Capítulo 18

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Triz mexeu no macarrão pela quinta vez, enrolando a comida no garfo e soltando. Ela não sentia fome, talvez fosse a ansiedade ou as borboletas no estômago, que depois do acontecido não haviam dado nenhuma trégua.

— Come isso logo. — Bailey murmurou enquanto mastigava, estava sentada bem do seu lado.

Triz olhou pra irmã com a cara fechada e revirou os olhos.

— O que foi minha filha? A comida ficou ruim? — Gregory, que depois de tanto tempo longe por causa do trabalho, finalmente estava almoçando com as filhas em casa.

— Não não pai, está muito boa... — Triz sorriu para o pai. — É só que eu...

— Pois eu já sei bem o que é isso — Camille a olhou com uma sobrancelha arqueada. — Isso aí é aquele menino que te trouxe aqui, não é? Você tá namorando com ele? Até que ele é bem gatinho.

Triz arregalou os olhos pra mãe e negou rapidamente com a cabeça. Gregory largou o garfo em cima do prato na hora.

— Namorando? Minha filhinha? Como assim? Triz?!

— Calma pai... Eu...

— Não acredito que ela tá namorando! Antes de mim ainda? — Bailey parecia indignada mas ao mesmo tempo tinha diversão estampada em seus olhos. — Tá namorando! Tá namorando!

Triz estava prestes a surtar quando seu celular tocou, a notificação na tela indicava ninguém mais que John Henry, o motivo de todo o seu sufoco.

— Eu preciso atender, já volto... — Murmurou e se levantou rapidamente com o celular na orelha.

Triz entrou dentro do quarto e fechou a porta. Ela finalmente teria uns minutinhos de paz.

Oi — A linda voz de John soou do outro lado da linha. — Tudo bem, princesa?

Triz quase teve um mini ataque de tanto que suas bochechas formigaram enquanto ela sorria.

— Tá tudo sim... Por que você ligou na hora do almoço? Hein, senhor John.

Ele deu uma risadinha e Triz escutou uns resmungos de alguém no fundo. Com certeza era Victor, pelo tom estressado.

Segura aí, loira! Calma! — Sim, com certeza era o Victor. — Então Bea, os meninos estão querendo ir pra praia no final da cidade esse final de semana, mas eu não vou sem você. Você aceita ir com a gente? Pode levar suas amigas, se quiser. Daremos um jeitinho de fazer todo mundo caber na van. Qualquer coisa o Victor vai sentado no colo da Reina.

Triz gargalhou ao escutar os xingamentos que Victor direcionou para John no fundo da ligação.

Ela havia ido na praia poucas vezes e todas tinham sido com os seus pais. Ela gostou da ideia e ficou animada em pensar que iria passar um tempo na praia com John, afinal eles só se viam na escola.

— Vamos sim, John. Amei a ideia.

Você pode me ligar por chamada de vídeo? Tô com saudade... — Ele pediu com a voz mais sem vergonha o possível. — Ai Victor! Por que você tacou esse tênis na minha cabeça? Qual é?!!

Triz riu e balançou a cabeça em negação. Como pode alguém que não deveria ter nem 1,68 direito como o Victor, ser tão estressadinho? Aquilo era realmente coisa de playboyzinho rebelde.

— Não vai dar, tenho que voltar pra terminar de almoçar com os meus pais — Triz encostou na porta do quarto, sorrindo. — Depois me fala o horário que vamos nos encontrar no sábado, ok? Preciso avisar as meninas.

John suspirou fingindo estar triste, então Triz podia jurar que pela sua respiração ele estava sorrindo.

Tudo bem, então... beijos, princesa. Até a próxima.

Até...

Ele esperou que ela desligasse o telefone e quando o fez, Triz sentou no chão do quarto, se sentindo boiola.

Como pode estar tão rendida assim por aquele garoto? Apesar de ainda ter um pouco de vergonha de expressar seus sentimentos, ela estava completamente envolvida. Droga, Triz! Você foi derrotada ou venceu na vida. 

