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Charlie Bushnell

Acordo com meu despertador tocando. Mesmo com a musiquinha irritante e insistente ecoando pelo quarto, eu demoro para finalmente abrir os olhos. Encaro o teto entrando em foco lentamente, enquanto bocejo e quase viro para o lado e volto a dormir. Eu devo ter pego no sono durante o quê? Uma meia hora? Uma hora completa? Deve ser por aí, já que passei praticamente a noite inteira acordado, porque não estava conseguindo pegar no sono. Nem sei como consegui dormir por pelo menos uma horinha.

     Bocejando outra vez, eu rolo para a beirada da cama e estico o braço para o chão. Com os olhos ainda meio sonolentos, eu enxergo o suficiente para deslizar o dedo pela tela do celular, que está conectado no carregador, e desligar o alarme. Tudo volta a ficar na mais perfeita paz.

     Me jogo pra trás outra vez, de costas, soltando um longo resmungo. Eu não durmo direito já tem três noites, não quero sair pra correr agora, também não quero ir pra academia hoje. Só quero poder dormir até mais tarde, pelo menos por mais uma horinha. Acho que não tem problema se eu fechar os olhos um pouquinho...

     Enrolo meu corpo no edredom macio, e afundo a cabeça no travesseiro, pronto para voltar a dormir.

     — Charlie... — A voz dela ecoa pelos meus ouvidos, mas parece distante. — Charlie, acorda.

     Sinto a pele macia dos dedos dela tocarem minha testa, tirando meu cabelo do rosto. Resmungo e abro um sorrisinho.
     — Você fica muito fofo quando tá acordando... — Amélia ri baixinho, e aconchega o corpo pequeno ao meu lado.

    Quero me virar e abraçar ela, sentir seu carinho nos meus cabelos e seus lábios na minha pele. Mas não consigo.

     — Eu te amo... — Ela sussurra
     Amélia beija minha testa, mas eu não sinto o toque de seus lábios. Ao invés disso, sinto meu corpo balançar na cama...

     — Acorda! Charlie, acorda! — É minha irmã insuportável.

     Solto um resmungo de protesto, rolando para o lado contrário em que ela está me balançando. Tento manter os olhos fechados a toda custa, porque ainda estou morrendo de sono. Quanto tempo eu dormi? Eu estava tendo um sonho tão bom, queria poder morar nele. E agora que eu sei que ela não está aqui de verdade, quero voltar a dormir, para tentar encontrá-la de volta na cama comigo.
     Mas isso não acontece, e eu acabo despertando quando Alyssa me dá um tapão na orelha, fazendo meu ouvido zumbir.

     Abro os olhos, furioso, e viro de barriga para cima. Franzo a testa para Alyssa, que cruza os braços enquanto me encara com indiferença.
     — Tá atrasado. — Ela diz — Eu devia ter deixado você dormindo e perder a aula, porque ainda tô brava, mas eu não fiz isso, então me agradeça por ser uma irmã boazinha.
     — Agradecer por me dar um tapa na orelha? — Murmuro sonolento, com a voz rouca. — Claro...
     — Levanta logo, ou vai perder a primeira aula e eu vou deixar.

     Alyssa me encara com seriedade uma última vez, e depois sai do quarto. Pelo menos ela não bateu a porta que nem ontem, já é um sinal de que não está mais tão brava assim.
     Ainda deitado, eu passo a mão no rosto e no cabelo, soltando um grunhido de cansaço. Ainda quero dormir, mas não posso faltar na escola, se não meus pais me matam. É por isso que eu me forço a sair da cama, catando a toalha para ir tomar um banho.
     Me permito demorar um pouco embaixo da água, embora já esteja atrasado. Alyssa pode muito bem esperar, já que eu sei que ela só me acordou porque vai precisar de carona até a escola – se a tapada não tivesse porrado o carro num poste no verão passado, meu pai ainda a deixaria dirigir. Enfim, depois do banho eu visto uma calça camuflada, uma regata preta e por cima um moletom preto com capuz. Estou amarrando meus tênis, quando Alyssa vem me torrar a paciência de novo.
     — Anda logo, cara... — Ela resmunga, encostando-se a porta.
     — Da pra esperar, caralho? — Olho em sua direção, minha franja úmida caindo sobre meus olhos, enquanto termino de dar o nó nos cadarços. — Eu nem tomei café ainda.
     — Ah, então espera aqui.
     Alyssa se vira, sumindo de vista ao sair do meu quarto. Às vezes eu simplesmente não entendo ela, e nós somos gêmeos...
     Termino de amarrar os tênis, e já vou pegando minha mochila pra descer e acabar logo com essa tortura de ter que ir pra escola. Nem penteei o cabelo, não faço a barba tem dois dias – já tá começando a espetar de novo – e tenho olheiras fundas embaixo dos olhos; começar o dia com esse estilo é tudo o que um cara quer.

ALL FOR LOVE - Charlie Bushnell (livro 2)Onde histórias criam vida. Descubra agora