Capítulo 8

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Triz fazia uma trança no cabelo de Hani, que era bem liso e quase não parava penteados.

Reina estava deitada em sua cama de casal, observando as duas com um olhar abatido.

Triz e Hani haviam ido almoçar na casa da amiga, que estava vazia, sem nenhum rastro do pai dela. Até o momento, Reina não havia desabafado com as amigas.

— Só eu que achei estranho? — Hani quebrou o silêncio que estava no quarto, atraindo a atenção das amigas. — Do nada os garotos mais bonitos e populares da escola começam a andar com a gente, a convidar a gente para sair... é muito estranho isso.

Triz riu, voltando sua atenção para a trança da amiga.

— Eles só estão sendo gentis com a gente, nos conheceram e gostaram de nós! — Triz murmurou. — Temos que deixar de lado esse clichê de que populares andam com populares e os excluídos continuam excluídos. Hellooo! Estamos no século 21.

Reina bufou, abraçando o seu travesseiro e se sentando na cama para olhar melhor para Triz.

— Qual é? Você não é sonsa assim — Ela fez uma careta. — O John é louco pra te pegar desde o dia que fomos naquela festa caótica. O Victor e o Cristian não estão nem aí pra gente, só estão indo na onda do amigo. Agora você deixou o cachinhos na friendzone e ele não vai desistir até conseguir te dar um beijinho, é isso.

Hani pediu silenciosamente para Reina calar a boca, pois sabia que Triz costumava ficar aborrecida com facilidade.

Reina não tinha travas na língua.

Triz suspirou profundamente e finalizou a trança de Hani.

— Eu não acho que seja isso — Disse vacilando. — Eu tenho certeza que ele entendeu e vai ser só o meu amigo agora.

— Você tá tentando convencer a si mesma de algo que todas nós sabemos que não é verdade — Hani deu um choque de realidade na amiga, se arrependendo logo depois. — E-eu... Não foi isso que eu quis dizer...

Triz apenas assentiu tristemente, sabendo que suas amigas tinham razão.

Até mesmo Hani havia falado algo, ela sempre havia sido tão quietinha e em quase todos os momentos reclusa, que era sempre uma surpresa quando ela se manifestava de maneira dura e objetiva.

— Eu realmente não sei o que fazer...

— Você quer ficar com ele? — Reina perguntou, curta e grossa.

— Eu preciso me priorizar, estudar para o vestibular!

— Eu não tô perguntando o que você precisa fazer, mas sim o que você quer fazer.

Triz se deu por vencida e a olhou com raiva, quase tacando um travesseiro em sua cabeça.

— Cara que droga! Eu não sei tá legal? Eu não sei o que eu quero — Os olhos de Triz começaram a se encher de lágrimas. — Dá pra parar de ser assim, Reina?

Hani que antes admirava sua trança no espelho da penteadeira de Reina, virou de olhos arregalados para as amigas.

— Ei meninas, calma... — Hani apoiou os joelhos na cama, observando as duas que se encaravam desconfortáveis.

Triz suspirou, desviando o olhar e engolindo o choro que estava na garganta. Ela odiava incomodar as amigas e odiava fazer drama pelos seus problemas.

Ela odiava incomodar.

— Desculpa, Triz... — Reina sussurrou, olhando para as próprias mãos. — Anda tudo uma merda pra mim.

Hani se sentou na cama, mais próxima das amigas.

— Você não nos contou o que aconteceu...

Assim como Triz, Reina engoliu o choro que estava entalado em sua garganta e contou tudo o que havia acontecido de manhã para as amigas.

Seu pai havia dormido bêbado em um bar e acabou sendo espancado e assaltado. Ele foi socorrido por uma ambulância e os médicos ligaram para o primeiro número que viram no celular dele, já que notaram que o homem não era casado. Eles acabaram ligando para a coordenação da escola dela, que resolveu conversar com Reina e fazerem um discurso sobre ela precisar ir para psicólogos e ajudar o pai dela em meio a todo esse caos.

Mas o que eles não entendiam era que Reina não tinha que carregar todo esse peso e dar conta de tudo. Seu pai não queria ser ajudado.

Reina não derramou uma única lágrima enquanto conversava com as amigas. Ela não chorava desde que sua mãe morreu, há 6 anos atrás.

Triz abraçou a amiga enquanto Hani  tentava deixar o clima leve... no fim nenhuma das duas sabiam o que fazer.

Do outro lado da cidade, John escrevia em seu pequeno caderno de rascunhos, rabiscando letras e vez ou outra fazendo pequenos desenhos mal feitos. Se Cristian visse aquilo, ficaria maluco.

— Por que você tá insistindo nela, cara? — Victor, que havia acabado de correr na esteira da academia, perguntou para o amigo.

John levantou os olhos para o loiro, notando o quanto ele tava suado. Ele deveria estar treinando também, mas havia sentado no primeiro banco que viu e retirado seu caderninho do bolso da mochila. Quando ele se sentia inspirado, precisava escrever imediatamente.

— Tá me escutando por acaso? — O loiro se estressou.

John assentiu, levando o lápis até os lábios.

— Eu prefiro não escutar, apesar de tudo.

Victor revirou os olhos, se sentando no espacinho ao lado do amigo.

— Acho que Cristian não vai nesse piquenique amanhã não, viu? Ele já tá estressando com você. — Victor apontou para Cristian, que levantava um peso enorme.

John revirou os olhos, tentando voltar a escrever mesmo com a presença do amigo ali.

— Eu não ligo — Ele murmurou dando de ombros. — Eu quero ir e eu vou.

Victor levantou as sobrancelhas, achando o amigo o cara mais trouxa do planeta.

— Cara, se ela não quer, ela não quer! — Ele gesticulou com as mãos, indignado.

— Eu sei! Eu só quero ficar próximo dela, é pedir demais isso? — John tirou os olhos do caderninho e quase alterou a voz com o amigo. — Tem algo nela que aquece o meu coração e eu nunca senti isso antes... Eu só quero continuar sentindo isso, por mais que eu possa me machucar no final.

Victor olhou surpreso para o amigo. Ele jurava que nunca em sua vida iria se apaixonar, pois o amor sempre quebrava as pessoas.

E ele sabia que seu amigo ia sair dessa com o coração em pedaços.

Mas tudo o que ele fez na hora, foi se levantar do banco e olhar uma última vez para o amigo.

— Vamos treinar?

John negou com a cabeça e Victor se afastou contrariado.

Em seu caderninho, havia entre muitos rabiscos, um pequeno trecho do que um dia poderia ser uma música.

Mas que no fundo, John sabia que nunca iria sair do papel.

"Há algo em você
Que eu sei que não é para mim
Há algo em você
Que abraça a minha alma e faz minha mandíbula doer de tanto sorrir
Há algo em você
Que nunca será capaz ser meu
É pedir demais querer ser seu?
Nem que seja por um final de tarde
Por uma noite...
Eu quero ser seu."

1 - FriendsOnde histórias criam vida. Descubra agora