CAPÍTULO 4 - Terceira

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A alma que sofre
Ele vive, mas quase não fala
Espera em frente a essa foto antiga
Ele não é louco, ele acredita nisso, apenas
Ele a vê em todos os lugares, ele a espera de pé
Uma rosa na mão, além dela, ele não espera por nada

Love Story - Indila

Meu nome era Henry Quilliam Bruce, futuro terceiro Marquês de Aylesbury, nasci em uma cidade mercantil da Inglaterra, com a economia baseada principalmente em indústrias de seda, cerveja e grãos. Meu pai além de político também serviu como vice-tenente na Milícia de Wiltshire, casou-se com minha mãe, Lady Charlotte Pembroke, e ficou satisfeito ao ganhar logo na primeira gestação um filho homem, seu único herdeiro, pois sua esposa sofreu graves sequelas durante o parto o que a impedia de engravidar novamente. Assim sendo, todas as suas expectativas foram direcionadas para mim.

Foi estranho renascer apenas quase 300 quilômetros de onde morri na minha segunda vida, além da gritante diferença econômica e de status, usava agora tecidos macios e roupas sob medida. Ah, é claro, já haviam passado dois séculos desde a última vez que abri os olhos.

Fui uma criança um tanto agitada, talvez porque me sentia inquieto morando em uma casa enorme com pais ausentes e nenhum irmão para brincar. Fiz amizades com os filhos de alguns vizinhos que meu pai considerava importantes, mas ainda era solitário. Para comemorar o meu décimo aniversário, fizemos uma viagem longa de um dia até outra mansão da família em East Sheen, Londres, onde alguns parentes moravam e iriamos nós reunir em uma festa. Meu aniversário era apenas um pretexto para outros interesses, mas não me importava, queria apenas me divertir de alguma maneira.

E foi uma noite divertida, conheci outras crianças e fiz novas amizades, ganhei presentes, abraços e atenção. Tudo estava normal.

Até cair no sono e todas as minhas lembranças do passado invadirem minha cabeça e passarem como um filme de terror por trás das minhas pálpebras. Acordei assustado e chorando, chamando por uma mãe que não estava mais ali. Meu coração batia rapidamente contra minhas costelas, o suor banhava meu corpo e as lágrimas meu rosto. Não conseguia respirar.

Saí correndo do meu quarto, o som abafado do piano indicava que a festa ainda não tinha acabado para os adultos, talvez meus pais estivessem lá, mas eu não queria encontrá-los. Fui em direção a cozinha, alguns funcionários ainda estavam trabalhando e se assustaram quando passei correndo por eles, chamaram meu nome, mas os ignorei e saí por uma porta que dava diretamente nos jardins. O ar frio da noite bateu contra o meu corpo trêmulo e caí de joelhos tentando respirar fundo enquanto mais lembranças dolorosas surgiam na minha mente. Era demais para mim, não conseguia suportar.

De repente eu a vi. Não sei de onde ela surgiu, mas levei a cabeça e ali estava parada bem na minha frente, uma garota que parecia ter a minha idade, usava um vestido branco com algumas flores enfeitando a saia e uma fita dourada envolvendo sua cintura, seus cabelos eram cor de ouro e estavam presos na nuca, com apenas alguns cachos soltos caindo pelo pescoço.

O mundo ficou em silêncio por um instante, como se tudo e todos estivessem prendendo a respiração enquanto eu encarava aqueles olhos castanhos brilhando de curiosidade e preocupação.

Sem dizer nada aquela garota estranha se sentou ao meu lado e encostou seu ombro no meu, sua mão pequena afagou levemente minhas costas enquanto eu a encarava surpreso e sem saber como reagir. "Pode chorar, tá tudo bem" disse baixinho e fiz exatamente isso, chorei por um bom tempo e ela não me perguntou o motivo, só ficou ali até que minhas lágrimas secaram, então sorriu levemente na minha direção e eu senti que talvez tudo poderia realmente ficar bem.

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