CAPÍTULO 12

39 14 54
                                    

— Olha só, achei que tínhamos perdido um cliente fiel — Ava se aproxima da minha mesa sorrindo e me esforço para retribuir. Seus olhos verdes se estreitam na minha direção — E que cara de morto é essa?

— Achei que você era gentil com os clientes

— Sou gentil. Gentilmente estou te informando da sua má aparência.

— Um café, por favor — peço suspirando e ela se afasta ainda me olhando com curiosidade. Observo ao redor desinteressado esperando que o tempo corra mais rápido, quero trabalhar logo e poder voltar para a minha cama. Os remédios para dormir me ajudam a descansar, mas me deixam grogue durante boa parte da manhã seguinte.

E com a briga de ontem com Ellie, foi quase impossível dormir sem tomar um comprimido, minha mente estava trabalhando a mil por hora. Ela provavelmente está pensando que "Anne" é alguma outra mulher que eu posso estar me envolvendo, e que esse seria um dos motivos do meu súbito desinteresse. Conhecendo-a ao menos um pouco, sei que deve ter chorado e me xingado de todos os nomes possíveis, a magoei além do que pretendia e me sinto um lixo.

Abaixo a cabeça na mesa cansado. Estou fazendo o certo, não é? Tenho que estar.

— Ok. Qual é o problema, professor? — levanto a cabeça e vejo uma xícara de café na minha mesa, Ava está me encarando com os braços cruzados e uma sobrancelha erguida.

— Já teve que tomar uma decisão dolorosa? Você sabe que é o melhor caminho, mas... É difícil — as palavras escapam da minha boca sem filtro. Ava puxa a cadeira na minha frente e se senta.

— Está falando da sua namorada? — encaro-a surpreso e ela dá de ombros — Ela passou aqui outro dia, parecia estar te procurando

— Ela não é minha namorada — pego a xícara e dou um longo gole

— Uou, então você é daqueles que come e joga fora? — engasgo e quase cuspo o café, começo a tossir e coloco uma mão na boca. — Acertei, né?

— Não é isso — digo com a voz esganiçada e pigarreio duas vezes diante do seu olhar julgador. — Eu tive que deixá-la ir...

— Por que? — fala e quase posso ouvir a voz de Ellie ecoando na minha mente fazendo a mesma pergunta.

— É o melhor caminho. Eu... não sou alguém bom para se relacionar — falar isso deixa um gosto amargo em minha boca

— Em que sentido? Cometeu algum crime?

— O que? Não! O que a faz pensar nessa possibilidade? — pergunto ofendido e ela dá de ombros

— Ninguém sai por aí com uma plaquinha escrito: Sou um psicopata, venha conhecer o meu porão.

— De novo isso? É a segunda vez que me perguntam algo do tipo

— Talvez porque você faça um pouco o perfil. Sabe como é, um cara aparentemente comum, gente boa, mas que vive sozinho, não é muito sociável e parece esconder alguma coisa — estreita os olhos verdes na minha direção

— Você estava pensando isso de mim esse tempo todo? — franzo a testa ainda desconcertado e Ava levanta as mãos em sua defesa

— Era apenas uma das minhas teorias. Também pensei que talvez fosse um agente disfarçado investigando algo no estabelecimento tamanha frequência que aparece e o seu vício em café, além de sempre parecer olhar ao redor com muita atenção. Ou alguém da Máfia apenas tendo o emprego de professor como fachada para algum negócio obscuro. Ou...

— Sempre fantasia sobre a vida dos clientes ou apenas com a minha? — questiono dividido entre ficar ofendido ou rir.

— Ei, eu tenho que passar o tempo de alguma maneira — sorri levemente, acabo rindo sem querer e balançando a cabeça — Os outros funcionários também especularam que você poderia ter uma queda por mim. Ainda bem que não é verdade, fiquei com medo de ter que partir seu coração.

Terceira ChanceOnde histórias criam vida. Descubra agora