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Maratona 7/10

AMÉLIA MILLER

Hum, oi. — Sorrio meio sem graça para Charlie, olhando para todos os cantos de seu rosto, menos seus olhos. Eles me deixam nervosa.
— Eu...hum...o que ta fazendo aqui? — Charlie cruza os braços, e eu percebo pela primeira vez que ele está sem camisa, só com uma das várias bermudas cinzas de algodão que ele tem guardado no closet, e ainda caindo pelos quadris. Limpo a garganta depois de encarar seu abdômen por alguns segundos.
— Vim ver a Aly.

Charlie coça a sobrancelha e olha pra trás, como se fosse encontrar a irmã descendo as escadas. Depois ele volta a olhar pra mim.

— Na verdade, ela saiu...foi ver a Lauren, eu acho.

Suspiro e olho ao redor, tentando focar em algo que não seja o corpo perfeito dele.

— Ela não tava de castigo? — Pergunto retoricamente. Charlie até abre a boca para responder, mas eu o interrompo e continuo falando. — Tá...merda...fala pra ela que eu passei aqui, ok? Valeu.
— Hã.. espera! — Charlie estica os braços e eu paro quando estava me virando para ir embora, o corpo meio inclinado para o lado, olhando para ele com o coração acelerado. — Você pode esperar ela, se você quiser. Quer dizer...eu tô fazendo a janta, e você pode jantar comigo enquanto esperava Aly...de novo: se você quiser. — Ele começa a se embolar com as palavras, remexendo as mãos rapidamente e as encarando intensamente. — E se Alyssa demorar demais, você pode ir embora... não sei, tipo, é só um jantar entre amigos e tals, não precisa ter pressa...e eu tô fazendo macarrão...

Suspiro e o interrompo de novo.

— Tá. — Digo

Charlie pra mim e arregala os olhos, tão surpreso quanto no momento em que abriu a porta pra mim.

— O quê? — Seu rosto está vermelho, e sua voz suave. Sorrio ao vê-lo todo envergonhado; é fofo.

Não é nada Amélia, cala a boca.

— Eu janto com você. Mas só porque estou com fome. — Viro o corpo completamente em sua direção, avançando para entrar na casa. Percebo quando Charlie prende o fôlego, ao abrir espaço para mim, praticamente se encostando todo na porta. — E porque é macarrão.

Ele sorri, umedecendo os lábios.

— Tá, porque você ama macarrão. — Charlie fecha a porta e passa direto por mim, indo em direção a cozinha. Eu o sigo.
— É, eu amo macarrão. — Fico com água na boca ao sentir o aroma da comida circulando pela cozinha, uma mistura de tempero, com carne acebolada na panela. Meu estômago chega a roncar um pouco; não sabia que estava com tanta fome até agora. Respiro o aroma bem fundo mais uma vez, sorrindo em seguida.

Quando abro os olhos – que fechei sem nem perceber –, noto que Charlie está olhando para mim com o mesmo sorrisinho. Ele rapidamente desvia o olhar, e tosse do jeito mais falso que eu já vi na vida. Me aproximo dele e do fogão.

— Humm...o que tá fazendo aí? — Pergunto, tentando espiar a comida nas panelas. Charlie ri e usa o corpo para tampar minha visão. — Ei, assim não vale.
— Você vai ver quando estiver pronto. — Ele diz — Senta aí, vai, deixa de ser ansiosa, King.

Reviro os olhos e lhe dou um soquinho no braço antes de ir me sentar, mas não porque ele pediu, e sim porque ninguém gosta de ficar tanto tempo em pé. Cantarolo baixinho a música que está tocando de em algum lugar da casa, provavelmente da sala, eu acho – eles tem um sistema de som impecável, mesmo que quase não usem.

Charlie fica em silêncio o tempo inteiro, e eu não sei dizer se é só o clima esquisito entre nós, ou se está muito concentrado em cozinhar. Eu apoio a mão queixo, olhando para ele. Tinha me esquecido do quão maravilhoso ele fica enquanto cozinha, os músculos de suas costas se mexendo e contraindo com os movimentos certeiros de seus braços. Às vezes, Charlie passa a mão nos cabelos, tirando-os dos olhos, e em outras vezes, troca o peso do corpo de uma perna para outra. Nosso tempo de namoro foi bem curto, mas eu conheço cada um dessas manias que ele faz quando está distraído em pensamentos e concentração, principalmente ao cozinhar.

ALL FOR LOVE - Charlie Bushnell (livro 2)Onde histórias criam vida. Descubra agora