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AMÉLIA MILLER


No dia seguinte, estou caindo de sono durante o caminho até a escola, simplesmente porque passei a noite inteira acordada. Me deitei pra dormir como sempre, mas não tinha nenhum pingo de sono no meu corpo, não consegui pregar os olhos nem por 5 minutinhos. Minha vontade de dormir foi sugada pela minha vontade enorme de socar Charlie por ter mentido pra mim.


Gostaria de dizer que eu tenho um plano para quando eu ver ele hoje na escola, mas eu não tenho nada. Passei a noite acordada, e a única coisa em que eu pensava era o quão puta eu estava. Na verdade, primeiro eu fiquei triste e só depois fiquei puta também, mas enfim.

Depois que cheguei na escola, tentei ficar bem atenta para ver se Charlie estava por perto, e se estivesse, eu ignoraria. Cheguei alguns minutos mais cedo do que o normal hoje, então peguei um café gelado numa daquelas máquinas no corredor, e depois fui sentar no pátio ao lado do refeitório, para poder fazer o dever de casa que eu não fiz ontem. Nos fones de ouvido, eu escutava minha música mais "pesada" pra distrair meus pensamentos de fúria: Teenagers, do My Chemical Romance. Talvez eu não tenha nenhuma noção de rock, mas gosto de escutar essa música quando estou muito irritada com alguém.


Dou um gole no café, ao mesmo tempo em que escrevo um monte de merda no caderno sobre um livro que estamos estudando na aula de inglês. Balanço a cabeça para as peripécias de Gatsby para conquistar a já casada, Daisy. Pelo menos Gatsby não mentia pra ela…

Alguém puxa meu fone de ouvido com tudo, e de repente eu escuto tudo ao meu redor por um lado só, porque pelo outro continuo escutando a guitarra do My Chemical Romance. Olho para o lado a tempo de ver Charlie sentar-se ao meu lado.


     Só não me levanto e deixo ele sozinho, porque quero conversar.

     — Você não respondeu minhas mensagens. — Diz Charlie, tão calmo e até sorrindo de canto. — E nem atendeu quando liguei. — Vejo quando ele olha para meu celular em cima da mesa, depois para meus fones. — Seu celular parece estar funcionando bem.


Respiro bem fundo, e então fecho meu exemplar de O Grande Gatsby com força. Quando olho pra Charlie, ele parece entender que não estou para brincadeiras, porque seus semblante se torna sério.

     — Você é um filho da puta mentiroso. — Solto de uma vez, o pegando de surpresa.
     — O... que? — Charlie guagueja
     — Você mentiu pra mim. — Para dar mais ênfase ao meu momento de tirar satisfações, fecho meu caderno também, fazendo tanto barulho do que quando fechei o livro. Charlie olha na direção do caderno como se ele fosse uma arma – e pode ser. — Disse que precisava voltar pra casa, mas estava de gracinha com a Amanda Baker no The Jhon's Roller ontem a noite!


Charlie arregala os olhos, e nesse instante tenho a terceira prova de que ele está errado – como se eu precisasse de alguma coisa. Inclino a cabeça para trás, os punhos cerrados quando sinto o sangue que circula pelo meu corpo esquentando drasticamente.


Percebo como Charlie fica nervoso depois que joguei as cartas na mesa. Ele morde a boca, mas tenta esconder pondo a mão por cima. Seus olhos se movem pelo nosso redor, como se estivesse procurando alguma rota de fuga. Pelo seu próprio bem, é bom que não saia daqui enquanto ele não me disser que merda está aprontando.

— Fala alguma coisa! — Exijo com fúria
 
     Charlie respira fundo, e olha pra mim, mas não diretamente nos meus olhos.

     — Tudo bem, desculpa. — Pelo menos ele não está negando. Isso é bom... né? — Desculpa por ter mentido, ok?
     — Duas vezes, Charlie. Você mentiu duas vezes. — Faço sinal de 2 com os dedos, quase esfregando em sua cara. — Estou tentando não surtar ainda, mas pra isso você precisa me contar porque caralhos mentiu pra mim na maior cara de pau. Você teve a coragem de olhar bem nos meus olhos e mentir pra mim, dizer que ia ficar em casa e que por isso não podia sair comigo, mas foi se encontrar com outra garota. — Pensando bem, estou sim com um pouco de ciúmes dela.

ALL FOR LOVE - Charlie Bushnell (livro 2)Onde histórias criam vida. Descubra agora