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A geladeira velha rangia ao ser aberta pela terceira vez, revelando suas prateleiras vazias. Eu soltei um resmungo, irritada com a própria insistência em procurar algo que não existia, e com um movimento brusco, fechei a porta de inox branca. O som metálico reverberou pela cozinha, tão fria e desprovida de vida quanto o interior daquele eletrodoméstico.

Com um suspiro pesado, me afundei no sofá da sala, o tecido úmido e mofado exalando um cheiro que invadiu minhas narinas, trazendo lembranças que eu preferia esquecer. Estiquei a perna enfaixada, cuidadosamente colocando-a sobre a mesinha de centro, onde a poeira acumulada ao longo de semanas formava uma camada fina, quase como uma neve de abandono.

Era estranho como a bagunça me acolhia, como se aquele caos fosse um espelho da minha alma perturbada. Um sorriso amargo curvou meus lábios. Era bom estar de volta em casa, mas a sensação de conforto foi rapidamente substituída por uma inquietação.

Minha mente corria a mil, repassando os eventos das últimas horas. Estava de volta ao ponto de partida, como se todo o sacrifício, toda a dor, não tivessem significado nada.

Tudo desmoronou em apenas uma hora e meia. Meu contrato com os Vingadores estava completamente destruído. A Torre, antes um símbolo de segurança e pertencimento, já não era mais meu lugar. As paredes, que um dia me abraçaram, agora me rejeitavam. Eu estava fora. Sozinha. E tudo voltara ao que era antes.

A voz de Nick ecoava na minha cabeça, como um fantasma que se recusava a me deixar em paz. "Você não está pronta", ele disse. "Talvez não tenha a estrutura psicológica para isso." Eu quis provar que ele estava errado, mas agora as palavras dele pareciam carregar uma verdade que eu não queria admitir. O que eu estava pensando? Como pude ser tão ingênua ao acreditar que poderia simplesmente deixar meu passado para trás, que poderia ser parte de algo tão maior do que eu?

O peso dessas reflexões apertava meu peito. Se eu não tivesse entrado para os Vingadores, nada disso teria acontecido. Eu não teria sentido o fardo esmagador de falhar em algo tão importante, de não estar à altura das expectativas.

Por mais que eu quisesse, não havia como voltar atrás. As coisas não seriam como antes, e a ideia de normalidade que eu tanto ansiava agora parecia um pesadelo. Eu fiz o que tinha que fazer, mas a dúvida corroía cada fibra do meu ser. Talvez, no fundo, Nick estivesse certo. Talvez eu nunca tivesse pertencido a esse mundo.

Com um suspiro cansado, deixei a cabeça cair para trás, encarando o teto. Eu precisava de uma saída, de um jeito de consertar o que havia quebrado. Mas, por ora, tudo o que eu podia fazer era esperar, enquanto a dor física e emocional se misturavam, tornando-se uma só.

[Dois dias antes...]

As horas na banheira pareciam se arrastar em um torpor confortável. Meus dedos estavam enrugados, marcados pelo tempo que havia passado ali, imersa em água quente e no silêncio de meus próprios pensamentos. O calor era um alívio para o corpo e, por alguns momentos, para a mente, mas eu sabia que não poderia permanecer ali para sempre.

Natasha tinha sido incrivelmente gentil ao me emprestar sua banheira, sabendo que meu pé machucado tornava qualquer banho de pé uma tortura. Ela sabia o que eu precisava, mais do que eu mesma, talvez.

A missão no cassino havia ocorrido há apenas dois dias, mas a lembrança ainda estava fresca, como uma sombra que se recusava a desaparecer. Após a longa noite no hospital, finalmente fui liberada, mas a sensação de alívio durou pouco. Assim que voltei para a Torre, a exaustão me venceu.

Sem pensar duas vezes, fui até a gaveta de Bruce e tomei dois comprimidos, permitindo que o sono me dominasse e me levasse a um estado de inconsciência que era mais do que bem-vindo.

Warrior | Livro 1Onde histórias criam vida. Descubra agora