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AMÉLIA MILLER

     Em alguns minutos Charlie cai no sono, e eu posso ouvir seus roncos baixinhos. Olho para ele, que está com a cabeça apoiada no meu ombro, os cabelos úmidos de suor caídos nos olhos, e então sorrio. Passei quase a noite inteira esperando por esse momento, admito, porque estava com saudades dele e com tesão por ele.

     Passo os dedos em seus cabelos, os afastando de sua testa, e então deixo um beijinho no mesmo lugar antes de me sentar na cama. Estou meio sonolenta, além da minha visão estar ficando menos intensa e turva, porque o álcool está começando a se dissolver do meu organismo. Ainda bem que não bebi muito para ficar loucona, porque não suporto ficar de ressaca depois.
     Saio da cama e começo a catar as roupas de Sofia pelo quarto, para vesti-las. Tenho que me lembrar de tomar um banho quando voltar pra casa, porque suei muito, e transei de calcinha – cuja ele tinha que afastar pro lado toda vez que iria fazer alguma coisa. Antes de vestir o short, olho para a marca de tinta fluorescente que a mão de Charlie deixou na minha bunda. Ela está brilhando intensamente no escuro das luzes brilhantes, me fazendo sorrir. Preciso tirar uma foto disso, diz meu lado que ainda não está 100% sóbrio.

     Pego meu celular, que deixei em cima de um armário de gavetas, e procuro um espelho pelo quarto. Encontro um perto da cama, brilhando como tudo ao nosso redor. Há uma carinha desenhada com X no lugar dos olhos e boquinha trêmula, brilhando no escuro, feita no canto superior do vidro do espelho. Eu me aproximo, girando um pouco da minha cintura para mostrar o lado da minha bunda com a marca da mão de Charlie. Tampo os seios com um braco, ponho a língua pra fora e tiro a foto.

     Sorrio ao olhar o resultado, feliz por não ter saído escuro. Ficou bonita. Envio para Charlie, dando uma risadinha, e então volto a me vestir. Uso papel higiênico do banheiro para limpar a porra dele nos meus peitos, para só depois vestir sua camiseta, porque não estou afim de por aquele sutiã apertado agora – me sinto melhor assim. Ele é homem, pode voltar pra casa sem camiseta, eu não posso. Dou um jeito nos meus cabelos, os prendendo num coque alto e bagunçado, também limpo o máximo de tinta possível do corpo.

     Antes de sair do quarto, me sento ao lado de Charlie na cama, e o cubro com o edredom, para que não passe frio dormindo peladão assim. Lhe dou um último beijinho no rosto, e então saio para a festa lá fora.

   Está tocando alguma música da Dua Lipa, mas não é do álbum novo. Ainda está tudo brilhante e colorido fluorecente, mas as pessoas parecem mais sossegadas. Fecho a porta cuidadosamente, para não fazer muito barulho, e então me viro para o corredor.
     — Lia? — Puta merda
     — Noah... — Murmuro praticamente sem voz, até porque minha garganta tá um pouquinho dolorida.47
     Arregalo os olhos ao ver Noah aqui, parado na minha frente, em carne e osso. Merda, merda, merda. Meu coração acelera, e de repente esqueço de toda a noite que tive, e começo a me sentir extremamente culpada por ter mentido para ele, mesmo que ele não tenha dito nada sobre isso até agora. Não achei mesmo que fosse ter que lidar com isso assim tão "cedo".
     — Então é assim que você cuida do seu irmãozinho mais novo agora? — Ele revira os olhos, travando o maxilar. — Não é por nada não, mas você deve ser uma péssima babá.
     — Noah, me desculpa. — Já vou ligar dizendo, e dou um passo em sua direção.
     — Por que você mentiu pra mim, Amélia? E...que roupa é essa? — Noah estica o braço na direção da camiseta de Charlie, e eu sigo com o olhar, mesmo sabendo bem o que estou usando. — Andou comprando roupas na sessão masculina do shopping?
     — Isso... não importa, ok? — Balanço a cabeça — Podemos conversar em outro lugar? Por favor.
     — O que temos mais para conversar? Você mentiu pra mim, e resolveu vir a uma festa pra transar sabe-se lá com quem. Aposto que é o Charlie atrás dessa porta.

ALL FOR LOVE - Charlie Bushnell (livro 2)Onde histórias criam vida. Descubra agora