Adivinhe? São 23:00 e eu estou chegando do trabalho.
Hoje não há nada demais, apenas uma chuva pesada que assusta os animais.
Por incrível que pareça, não a temo desde a visita do fantasma. Estou tão distraído olhando pela janela do ônibus que me esqueço de respirar. Só quando sito falta de ar me lembro de ter asma.
A lua está iluminada. Cheia e sorridente. Desde a ida do vampiro, prefiro o teu sorriso do que o Sol brilhante.
agora finalmente é 05 de março. Mas já não faz diferença. Afinal, tudo voltou ao normal. Tudo está extremamente
B
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E até bem
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Quando chego, corro para não me molhar, mesmo sabendo que as botas terei que tirar.
Está tudo como sempre, tirando o fato de ter um lobo aqui no meu lar, da janela, a noite a admirar.
"Deixe-me adivinhar: foi o fantasma que mandou você me visitar?"
O lobisomem nega. "Não! Estou fugindo da lua! Da noite fria e crua!"
"Mas ela é tão bela... aconchegante que brilha como um diamante!"
Ele parece se espantar.
"A lua é fria. Ela machuca. Pensei ter ouvido o fantasma dizer ao vampiro que tu amaste muito um girassol, que sentia muita, também, nos dias frios, falta do Sol."
"Maldito fantasma!" Sussurro.
"O que foi? Ele mentiu?"
Mordo os lábios.
"Talvez não por completo. Mas já não amo o girassol. Não gosto do calor. Tudo o que você ouviu ficou no pretérito." Suspiro.
"Foi por isso que o vampiro voltou?"
"Não..." Olho para o céu a me lembrar da noite em que ele visitou o meu lar. "Fostes porque o meu lar estava arrumado e o sangue havia acabado."
"Há como viver sem sangue?"
Me sento no sofá quebrado.
"Não... Ainda restava um pouco. Mas eu não poderia dar." Suspiro e abro um sorriso. "E você? O que quer com o meu lar?"
Ele olha em volta.
"Lar?"
Me sinto corar.
"Sim. Lar. Não veio para ficar, isso é certo. Mas não parece querer quebra-lo e bagunçar."
"Ficar? Não, não!" Ao ver minha expressão, tenta se justificar: "Não que há algum problema com o seu lar, é que estou apenas me escondendo da lua, precisava me abrigar."
Sei que vou me arrepender, mas ofereço:
"Quer um chá para se acalmar? Posso lhe mostrar o meu lar.""Acho que eu ouvi o vampiro dizer ao fantasma que você o pediu para ficar. Até o chamou para conversar..."
Me sinto envergonhado.
"Deixe para lá."
"Não!" Grita "Quando a chuva passar, o sol raiar e o medo cessar, posso conhecer o seu lar."Olho para o chão, na tentativa de não chorar.
"A chuva não vai passar."
"Por quê?"
"Sempre chove no meu lar. O céu parece gostar de chorar. Às vezes ele chora tanto, que chega a sangrar.""Aqui é sempre assim? Frio o sem cor? Não tem aquecedor?"
Suspiro, ainda com o olhar fixo no chão.
"Acredite, aqui já foi iluminado. Já foi colorido e quentinho antes de ser quebrado. Invadiram aqui assim como você. Tentei ignorar, agir como se fossem convidados, e então quebraram o meu lar."
Ele parece prestes a dizer algo quando a tempestade passa.
"Mas que sorte!" Ri. "Até mais! E boa sorte com o seu lar. Espero que consiga concertar. Se chover de novo, posso vir te visitar!"
Ele está indo embora enquanto os meus olhos se enchem de lágrimas.
Bom, acho que vou fazer um chá, dormir até a hora de voltar a trabalhar, torcer pro sol não nascer - pelo menos não tão forte e brilhante.
Talvez eu devesse me dopar, assim dormirei até a tempestade voltar.
Maldito monstros.
Maldito lar que os atraí.
Maldito eu que os aceito com a porta e o peito aberto.
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Os Monstros do meu Lar
PoetryEssa obra é um conjunto de poesias sobre um homem de rotina comum, vida comum, aparência comum, mas um lar muito extraordinário. Nessa jornada iremos acompanhar um homem fardo de viver a mesma vida todos os dias sem o seu girassol. Fardo de ter se...