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AMÉLIA MILLER

Estou cantarolando feito uma idiota, sorrindo feito uma pessoa mais do que idiota, quando as portas do elevador se abrem pela segunda vez. Saio para o corredor, cambaleando enquanto continuo cantarolando para mim mesma uma música melosa qualquer, pensando em absolutamente nada, a não ser no meu encontro com Charlie.

Pego a chave do apartamento na bolsa, dando pulinhos enquanto giro ao redor de mim mesma, agora imitando o solo de guitarra de alguma música que escutamos no carro a caminho do loft no início do encontro. Estou me sentindo como a verdadeira adolescente de 17 anos que sou, o que não acontece com a frequência que deveria, porque estou sempre tentando não esquecer que tenho um coração pirado.

Com a chave na mão, vou dançando até a porta do apartamento 34E, parando para fazer o passinho do Michael Jackson e tudo. Quando estou abrindo a porta, mexendo a cabeça de um lado para o outro ao ritmo da música em minha cabeça, ouço a velhinha que mora no andar abrir sua própria porta, mas não toda, só até onde é possível com a correntinha presa. Olho para ela, que está me espiando e resmungando, e então abro um sorriso largo.

     — Boa noite, senhora! — Grito, e ela bate a porta na minha cara.

Dou de ombros e entro de uma vez por todas no apartamento, tentando ao menos disfarçar a explosão de felicidade que reina nas borboletinhas do meu estômago, porque minha mãe ainda está deitada no sofá assistindo TV e eu sei que ela vai me provocar. Entretanto, quando me viro em sua direção, estou sorrindo toda bobinha – não consigo parar de sorrir.

Minha mãe abaixa o pedaço de chocolate que iria morder, e sorri para mim, a testa levemente franzida.

     — Você está cinco minutos atrasada. — Ela diz, provocante — Mas...
     — Maaas...? —

Largo a bolsa em cima de uma poltrona, suspirando de felicidade antes de me jogar no sofá, ao seu lado, com a cabeça deitada em seu ombro. Pego o chocolate de sua mão e mordo um pedaço. Minha mãe me olha como se eu fosse um Alien.

     — Meu Deus, o que foi que esse menino fez com você? — Ela ri — Parece que o encontro foi muito bom.
     — Oh, se foi. — Digo de boca cheia, sorrindo sem mostrar os dentes.

Minha mãe estava assistindo Se Eu ficar, percebo quando olho com mais atenção para a TV, mesmo não prestando o mínimo de atenção no que está acontecendo. Só sei que está na parte em que Mia vê Adam correndo ao chegar no hospital, e me pergunto como Charlie chegou no hospital para me ver – ele correu também?

Paro de pensar nisso, porque me distraio pensando em seus lábios de cereja e seu perfume de colônia e sabonete. E pensando em seus beijos intensos e calorosos, e em suas mãos grandes me tocando e me apertando onde mais me deixa mole em seus braços fortes. Nossa, como eu amo tudo isso.

     — Vamos, conte-me o que aconteceu! — Arregalando os olhos com excitação, minha mãe me dá alguns tapinhas na perna, claramente animada pra saber mais sobre minha história clichê. — Como foi esse encontro, que você tá aí vendo unicórnios e arco-íris.

Devolvo o chocolate para ela, me virando para poder olhar para seu rosto enquanto falo.

     — Então, ele me levou pra jantar — Conto lentamente, o sorriso tomando conta do rosto. —, e depois a gente foi assitir um filme no drive-thru.
     — Hummm... — Minha mãe provoca, me dando um empurrãozinho amigável no ombro, e eu reviro os olhos e sorrio de canto. — Em qual restaurante vocês foram? Ele é rico, espero que tenha sido num bem caro.

Dou risada.

     — Não...ele mesmo fez nosso jantar. — Queria poder comer um pedaço daquele filé mignon de novo, ou então provar mais do Créme Brûlée. Estava tudo tão gostoso. — Um jantar francês, com velas e tudo.
     — Nossa, minha filha de dezessete anos sabe escolher um namorado melhor do que eu. — Minha mãe revira os olhos, rindo soprado, como se a ideia fosse, tipo, impossível.
     — Olha a inveja, dona Sally.

ALL FOR LOVE - Charlie Bushnell (livro 2)Onde histórias criam vida. Descubra agora