Ele ondulava o glacê com cuidado em meio a seus dedos meio trêmulos, mas continuava positivo, não importava se ia sair torto ou com a perfeição costumeira que sempre atingia. Ele mantinha a ponta da língua para fora presa entre os dentes em meio a concentração, e se arrumou na postura, girando a bailarina¹ e analisando a elegância de seu trabalho.
As asinhas da cabeça começaram a bater de satisfação e ele soltou um gritinho de felicidade. Era o primeiro de mais alguns, e faria todos com tamanho prazer para receber bem sua cliente que inusitada: a bruxinha Dahyun, que vivia em uma caverna de peridotes de qualidades mágicas. Seus cabelos verdes como folhas de primavera cheiravam a balas de hortelã e ela era uma bruxa tranquila e reservada.
Ela estava chegando para ele dar os últimos retoques na roupa em seu ateliê, e era uma roupa de festa que teria ao fim de semana na ilha do Segredos Chuvosos, onde a maioria das amigas delas estariam para prestigiar um evento secreto que, apesar dele ter ficado diabolicamente curioso, ele não fez tantas perguntas para não ser invasivo. A curiosidade dele o deixou um pouco distraído, pois haviam algumas partes que ele não havia completado na roupa.
Os cupcakes eram um humilde pedido de desculpas, e eram deliciosos por sinal. Ele caminhou pela cozinha pastel com aroma de bolinhos pairando no ar, e parou de repente na frente da brisa delicada, se refrescando por estar cozinhando por um tempo. Suas asinhas se sacudiram de alívio, e depois voltou ao foco. Encontrou confeitos nos armários de cima em formatos de estrelinhas amarelas.
Pescou pratos nos armários dos lados e terminou de enfeitar com o glacê restante, para depois jogar com calma os confeitos sobre a cobertura de baunilha. Vendo sua pequena obra-prima, fingiu um choro de orgulho, e os levou para a mesa.
Ouviu batidas na porta, grosseiras e sem respeito algum. Saindo da cozinha, ele começou a caminhar em direção a entrada, parando no começo da cozinha quando a porta abriu de supetão, revelando Dahyun com fúria resplandecente nos olhos. — Céus!
— Você, seu mesquinho miserável! — A energia verde chamuscosa passou rente ao seu rosto, acertando as porcelanas penduradas perto da pia e as explodindo. — Você vai me pagar!
— O que aconteceu?! Você não pode chegar destruindo minha casa! — Soobin ralhou alto e assustado, tentando moldar uma cara irritada quase falha.
— Aquele seu ajudante imprestável, como teve coragem de contratá-lo?! Nem um mendigo o faria! Minhas roupas estão por um fio, me surpreende não terem virado pó!
Soobin analisou a roupa completamente rasgada e desfeita, e a vassoura estava quase sem cerdas que ele mesmo as customizou, jogada no chão. — Dahyun, a senhora deve ter sido enganada, pois eu faço meu trabalho por mim mesmo!
Seu vestido era branco e ela estava com asinhas de anjo tais como as suas. Ela estava com uma varinha quebrada ao meio na mão direita. Aparentemente, ela não sabia da vassoura ali, e não havia levado com ela. Ainda assim, ela pescou a vassoura antes apoiada na parede e a chamuscou entre seus dedos finos. — Então, alguém deve ter entrado na sua casa, e sabotou seu trabalho que no papel, era bem feito. Resultou nessa desgraça que estou vestindo!
Ela se aproximou e jogou a tiara mal feita com uma auréola, que desmontara em seu peito. — Eu não te amaldiçoo pois tenho coisas melhores a fazer. As peridotes estão totalmente viradas de costas para você de hoje em diante.
Seu cenho se franziu em incômodo, era uma humilhação ver aquele adereço desdenhoso ao seus pés, enquanto a mulher ia embora a passos pesados tal qual sua aura. Decidira que nunca mais trabalharia com bruxas potencialmente agressivas. Amoleceu na cadeira do puff disperso pela sala ouvindo o estrondo da porta.
Havia uma pessoa atrás dela, e Soobin revirou os olhos, nem querendo saber como entrou. Aqueles cabelos tão vermelhos sem timidez alguma de ofuscar a vista de que olhasse para ele, mas como Lúcifer trabalha para enganar, aquela face era sedutora e perigosa de até mesmo se encarar, pois poderia ser a perdição da alma mais inflexível. — Não chore, Soobin Angel, nem tudo é para ser.
O loiro abaixou a cabeça, e uma força carregada fluia e tomava conta do corpo do mais alto como fogo, suas mãos estavam no rosto enquanto ele se erguia do puff e fechava os dedos em punho. Prestes a soltar um grito, a magia se exauriu dando lugar para finas lágrimas saindo de suas pupilas opacas de poder.
Yeonjun caminhou devagar enquanto retirava alguns fios de roupa dos chifres marrons com uma urgência antes de entrar no campo de visão dele. Seus lábios estavam sujos de glacê e seus olhos focados naquilo que importava no momento. Levantou o rostinho molhado e secou as lágrimas que caíam aos poucos. — Não achei que ela fosse ser tão grosseira.
Ele manteve a boca fechada e desviou o olhar para cima, sentindo mais algumas pouca lágrimas escorrerem. Depois voltou a encará-lo. — Yeonjun, sua boca tem glacê.
— Achei que ia ficar bravo se eu pescasse um cupcake seu. Da última vez quase me fritou vivo por causa de um biscoitinho.
— Eram para a cliente, e tinham poucos. Agora não vale muito a pena guardar ou comer sozinho.
— Ah... — Ele continuou encarando o rosto do outro, descendo a visão para os lábios de coração. Então, moldou um bico em direção ao homem choroso. — Então, limpe-os para mim.
— Não, estou chateado. — Apoiou a testa no ombro do mais baixo e deu um soquinho fraco em seu tronco. — E você não me pediu por favor, seu panaca.
— Tsc, pare de frescura, Soobin. — Revirou os olhos.
Soobin amoleceu deitado no ombro do avermelhado, que o envolveu em seus braços. Uma faceta insegura delieava o rosto do diabo. Seu coração maldoso socava as paredes de sua caixa torácica, sentindo os braços contrários macios roçando em sua pele quente, de súbito a paz se unindo ao sentimento negativo.
O loiro relaxou conforme as gotas inocentes secavam em sua pele. Era irônico ter um demônio como melhor amigo, porém apesar da índole meio duvidosa, ele era um amigo de todas as horas. Não importava o momento, ele permanecia ali. Dedicando horas ao videogame consigo, conversas longas com chá quente e cozinhando. Saindo para passear também, entre outras coisas variadas.
— Ela queimou minha camisa rosa favorita. Aquela burra. — Levantou com a voz trêmula. — Vamos comer logo, eu gastei minhas canecas e a manhã mais charmosa da minha vida cozinhando para ela.
Um sorriso maior sacana brotou nos lábios de Yeonjun que lambeu o glacê e o puxou para a cozinha, gastando uma tarde seguinte de risadinhas bobas e flertes mal percebidos para uma auréola ingênua e sem maldades demais.
1: prato giratório para decorar bolos.
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Artimanha Endiabrada! • Yeonbin.
Фанфик{𝕮𝖔𝖓𝖈𝖑𝖚𝖎𝖉𝖆} Ele não era um homem de ambições, embora ansiasse vertiginosamente passar cada segundo ao lado de Soobin Angel fazendo qualquer coisa cor de rosa que o loiro prezava; essas que não dava a mínima. O talento e paixão cálidos do an...