos por mim.

Mesmo assim, meu corpo seguiu em frente, movendo-se de forma automática, determinado a alcançar seu destino final, sem se importar com mais nada. Quando me dei conta, através da névoa que envolvia minha mente, já havia chegado aos portões da vila. Olhando para cima, li a placa no topo: "Kadu". O nome não me dizia nada, mas algo no ar frio e nas sombras das construções antigas sugeria que este era um lugar onde os "estranhos" não eram bem-vindos.

Drómo Gia Ton Paraideis Onde histórias criam vida. Descubra agora