Legilemência.

15.

O ano letivo iria começar no dia seguinte. Liana e Elisabeth estavam sendo espremidas no vagão do trem para que Lino e Fred pudessem se sentar. O certo seria que Fred ficasse do outro lado, junto de George e Jackson, para assim Liana, Elisabeth e Lino sentarem juntos e ninguém ter que ficar espremido, mas Fred estava muito animado com as férias e com as pegadinhas que tinha em mente e fez questão de se sentar ao lado de Liana para contar.

Lino observava tudo de cara feia, é claro, mas Fred e Liana nem davam mais atenção para isso. O problema era Jackson, que desde a mentira que foi lhe contada no Natal, agora via nos pequenos detalhes, o amor romântico que ele achava que Lino alimentava por Fred. E coitado, Jackson estava se esforçando muito para ser solidário com o amigo Lino Jordan que não conseguia entender o porquê de tanto grude e olhares de compaixão.

– Lino, será que podemos conversar ali do lado de fora por um segundo? – Perguntou Jackson, após longos minutos de encaradas penosas e suspiros.

– Não dá, eu preciso ficar de olho nesses dois. O Fred não é confiável. – Disse Lino, olhando de soslaio para o casal de amigos.

– O que foi? Você acha que Liana e eu vamos nos beijar no meio de todo mundo? – Fred perguntou com um sorriso. Ele mais que Liana se divertia muito em irritar Lino com essa história de beijo.

– Vem cá, Fredinho, me dá uma bitoquinha! – Liana jogou os braços ao redor dos ombros de Fred e aproximou seus rostos, fazendo um biquinho ao mesmo tempo que segurava um riso.

– Ei! Solta, solta, solta! – Lino empurrou os braços da irmã para longe de Fred e puxou o amigo pelo cabelo.

– Aí! Não é porque você tá careca que todo mundo tem que ficar careca não! – Fred resmungou, enquanto sentia seu cabelo ruivo ser puxado.

– E de quem é a culpa de eu estar careca, hein?

– Da Liana! – Fred se defendeu. – Eu não raspei o cabelo de ninguém, eu só joguei a tinta!

– Ei! Eu não sabia que tinha como tirar aquela tinta verde com magia!

– Você é inteligente, como não sabia que aquela tinta mágica podia ser desfeita por magia? – Fred debochou para seu próprio desespero, porque Liana acertou a cabeça dele com o caderno que tinha ganhando de Fred no Natal. – Por que você gosta tanto de me bater com os presentes que eu te dou?!?

– Porque você é muito chato e não sabe quando parar, é por isso!

– Finalmente estão brigando, agora sim a gente pode conversar, Jack. – Disse Lino, parecendo aliviado. Ele se levantou do banco e saiu, com Jackson logo atrás. – O que você tem pra dizer?

– Nada, é só que...

Eu sei que você gosta do Fred e sei que deve ser difícil para você. Pensou Jackson, chamando totalmente a atenção de Liana que parou de estapear Fred para conseguir prestar atenção.

– Desistiu de tentar me matar, Jordana? – Perguntou Fred do lado de dentro da cabine. Ele não fazia ideia da conversa que estava se iniciando do lado de fora, a alguns metros de distância. Muito menos sabia que ele era o tópico principal.

– Xiu! – Liana mandou, acertando um tapa forte no nariz de Fred que colocou a mão no rosto e resmungou.

– Desembucha, Jack! – Lino mandou, curioso em saber se Jackson explicaria o porquê de estar encarando ele como se ele fosse um cachorro que caiu da mudança.

– Olha, as vezes, a gente gosta de alguém mas não sabe como admitir. As vezes, a gente tem medo de ser rejeitado ou de estragar a amizade.

– Que?