Capítulo 32

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John segurava a aliança dourada com delicadeza, vez ou outra passando o dedo pela pedrinha.

Ele estava no telhado da casa de Victor, o motivo? Não tinha coragem de voltar para a casa nesse estado e achava que um tempo só para si mesmo seria bom. Mas já deviam ser umas 2 horas da manhã e ele já havia chorado umas 3 vezes enquanto olhava para as estrelas.

O tempo inteiro ele esteve com as alianças nos bolsos, esperando o momento perfeito para pedi-la em namoro.

Como uma noite que tinha tudo para ser perfeita havia desmoronado assim? Ele podia jogar a culpa em Cristian, podia dizer que o signo da Triz não combinava com o seu, mesmo não acreditando em horóscopo... ele podia tentar justificar o seu erro de todas as formas, mas a resposta sempre seria a mesma.

Ele havia colocado a aliança masculina no dedo anelar, sem pretensões de tirá-la. Tudo isso porquê sentia que pertencia a Triz, mesmo ela não o querendo mais em sua vida.

John escutou passos no telhado e se virou de súbito, vendo um Victor com os cabelos bagunçados e cara de sono.

Victor se sentou ao lado dele, apoiando as mãos nos próprios joelhos.

— São duas da manhã — Ele tossiu, tirando um cigarro do bolso e colocando nos lábios. — Você deveria ir dormir. Se continuar chorando assim vai ter uma enxaqueca do cão.

John observou o amigo acender o cigarro e o tragar. Victor o ofereceu logo em seguida, mas John negou com a cabeça.

— Eu não vou conseguir dormir — Suspirou, olhando para a aliança que pertencia a Triz. — Eu não paro de pensar nela e no quanto ela estava chorando por minha causa.

— E agora você está chorando por ela — Victor suspirou, soltando a fumaça do cigarro. — Caramba, eu não imaginava que você gostava tanto assim dela.

A sinceridade de Victor fez John se virar pra ele, não se importando com a fumaça do cigarro.

— Eu amo ela, Victor. O que te fez pensar que eu não gostava tanto assim?

— Sei lá, cara — Victor deu de ombros. — Foi tudo tão rápido e do nada. Você viu ela em um show e ficou obcecado... eu pensei que com o tempo você ia desencanar dela.

John balançou a cabeça em negação, pensando em como Victor pensava de forma superficial acerca de sentimentos.

Algumas garotas haviam passado pela sua vida. Garotas essas que saíram tão rápido quanto entraram, o que foi totalmente diferente com Triz. Ela entrou rápido e invadiu completamente o seu coração.

— Você nunca se apaixonou de verdade, né? — John perguntou baixinho.

Victor entreabiu os lábios e os fechou, um pouco surpreso. Ninguém nunca havia feito aquela pergunta pra ele, afinal nenhum dos seus melhores amigos haviam se apaixonado até ali. John havia mudado tudo naquele ano.

— Eu já me apaixonei sim — Ele tragou o cigarro, passando a outra mão pelos fios loiros e lisos. — Mas foi só paixão, entende? Eu pensava nela por alguns dias e depois passava.

— A verdade é que você nunca amou... — John suspirou, fazendo Victor revirar os olhos.

— Enfim, não foi pra falar de amor que eu subi aqui — Ele pousou uma mão no ombro de John, atraindo a sua atenção. — O Cristian está lá embaixo, querendo conversar com você. Se quiser eu mando ele ir pra casa ou...

— Manda ele subir. — John nem deixou o amigo terminar a frase.

Ele sentia que evitar Cristian ou continuar alimentando raiva dele, seria uma atitude extremamente imatura.

Se Cristian queria conversar com ele, é porquê havia algum motivo além da briga, ainda mais aquela hora da madrugada.

E ele sabia que no fundo o amigo estava certo.

— Beleza, vou mandar ele subir e vou dormir — Victor se levantou sem jeito, com o cigarro entre os lábios. — Só não se matem ou quebrem o teto do meu quarto, por favor.

John escutou os passos lentos de Cristian se aproximando, até ele se sentar ao seu lado. Ele parecia tranquilo, sem sono e como sempre, sem externar suas emoções.

— Você tem todo o motivo do mundo para estar bravo comigo — Cristian começou, respirando fundo. — Mas eu juro pra você que não sabia que a Triz estava por perto e... Eu toquei naquele assunto porque é algo que já faz um tempo que eu vinha refletindo. Eu confesso que... — Ele pareceu meio hesitante, mas apenas deu de ombros e continuou. — Que depois de todo esse tempo, eu criei "afeição" por aquelas meninas, por mais que a palavra ainda seja forte. Eu realmente me aproximei de Reina nos últimos dias e sei que a Triz é uma garota muito boa que não merece ser machucada, por mais que seja tarde demais agora. E a Hani...

John ficou o tempo todo em silêncio, observando atentamente a confissão do amigo.

— A Hani é muito doce e ingênua ainda. Me deixaria muito incomodado ver qualquer uma delas mal... — Cristian hesitou novamente, mas então suspirou e desviou o olhar. — O que eu quero dizer, é que eu fiquei preocupado com suas intenções sobre a Triz, porque eu não queria ver nenhuma delas mal. Eu sinto muito por ter sido duro com você, nas minhas ações e palavras e... sinto muito por ter "causado" tudo aquilo.

Era algo incomum ver Cristian se expressando daquela forma. Durante todos os 4 anos de amizade com John e Victor, ele nunca foi de se abrir.

John o olhou surpreso, sua cabeça doía e ele ainda segurava com força a aliança nas mãos, quase machucando os dedos.

— Você estava certo, no final de tudo— John sussurrou, desviando o olhar.  — Não se sinta culpado por isso. Uma hora ou outra ela teria que saber e... a culpa de tudo é minha. Eu que deveria ter contado pra ela desde o início.

John já havia chorado tanto, que não tinha mais forças para ter outra crise. Sua cabeça começava a doer e seu corpo pedia descanso, apesar de sua mente não lhe dar paz.

— Bom, sim... — Cristian coçou a nuca, desconcertado. — Eu... eu realmente sinto muito por vocês. Talvez não era pra ser.

John negou com a cabeça.

— Eu ainda sou dela — John suavizou o aperto em suas mãos, segurando a pequena aliança em frente aos olhos. — E serei até que ela volte a ser minha.

A expressão de Cristian denunciava o quanto ele havia achado ridícula aquela frase, mas permaneceu em silêncio, ao lado do amigo.

John continuava encolhido. Seus cachos estavam em péssimo estado e na visão de Cristian, ele nunca estivera tão feio antes.

Mas se Triz estivesse ali, ela provavelmente o acharia lindo. Com os olhinhos vermelhos e brilhantes, o rosto tão triste e entregue a ela. Mas ela não estava.

Cristian bateu os ombros no de John, uma maneira de dizer que ficaria tudo bem.

— Me dá um abraço? — John fungou, pronto pra começar outra crise de choro.

— Nem fodendo. — Cristian respondeu friamente, enquanto olhava para o céu estrelado.

John deu uma risadinha fraca, pois já sabia que aquela seria a resposta do amigo.

E então voltou a chorar baixinho, enquanto olhava para as estrelas e se lembrava das últimas palavras de Triz.

1 - FriendsOnde histórias criam vida. Descubra agora