“Uma flor com nada de sobra além de espinhos
Sem restrições e impiedosa
Tente me sacudir, eu não me moveria”Rosario — Epik High.
• 𝙇𝙔𝙎𝘼𝙉𝘿𝙀𝙍 𝘿𝘼𝙈𝙄𝘼𝙉𝙊𝙎 •
Não poderia dizer estar decepcionado ou surpreso, o ex-segurança de cabelo preto acinzentado, porte esguio e elegante — com um modo de agir um pouco maroto — não lhe disse diretamente, que precisaria voltar para aquele lugar, mas deveria ter imaginado com base nas perguntas feitas, no dia anterior.
Não exatamente se sentia ofendido pela decoração do local que os donos provavelmente consideravam pitoresco, mas por outro lado, também não podia dizer que aquilo ia além da mais completa e caótica breguisse.
Seus passos firmes eram contidos, as solas dos sapatos sociais de uma cor preta recém encerada, eram do estilo de amarras suíças e faziam um barulho baixo contra o piso de um porcelanato antigo, praticamente encardido pelo tempo, ainda que obviamente limpo. Zephyra estava bem a sua frente, liderando o caminho até as escadas que os levariam ao terraço, com somente algumas pessoas aqui e ali.
Em sua maioria aqueles clientes do restaurante estavam na casa dos vinte anos, alguns eram turistas que conversavam em sua língua mãe, cochichando assombrados ao ver sua chefe, e outros mais desinteressados, alternando em ter um sorriso estampado enquanto conversavam ou manter as cabeças abaixadas, os olhos encarando notebooks de última geração.
O homem de cabelo loiro puxou uma tragada, suas íris âmbares escondidas por óculos de sol com lentes marrons e finos aros dourados, se moveram mecanicamente até uma morena que lhe encarava descaradamente.
Ela sorriu de boca fechada e umedeceu os lábios, moveu com os dedos uma mecha de cabelo para detrás da orelha e, mesmo que continuasse seguindo sua chefe até uma mesa no extremo do terraço, afastada do restante das pessoas, onde ela se sentou e só então indicou com a cabeça que deveria tomar um assento, o canto de sua boca se curvou de maneira discretamente sugestiva.
— Lysander, seu isqueiro.
A voz áspera e baixa, daquela que encarava a rua pouco movimentada e tinha um cigarro entre os dedos esguios de nós proeminentes, com cicatrizes que cobriam cada milímetro da pele bronzeada, chamou sua atenção.
A vontade de a acompanhar naquele vício que compartilhavam apareceu, tirou o isqueiro de dentro do terno e junto a ele a carteira de onde pegou um de seus próprios cigarros, colocou o acendedor em frente ao rosto dela e, após acender o cilindro entre os lábios cheios, acendeu o próprio.
— Senhora, quer que eu vá pegar o cardápio?
As palavras cordiais saíram enredadas aos fios nocivos da fumaça esbranquiçada. Assim como com o cigarro, sua fome também acompanharia a dela; e provavelmente já era maior, dado o horário e o detalhe de que havia se esquecido de colocar uma barra de cereais no bolso do terno.
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Cicatrizes de Kallisto.
RomanceComo primogênita da Família Laskaris, Zephyra nasceu com seu destino já traçado, crescer sendo ensinada sobre seu papel de futura esposa, de um dos aliados da Organização. Porém, anos após um sequestro que resultou em sua destruição, Zephyra, agora...