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AMÉLIA MILLER

     — Mamãe... — Repito, maldosa e provocante.


Simplesmente não acredito no que estou vendo. De todas as coisas que eu esperava ver quando chegasse em casa, essa com certeza não era uma delas. Isso – os dois juntos, possivelmente sem roupa por debaixo dos roupões, trocando carinho e rindo juntos –... isso se quer passou pela minha cabeça. Me deixa feliz por um lado, por minha mãe finalmente estar se divertindo com um cara que se importa, mas também me deixa enjoada por outro. Meu Deus, eles fizeram sexo!

     — Meu Deus, Lia! — Minha mãe arregala os olhos para mim, como se o peso do susto tivesse tido efeito apenas agora. — Não sabia que você ia voltar tão...cedo.
      — Por que? — Sorrio brincalhona, me jogando no sofá em seguida. — Planejou alguma coisa importante pra essa manhã?
  
     O que só confirma ainda mais minhas suspeitas de que a putaria ia continuar rolando solta enquanto eu estivesse fora, minha mãe troca olhares cúmplices a Charles, que não parece exatamente interessado em olhar para mim. Ele olha para o teto, para as paredes, para o chão. Suas mãos estão bem coladas junto o corpo, como se de alguma forma isso fosse ajudá-lo a se esconder de mim. Devem estar morrendo de vergonha; eu sei como é quando as pessoas te pegam no flagra – né, Donna?


     — Hã... não, não... — Minha mãe sorri nervosa, e balança a cabeça algumas vezes. Seus cabelos estão molhados, assim como o de Charles. Fico enjoada só de pensar que eles tomaram banho juntos depois de dar umazinha. Ou várias; eu não sei a quanto tempo eles estão aqui. — Charles e eu só estávamos...hum...nos conhecendo melhor?
     — Tudo bem, eu não preciso de...de detalhes. — Fecho os olhos com força, tentando não pensar nisso. — Espero que tenham se divertido, mas agora eu estou em casa. Por favor, vistam uma roupa!

Me viro no sofá, sentando de costas para eles e virada na direção da TV. Pensar que minha mãe, uma mulher muito bem adulta, andou transando é constrangedor e nojento demais. Tipo, ela é minha mãe, não dá pra imaginar que ela fique excitada e que ela...Argh, não vou nem dizer o que pensei, ou vou ter pesadelos a noite.

Ligo a TV para abafar o som dos dois voltando para o quarto às pressas. Dependendo de quanto tempo Charles está aqui, eu fui uma grandíssima empata foda, e isso é novidade pra mim. Nunca presenciei tal cena quando meus pais estavam juntos – tipo, não pegar eles ou ouvir eles transando, mas saber que eles transaram porque estão de gracinha. Não sei se eles não transavam, se eram discretos, mas ainda bem que nada disso nunca se passou pela minha cabeça, porque eles também nunca me deram motivos.

De um jeito ou de outro, gostaria de ter mandado uma mensagem de manhã, avisando que eu estava voltando pra casa. Isso teria me poupado constrangimentos.

Assisto 10 minutos de um reality show que está passando na MTV, e então começo a zapear pelos canais do pior pacote de programas que nossa TV nos oferece. Sem muitas opções, acabo deixando em um episódio de Friends que já vi milhares de vezes. Pouco depois, Charles entra na sala – completamente vestido –, acompanhando da minha mãe – que fez questão de não tirar o roupão.


Continuo fingindo que estou assistindo Mônica dançar com um peru de óculos na cabeça, o que faz Chandler rir para cacete. É uma das minhas cenas favoritas, mas a tensão cômica na sala não me deixa prestar muita atenção.

Charles para ao lado do sofá, pondo as mãos nos bolsos da calça jeans – sim, calça jeans, ele está tudo, menos formal hoje; calça jeans, camiseta preta e jaqueta de couro; um verdadeiro gostosão. Minha mãe, muito "sútil", para ao lado de Charles, e os dois ficam olhando para mim com constrangimento. Eu aperto os lábios para esconder um sorriso besta, e segurar uma risada ainda mais besta. Não sei se funciona, mas estou tentando.

ALL FOR LOVE - Charlie Bushnell (livro 2)Onde histórias criam vida. Descubra agora