O celular de Triz vibrava sobre a cabeceira da cama. Mensagens, ligações, despertador.
Aquela noite havia sido um inferno. Além de não conseguir dormir devido a enxaqueca causada pelo choro, Triz não tinha a mínima animação para ir a escola. Piorou quando desbloqueou a tela do celular e viu que tinha notificações de John.
Ela não iria ler, não importava qual fosse o conteúdo daquelas mensagens. Ela não queria saber.
Triz levantou em um pulo. Vestiu suas roupas e agiu no automático o tempo inteiro.
Quando chegou na escola, não encontrou as amigas, não olhou para os lados e seguiu para a sua sala. Por mais que seu rosto estivesse inchado e tudo parecesse mais pesado do que realmente era, Triz havia colocado na cabeça que precisava estudar em dobro.
Seu corpo estava cansado, toda vez que ela tirava o rosto dos livros e cadernos, se lembrava das promessas não cumpridas, dos momentos doces e na forma como tudo havia terminado. Toda vez que isso acontecia, ela sentia vontade de chorar mais e mais.
Quando o sinal tocou, Triz notou que não havia conversado direito com suas amigas e era óbvio que elas tinham notado que algo havia acontecido, principalmente Reina que deixou claro que se John tivesse a machucado, ela iria acabar com a raça dele. Mas Triz implorou que ela deixasse tudo para lá e prometeu que contaria quando estivesse melhor, apenas deixou claro que não havia nada mais entre eles.
Ela cruzou com Victor e Cristian no corredor e apesar deles a olharem em expectativa, Triz os ignorou e seguiu o seu caminho, pensando em como deveria se afogar ainda mais nos estudos. John não foi para a escola naquele dia e ela agradeceu a Deus por isso.
Não conversou mais com as amigas e quando chegou em casa, só conseguiu se jogar na cama e dormir o que não havia conseguido a noite.
Acordou com batidas na porta e se levantou no automático para atender, rezando para que não fosse quem ela pensava que era.
— Tem celular mais não? — Reina estava com os braços cruzados e a cara fechada.
Hani estava ao seu lado, parecendo aflita.
Triz não falou nada, apenas deixou que elas entrassem e se sentou no sofá da pequena sala.
— Foi meio complicado achar sua casa mas... Conseguimos. — Hani disse hesitante. Ela havia perguntado justamente para John onde era a nova casa de Triz.
Hani havia perguntado por mensagem, pois tinha o número de John desde que ele havia pedido ajuda para as alianças. Ela não teve coragem de perguntar nada para ele, mas estava extremamente curiosa com o motivo por tudo der dado tão errado de uma para outra.
Reina se sentou de um lado e Hani do outro, a última abraçando Triz delicamente, apoiando a cabeça em seu ombro. Hani amava abraços.
— Se quiser, não precisa dizer nada — Sussurrou docemente. — Podemos jogar alguma coisa, fazer bolo... Sei lá! Qualquer coisa pra ver aquele sorriso lindo em você de novo.
Triz sorriu com a doçura de Hani.
— Na verdade eu tô curiosa pra caralho e queria sim saber o porquê você e o boyband não estão mais de lenga lenga. — Reina pronunciou as palavras rapidamente.
Hani revirou os olhos, como Reina conseguia ser tão sem noção as vezes?
— Gente... — Triz fungou, sentindo seus olhos se encherem de lágrimas novamente. — O que eu queria mesmo, era esquecer tudo, sabe? Tá acontecendo tanta coisa. Pra piorar, minha mãe não fala comigo desde que escolhi vir morar com o meu pai.
Reina estava tão curiosa, mas resolveu que iria se conter dessa vez. Ela podia simplesmente ameaçar John com um facão e fazer ele contar o que tinha feito. Dependendo da resposta, ela capava ele e aí tudo ficaria bem.
— Obrigada por estarem aqui, de verdade — Triz esticou os braços e abraçou as duas amigas. — No fim eu nem sei o que foi real ou não, sabe? Parece que minha vida se tornou uma completa neblina de confusões desde a briga dos meus pais. Ter vocês aqui comigo é a única parte boa de tudo isso.
— Você sabe que pode contar com a gente para o que der e vier. — Hani sorriu.
Durante a tarde, elas fizeram brigadeiro, assistiram um filme de romance barato e fofocaram sobre algumas pessoas da escola. Por um momento, Triz se sentiu um pouco leve.
Mas ela sempre acabava se lembrando dos meninos, seja o Victor e suas implicâncias com a Reina, ou a Hani suspirando pelo Cristian. Tudo que remetia a eles, automaticamente a fazia se lembrar de John.
Reina acabou precisando ir embora mais cedo, pois aparentemente seu pai estava a incomodando com ligações. Com certeza ele tava mais bêbado que tudo.
Hani e Triz ficaram um tempo em silêncio.
— Talvez... — Triz sussurrou, quebrando o silêncio repentinamente. — Talvez eu estivesse certa o tempo todo, sabe? Talvez ele só estivesse me usando mesmo... Talvez nada nunca tenha sido real.
Hani balançou a cabeça em negação, observando a maneira como a respiração de Triz já estava ficando descompassada.
— Ele não parecia estar usando você. Eu acho que ele gosta de verdade de...
— Você acha — Triz fungou, segurando em vão suas lágrimas. — Eu também achava.
— Não... — Hani apertou a barra de sua camiseta, aflita. — Eu preciso te contar uma coisa.
Triz a fitou, com o desânimo estampado nos olhos.
— O John estava planejando te pedir em namoro. Ele me perguntou que tipo de aliança você gostava a até... as comprou — Hani engoliu seco, assustada com a mudança de expressão de Triz. — Eu acho que ele queria te pedir ontem, no jantar...
Triz colocou as duas mãos sobre o rosto, explodindo em um choro desolado.
Era doloroso demais saber disso depois de tudo. E se ele não tivesse que fazer faculdade tão longe? E se ele não tivesse escondido isso dela? Será que agora ela seria sua namorada e estaria com ele?
Por mais dramático e até mesmo idiota que parecesse, ela pensou no quanto poderia ter aproveitado mais os momentos ao lado dele. Ela poderia ter cedido aos seus sentimentos mais cedo. Se tivesse sido assim, quem sabe eles ainda estariam juntos agora.
Para alguns, seria fácil simplesmente procurá-lo e voltar com ele depois de tudo. Mas para Triz, não era.
Ele quebrou sua confiança ao esconder algo tão importante, mas esse não era o maior problema, pois ela já havia o perdoado por isso assim que o viu chorando por ela.
O problema, era que ele iria estudar longe, muito longe. Ele viveria uma voda universitária em uma realidade completamente diferente da dela, com pessoas que ela não conhecia e fisicamente com o corpo muito longe do seu. Isso era demais para Triz e ela sabia que não iria conseguir suportar um relacionamento a distância, por mais que muitos dessem certo por aí.
Talvez essa tenha sido a confirmação de que o "Eu te amo" que saiu dos lábios dele, não havia sido em vão.
E isso tornava tudo ainda mais doloroso.
Triz foi amparada por Hani, que a abraçou e permaneceu ali até que parasse de chorar.
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1 - Friends
RomanceLivro 1 da trilogia "Lovers Rock". Entre os enormes corredores de River High School, John Henry, um dos garotos mais populares do colégio e vocalista da sua tão amada banda, Winter Boys, caminha com confiança e graça, sem prestar atenção ao seu redo...