“Pegando minhas lembranças, deixando meus fardos
Bom, eu trouxe alguns comigo, eu não sou perfeito
Olhar para a vista assim me preocupa
Entendendo as pistas, certo? Estou bastante nervoso
Odeio quando eu perco a vista, a vida fica embaçada”The Search — NF.
• 𝙇𝙔𝙎𝘼𝙉𝘿𝙀𝙍 𝘿𝘼𝙈𝙄𝘼𝙉𝙊𝙎 •
A fumaça dançou pela cabine do carro blindado, que tinha as janelas com película de laminação de vidro fechadas e o ar-condicionado ligado. O cigarro entre seus dedos indicador e médio possuía seu próprio movimento, subindo e descendo conforme os batucava no volante revestido com couro de grão superior, dividindo sua atenção não só com a estrada, como também com a silhueta de sua chefe.
A mulher sisuda de cabelos presos em um rabo de cavalo alto, por um fio prata discreto de pontas douradas, estava ocupada tentando descobrir o que havia de errado com a arma de Lysander, que falhou quatro vezes quando precisou dar um tiro, naquele mesmo dia, pela manhã. Levou o cigarro aos lábios e, após dar uma tragada, ligou a luz esbranquiçada do teto. Não sabia como ela conseguia enxergar algo, se seu vestido era de um azul escuro quase preto.
O sinal ficou vermelho, parou o carro e seus olhos âmbar passaram pelas pessoas caminhando na calçada e os edifícios de alto padrão que, por não ser dado a viagens e ter muito trabalho a fazer, nunca havia visto pessoalmente.
Durante sua adolescência, desejava poder ir ali, por Atenas ter sido o lugar onde seus pais de sangue haviam se conhecido, sobre o qual sempre contavam histórias de como se esbarraram por estarem perdidos, sem saber como voltar para o hotel onde ficariam naquela noite, o fim da história era sempre a melhor parte, pois acabava que os dois estavam no mesmo lugar e seus quartos, ao lado um do outro.
Era irônico como até mesmo na hora da morte, não se separaram.
Baforou devagar, seu terno tinha os dois botões abertos, e mesmo que brincasse com o cigarro em seus dedos, seus olhos não descansavam em examinar os becos em que passavam, caso fosse preciso alcançar sua própria arma de maneira rápida. Tinha feito a tarefa de casa o mais rápido possível, assim que a mulher ao seu lado, lhe disse para onde iriam.
Atenas era o ponto central de um dos principais e mais antigos Clãs, daqueles que faziam parte da grande lista de rivais da Família Laskaris. Qualquer lugar para o qual fossem, lhes oferecia um considerável perigo em potencial, talvez aquilo aumentasse a adrelina, mas não admitiria.
Haviam se passado algumas semanas desde que começara a trabalhar com a proteção de Zephyra, três semanas, para ser mais exato. Ela ainda era como uma aparição, as interações tão superficiais e concisas quanto possível, e se o clima não ficava pesado parecia tornar propositalmente, mas para sua sorte já não o olhava mais como se esperasse que fosse lhe dar uma facada pelas costas, a qualquer momento — era mais como se apenas o detestasse completamente — agora já não desconfiava o bastante, para que ele soubesse mais detalhes de cada trabalho.
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Cicatrizes de Kallisto.
RomansaComo primogênita da Família Laskaris, Zephyra nasceu com seu destino já traçado, crescer sendo ensinada sobre seu papel de futura esposa, de um dos aliados da Organização. Porém, anos após um sequestro que resultou em sua destruição, Zephyra, agora...