CAPÍTULO 3

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Deve ser um antigo conhecido, já esquecido
Mas nunca trazido à mente
Deve ser um antigo conhecido, já esquecido
Dos bons e velhos tempos

Pelos bons e velhos tempos, meu querido
Pelos bons e velhos tempos
Ainda beberemos um copo de bondade
pelos bons e velhos tempos

For Auld Long Syne

Abro os olhos assustado e com a respiração alterada, me sento rapidamente olhando ao redor absorvendo aos poucos detalhes do quarto, o guarda-roupa próximo a cama, a pequena estante perto da porta, a mesa de estudos no canto, tudo levemente iluminado pela luz do corredor. É claro, estou no século XXI.

Apoio a cabeça nas mãos respirando fundo, um nome inesquecível preso na garganta sem chegar aos lábios e lágrimas não derramadas nos olhos. Maldito sonho.

Pulo de susto quando meu celular começa a tocar.

Ay, ay, ay
Where's my samurai?

Estou procurando por um homem
Em todo o Japão
Só pra encontrar, encontrar o meu samurai
Alguém que seja forte
Mas também um pouco tímido
Sim, eu preciso, eu preciso do—

— Já disse o quanto te odeio por colocar esse toque no meu celular? — digo assim que atendo e ouço uma risada feminina do outro lado da linha.

— Em praticamente todas as vezes que liguei. Mas vá em frente, se quiser repetir fique à vontade.

— É importante? — afasto o celular para olhar as horas. 01: 47 da madrugada. — Esqueceu a diferença de horário? — pergunto já sabendo a resposta.

— .... Ah, foi mal, maninho — suspiro e passo a mão no rosto para espantar o sono. — É que eu acabei de chegar em casa e pensei em dar um "Alô". Esqueci que aí é madrugada.

— Onde você estava até tão tarde da noite, Manuela? — falo mais alto do que gostaria e quase posso senti-la revirar os olhos.

— Só saí com alguns amigos depois das aulas. Relaxa

Minha irmã tem 23 anos e está no último ano da faculdade de Editoração, superanimada para começar a estagiar em uma editora conhecida em São Paulo, onde mora atualmente dividindo o apartamento com uma amiga do mesmo curso. Fico um pouco preocupado com Manuela sozinha em outro estado, mas sei que faz parte de se tornar adulta, além de que ela ama ser independente.

— A mamãe tá aí? — a ouço suspirar e barulhos ao fundo enquanto se movimenta.

— Sabe como ela é. Ficou menos de duas semanas e já voltou para Brasília, não gosta muito de ficar longe de casa.

— Hmm

— Vem passar o Natal por aqui, né? E o ano novo.

— Obviamente, não quero ser morto pela minha própria mãe.

— Esperto. E como estão as coisas por aí?

— Como sempre — dou de ombros mesmo que ela não possa ver

— Alguém já disse que você fala muito? — ironiza e sorrio.

— Mamãe sempre agradeceu por isso, ela não aguentaria duas versões de você — provoco e minha irmã xinga em resposta. Essa é a linguagem de amor entre irmãos, independentemente da idade. Conversamos mais um pouco antes de nós despedirmos.

— Eu te ligo depois, vou tentar me lembrar do fuso.

— Por favor. Até depois, te amo.

— Também te amo. Tchau.

Terceira ChanceOnde histórias criam vida. Descubra agora