AMÉLIA MILLER
Ainda é cedo quando Charlie me deixa em casa. Mas eu estou tão esgotada mentalmente falando, que a única coisa que penso em fazer, assim que entro no apartamento, é tomar um banho quentinho e depois dormir o máximo possível.
Solto um longo e cansado suspiro enquanto caminho para dentro, indo para meu quarto. Paro apenas quando ouço barulho no banheiro, e empurro a porta semi-aberta para abri-la mais.
— Oi, mãe... — Murmuro, e encosto a cabeça na batente.
— Oi, querida. — Ela sorri, olhando para mim brevemente, e então volta a pentear os cabelos. — Você demorou pra chegar. Mandei mensagem, mas você não respondeu. Onde estava?
— Desculpa...eu passei no shopping, com o Charlie, depois da casa do meu pai. — Tento sorrir para amenizar o impacto do que acabei de dizer, mas acho que meus lábios nem chegam a curvar pra cima direito.Minha mãe olha para mim, surpresa, e até soltando os cabelos. Ela parece sorrir ao mesmo tempo em que fica boquiaberta, um mistura entre ficar "contente" com a novidade, ou surpresa por eu ter mesmo ido até meu pai. Olha sinceramente, nada no mundo muda minha concepção de que eu não deveria ter ido a até meu pai.
— Lia, filha, isso é ótimo! — Por fim, minha mãe parece decidir ficar contente, sorrindo completamente. — Você me escutou, não sabia que isso era possível. — Ela dá uma risadinha, depois se vira para continuar penteando o cabelo. — Como foi? Vocês se acertaram? Ele vai ir amanhã?
Suspiro, deixando no chão a sacola com o vestido que Charlie comprou pra mim antes de cruzar os braços. Fico olhando para meus próprios pés no chão, girando distraidamente a ponta do tênis contra o piso. Não quero ver a cara de decepção da minha mãe enquanto lhe conto que meu pai é um merda – não que ela já não saiba.
— Mãe... não... não deu certo. — Nego com um balanço da cabeça, fechando os olhos em seguida. — Só brigamos mais ainda.
Quando ouço minha mãe suspirar, volto a abrir os olhos e viro a cabeça para ela, suspirando também.Tento sorrir outra vez, mas simplesmente não consigo. Só estou esgotada, não quero sorrir agora, mesmo que seja para fingir que estou bem.
— Ah, Lia...que merda em, filha. — Minha mãe pressiona os lábios, abrindo os braços para mim. — Vem cá.
Não hesito, e atravesso o banheiro pequeno até minha mãe. Deito com a cabeça no colo de seus seios e ela me abraça, tão apertado como sempre me abraçou, como se toda vez fosse ser a última. Abraço de mãe não tem igual, embora o de Charlie chegue bem perto. Passo os braços ao redor de seu corpo fino, encostando um lado dos quadris na pia para eu poder ficar mais próximo dela, e assim receber carinhos na cabeça e nos cabelos.
— Sinto muito...eu devia ter previsto que isso não daria certo. — Ela puxa ponta dos meus cabelos com os dedos, mas com suavidade e delicadeza. — Seu pai não é muito bom em admitir que está errado...ou em ser carinhoso. Pra ser bem sincera, ele é um homem das cavernas.
Uma risada escapa por meus lábios, e eu sinto minha mãe vibrar enquanto ri também. Ela põem o queixo em cima da minha cabeça, balançando nossos corpos de um lado para o outro. Somos da mesma altura, então estou flexionando os joelhos para ficar um pouco mais baixa.
— Mas estou feliz que tenha ido falar com ele. — Minha mãe continua — Isso demonstra que você tem coragem e quer mudar as coisas. Você diz que não, mas sei que não quer ficar desse jeito pra sempre com o seu pai. Eu entendo e está tudo bem.
A voz dela é tão gentil e calma, que está me dando sono. Minha mãe é mesmo um anjo.
— Eu só queria que ele fosse amanhã... — Admito, sentindo um aperto no peito quando me lembro das palavras parecidas que lhe disse enquanto discutimos. — Eu queria que ele tentasse ser meu pai de verdade, por pelo menos algumas horas. Eu queria os dois lá, minha família completa, mesmo que separada... em certos momentos, parece que nem tenho pai.
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ALL FOR LOVE - Charlie Bushnell (livro 2)
FanfictionLivro #2 OBS.: Sinopse possui spoiler do livro #1 Amélia Miller estava de coração partido. O garoto pelo qual jurava estar apaixonado por ela havia cometido um erro - o erro que ela mais temia acontecer. Depois da terrível - e quase fatídica - noi...