27

18 4 0
                                    

As turbinas do jato particular já ronronavam baixinho quando nos despedimos do motorista, ao adentramos o aeroporto na calada da noite. 

Tony insistira que deveríamos estar em casa antes do amanhecer, mencionando, com seu habitual sarcasmo, que preferia acordar com uma ressaca em sua própria cama do que em um continente diferente. 

O evento de caridade mal tinha terminado, mas já estávamos a caminho de casa, deixando para trás o que parecia ser uma oportunidade perdida. 

Enquanto fingíamos normalidade, minha mente repetia incessantemente as decisões que nos trouxeram até ali. Voltar para Nova York era a única escolha que fazia sentido. Na cidade, estaríamos mergulhados na correria do dia a dia, sem tempo para refletir sobre os pequenos centímetros que nos separaram naquela noite estrelada. 

Cada segundo no avião parecia se alongar, e eu me forcei a fingir sono, enquanto Tony permanecia inquieto ao meu lado. De vez em quando, sentia seu olhar sobre mim, e um arrepio de culpa me percorria. Eu não ousava encará-lo, temendo o que veria em seus olhos.

Queria abrir os meus, atravessar a distância entre nós e pedir desculpas, desfazer o muro que eu mesma erguera. 

Mas, por sua segurança, eu não podia. 

Em algum momento, o cansaço venceu, e adormeci. Acordei com o alerta de pouso e encontrei Tony na mesma posição, as olheiras acentuadas revelando sua insônia. Meu coração afundou ao perceber o peso que eu lhe impusera. Quando nossos olhares se encontraram, ele me lançou um sorriso fraco.

Estávamos de volta ao jogo.

Happy nos aguardava no aeroporto, mas o habitual bom humor estava ausente. Tony fazia perguntas curtas, e Happy respondia com monossílabos, percebendo que ninguém estava com vontade de conversar. 

Tony, exausto, ignorava as chamadas insistentes de Steve, que pareciam se multiplicar enquanto nos aproximávamos da Torre.

Quando finalmente entramos no elevador, meu telefone tocou. Não foi surpresa ver quem estava ligando. Tony começou a resmungar sobre Steve, mas se calou imediatamente quando as portas se abriram.

Nick Fury estava parado ali, esperando, a expressão austera em seu rosto congelando meu sangue. O agente não perdeu tempo em atacar, ecoando com sarcasmo as palavras que eu havia dito dias antes.

— De repouso, hein? A Europa fez maravilhas para o seu pé, não é mesmo? Muito bom.

Por trás de Fury, avistei Sofia, encolhida em um canto da sala, o semblante abatido pelo fracasso do nosso plano. Antes que eu pudesse falar, Tony interveio, me puxando suavemente para fora do elevador.

— Não foi culpa dela – disse ele, a voz firme, olhando Fury nos olhos. – Fui eu quem a arrastou para isso.

Fury o encarou com olhos semicerrados, mas Tony manteve-se firme, a postura altiva, carregada de orgulho. Por um momento, invejei sua capacidade de manter a compostura.

— Não se meta, Stark – rosnou Fury, a voz afiada como uma lâmina – Você também mentiu para mim, como de costume. E você, Alice... – ele virou-se para mim, o tom de desdém se intensificando – em casa, fingindo estar doente. Sozinha. Porque deu um ataque de birra nesta sala semana passada e saiu como uma criança mimada. Mas agora parece que é só uma hipócrita. Aliás, toda essa equipe mentiu para mim. Até mesmo Wightman.

Ao ouvir seu nome, Sofia desviou o olhar, envergonhada.

— Você viu as fotos... – murmurei, a voz quase inaudível.

— As fotos? – repetiu Fury, com um desprezo cortante – Estão em todo lugar.

Suspirei profundamente, enquanto Tony virava a cabeça em direção ao corredor, atento ao som de passos apressados que se aproximavam. O ambiente carregado foi interrompido pela chegada de Steve, vestido com seu uniforme e empunhando o escudo, seguido de perto por Natasha, igualmente equipada, carregando malas pretas repletas de armas em direção ao Quinjet. Clint foi o último a aparecer, e ao nos ver, soltou um suspiro resignado.

Warrior | Livro 1Onde histórias criam vida. Descubra agora