Seguro sua mão na minha e a aperto levemente sem tirar os olhos dos seus. Ellie Cardigan Thistleton. Repito o nome na minha mente várias vezes, o sobrenome da mulher que amei junto ao sobrenome do homem que me matou, de algum modo as linhagens se cruzaram anos atrás. Não importa.
Ellie é descendente da família de Anne.
— Acredito que de algum modo minha alma é semelhante à sua — Ellie começa encarando nossos dedos unidos — Não guardo as memórias das minhas outras vidas, mas guardei a sensação — ela coloca uma mão acima do coração — bem aqui. Por isso que quando encontrei os seus olhos me senti tão nostálgica, por isso ver essa pintura me deixou tão triste. Acredito, por mais louco que seja, que fui Anne Thistleton e meu coração lembra de como uma vez eu amei você, quando te amei como Henry.
Seu olhar se prende ao meu, liberto seus dedos e seguro seu rosto com as duas mãos, fecho os olhos e encosto a testa na sua. Não consigo descrever o que estou sentindo, só que meu coração está batendo rapidamente e algo está preso em minha garganta.
— Que confusão — murmuro e a sinto rir. Suas mãos cobrem as minhas e abro os olhos vendo-a sorrir.
— Na verdade explica muita coisa, por exemplo o fato de eu me sentir dessa maneira perto de você. É como se eu estivesse apaixonada, sendo que te conheço a tão pouco tempo, não fazia sentido.
— E agora faz? — brinco
— De certa forma, sim
Me inclino e toco seus lábios com os meus, suas mãos apertam as minhas levemente e sua boca abre correspondendo ao beijo. Movo a língua juntamente com a sua e envolvo meus braços ao se redor a puxando para mais perto, querendo sentir o calor do seu corpo enquanto suas mãos apertam meus ombros.
— Ellie — sussurro contra os seus lábios depositando mais dois beijos rápidos antes de me afastar para encarar seu rosto corado. Aliso os fios do seu cabelo e me inclino beijando levemente sua testa.
Ela é real. E está bem aqui ao meu lado, em meus braços. Finalmente.
Sua cabeça se apoia em meu ombro e permanece em silêncio. Há palavras não ditas entre nós, coisas que quero dizer, mas não consigo organizar meus pensamentos de forma coerente, ainda não.
Ela se afasta devagar, sua mão pega o quadro antigo e desliza novamente os dedos pela superfície distraidamente.
— Você não é mais o garoto dessa pintura — murmura e consigo ler o sentimento expresso em seus olhos. Hesitação. Dúvida.
— Não, eu não sou — pego o quadro e com um último olhar o coloco virado para baixo — Não sou mais Henry Bruce e você não é Anne Thistleton. Essa história já foi escrita e teve o seu fim décadas atrás.
— E agora?
— Permita-me continuar a te conhecer, descobrir o que pode acontecer entre nós.
— Mas você vai gostar de mim por quem sou ou por quem fui?
— Não vou mentir, Ellie. Afastei-me não apenas por minhas inseguranças, mas também porque involuntariamente acabava associando sua imagem à Anne. Sentia-me culpado, principalmente porque você não sabia de nada, parecia errado de algum jeito.
— Bem — ri — Nem tanto, quero dizer, considerando que tecnicamente era em mim que estava pensando.
— Ainda assim, não é certo. — suspiro e beijo seus dedos sem levantar o olhar — Anne sempre vai ter um lugar no meu coração, assim como em minhas memórias, mas estou vivendo essa vida agora e quero criar lembranças com você, Ellie. Apenas você.
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Terceira Chance
RomanceHeitor é um professor de História que vive atualmente em Londres, possui uma vida calma e rotineira. Não há nada de diferente, exceto um detalhe: Ele guarda as memórias das suas vidas passadas Atormentado por essas lembranças quase que diariamente e...