046

289 29 19
                                    


Maratona 6/10

AMÉLIA MILLER

Jogo a mochila sobre os ombros, e vou saindo da sala de artes, depois que o sinal da saída ecoa pelo prédio da escola. Nem acredito que finalmente chegou a tão esperada hora de ir pra casa. Eu já não aguentava mais ficar aqui dentro, retomando aquela rotina entediante de sempre. Até que hoje nem foi tão entediante assim, em parte, graças ao showzinho de MMA do Charlie e do Scott no almoço, além do episódio piscina.

     A piscina. Nossa, eu tava tremendo e não era de frio, só estava nervosa mesmo. Senti que todo mundo olhou pra mim quando saí da água pela primeira vez, como se eu estivesse desfilando para a Victoria Secret's. Não foi minha intenção chamar atenção desse jeito, mas admito que gostei da reação do Charlie. Eu adoro provocar ele, e foi por isso que eu continuei provocando o resto da aula inteira. Isso também mexeu um pouco comigo, admito.

Enfim, enquanto vou saindo da sala de aula, pego o celular pra ver se meu pai mandou alguma mensagem. Ele vai vir me buscar, porque agora já posso voltar a morar com ele de segunda a sexta – infelizmente. Para minha surpresa, realmente há mensagem dele nas minhas notificações.

P: Oi, querida
P: Já acabou a aula?
P: Sinto muito, mas você vai precisar voltar de ônibus.
P: Estou preso numa reunião do trabalho, e a Sofia não pode sair pra te buscar.
P: Mas eu te vejo em casa, ok? Te amo <3

     Eu paro de andar e releio a mensagem, soltando um suspiro frustado. Odeio ter que depender dos outros para me locomover, é por isso que eu tirei a carteira de habilitação. Eu só queria ter coragem de dirigir com as estradas molhadas.
Não respondo nenhuma das mensagens do meu pai, apenas guardo o celular de volta na mochila e me apresso para não perder o ônibus. Eu até pegaria uma carona com o Noah, mas (A) ele deve estar no treino de futebol, e (B) eu não quero abusar da bondade dele. Além disso, o ônibus não vai ser tão ruim assim, contanto que já tenham esquecido dessa história entre mim e Charlie. Não quero ficar ouvindo cochichos a viagem inteira até em casa.

Vou atravessando a entrada da escola, para ir até os ônibus do estacionamento, olhando ao redor toda distraída. Está ventando um pouco, o ar frio rachando a pele dos meus lábios porque sempre esqueço de passar a bendita manteiga de cacau. Eu cruzo os braços, encolhendo meu rosto no cachecol ao redor do meu pescoço, para tentar me refugiar do frio quando já estou quase perto do ônibus.

     — Ei! Ei! Oi! — Levo um micro-susto quando Beth aparece do meu lado, andando de costas para a direção em que estou indo. Ela sorri.
     — Oi, Beth. — Sorrio de volta — E aí, como foi o primeiro dia de aula?

Ela substitui a expressão animada, por uma carranca e um biquinho, virando-se para andar do meu lado.
     — Um cu. — Ela diz com a decepção clara em sua voz. — Ninguém quis sentar comigo no almoço.
     — Poxa...sinto muito. — Passo o braço por seus ombros, a puxando para mais perto. — Mas você vai fazer amizade, é só esperar. As pessoas gostam de você.

Beth com deboche em resposta.
     — Não sei em que mundo você vive, mas as pessoas costumam me achar irritante.
     — Bom, eu não acho. — Olho pra ela, que ainda tem um olhar de balão murcho nos olhos bonitos. — Você é divertida. E se ninguém da sua turma quiser fazer amizade com você, ainda tem a mim e a Aly.

Sorrindo, eu ergo meu punho e Beth faz um "toca aqui" com o punho dela.
     — Você vai de ônibus também? — Pergunto, e aponto para o grande automóvel amarelo logo lá na frente. Uma fila já se forma na porta do que passa pelo ponto perto da minha rua.
     — Ah, não, meu pai vai vir me buscar. Ainda não posso andar sozinha. — Ela revira os olhos e balança a cabeça. — Só vim falar com você antes de ir.
     — Nesse caso, a gente se vê amanhã. Não posso perder o ônibus.
   
     Uma buzina alta chama nossa atenção, e olhamos as duas para o meio fio onde costumam parar carros para deixar os alunos aqui na escola. A janela do carro preto desce, e o Charles acena para mim e Beth, abrindo um sorriso caloroso, cheio de charme. Minha professora de artes, que estava passando pela calçada na mesma hora, quase tropeça ao olhar pro cara. Dou risada.

ALL FOR LOVE - Charlie Bushnell (livro 2)Onde histórias criam vida. Descubra agora