Agora ela precisava enfrentar os pais na cozinha... Que senhor Gregory não a deixe careca, pois ela ama seus lindos cachinhos bordô. Mas, ao chegar na cozinha, não precisou mais inventar desculpas a respeito do seu possível "namoradinho".

Sua mãe e seu pai discutiam e a briga estava ficando tão feia que Bailey até saiu da mesa. 

Toda vez que seus pais brigavam, um pedacinho de luz em Triz parecia se apagar, por mais que ela já estivesse tão acostumada com cenas como aquela. O pior de tudo, era que ela era o principal assunto da briga.

— A Triz não tem um emprego, na idade dela eu já tinha até filho! Eu já sabia me virar — Camille Esbravejou  quando notou a presença da filha na cozinha. — Dezoito anos nas costas já! Se você aparecer grávida nessa casa, menina, saiba que não vou deixar você botar o pé aqui dentro. 

— Não fala assim com ela, Camille! Não é porque você perdeu a sua adolescência que nossa filha é obrigada a perder também — Gregory rebateu. — Você é amargurada.

O que veio em seguida deixou Triz chocada. Sua mãe havia levantado da mesa e dado um tapa tão forte no rosto do seu pai, que o barulho paralisou todo mundo.

Gregory jogou o garfo sobre o prato e se levantou com raiva estampada em seus olhos escuros, olhos esses que Triz havia herdado.

— EU TÔ INDO EMBORA DESSA CASA! NÃO MEREÇO CONTINUAR TRABALHANDO QUE NEM UM CACHORRO PRA MANTER VOCÊ E NOSSAS FILHAS E AINDA SER HUMILHADO!

O grito repleto de cansaço e dor, quebrou Triz por completo. Ela explodiu em lágrimas, enquanto observava o pai sair de casa, provavelmente indo em direção a pequena garagem. Bailey já havia se trancado no quarto e não havia a mínima chance de Triz conseguir se refugiar lá.

—Você tá vendo? — Sua mãe apontou para fora de casa. — É isso o que acontece quando você fica grávida na adolescência e perde a merda da sua vida. Confia em homem, vai.

Triz ignorou as palavras da mãe e saiu de casa, enquanto chorava sem parar. Como isso sempre acontecia de uma hora pra outra? 

Parecia que sua felicidade durava tão pouco. Os sentimentos bons em seu peito eram efêmeros. As palavras que sua mãe provavelmente já havia esquecido, perpetuavam em seu peito, pois quem atacava sempre esquecia, mas o atacado nunca teria paz dentro de si mesmo. As vezes ela achava que não gostava da mãe... As vezes tudo o que ela precisava era do colo daquela que a deu vida, mesmo não tendo pedido pra nascer.

Poucos minutos depois de sair de casa, seu pai a enviou uma mensagem pedindo para que quando ele se divorciasse de sua mãe, ela e Bailey fossem morar com eles. Nunca havia chegado naquele ponto. 

Triz se deu conta que caminhava em direção a casa de Hani e tudo o que fez quando chegou, foi sentar na calçada e apoiar o os cotovelos no joelho, ela não conseguia nem chamar a amiga, pois tinha medo de ser um incômodo naquele momento aleatório.

Ela tinha medo desses sentimentos, tinha medo de não conseguir atingir seus objetivos e sair de casa... Medo de ser um fardo pesado demais até mesmo para sua família não querer a acolher. Será que valia a pena mesmo se apaixonar? Será que no final ela terminaria como sua mãe? Não fazia sentido pensar em John naquele momento, ele era diferente. Mas como sempre, suas inseguranças a sufocavam ainda mais naquele momento. 

— Triz? — A voz doce de Hani a fez olhar para trás. — Oh meu Deus, por que você tá chorando, Triz? Vem aqui.

Triz rapidamente se levantou e apertou fortemente a amiga mais baixa, enquanto soluçava de tanto chorar. 

Hani fez carinho nas costas de Triz, enquanto sussurrava que tudo iria ficar bem e a guiava para dentro de sua casa.

1 - FriendsOnde histórias criam vida. Descubra agora