Quando pequeno, Craig costumava ser um tanto arisco em relação ao afeto direcionado a ele. Sua mãe dizia que puxara seu pai nisso. Ele ficava envergonhado muito facilmente e fugia de seus abraços quando ela o deixava na escola, não querendo que seus colegas vissem sua mãe sendo tão grudenta e o tratando como um bebê.
Foi com o tempo que ele finalmente conseguiu começar a expressar sua necessidade de ser constantemente tocado de alguma forma, sentindo-se mais à vontade para começar a bagunçar o cabelo de seus amigos, apoiar os dedos em seus ombros e cutucá-los.
Receber e oferecer toques o abastecia, de certa forma, e o esquentava por dentro. Era algo pelo qual ansiava, e quando nenhum de seus amigos estranhou seu comportamento, ele relaxou.
Mas em casa, Craig nunca começava nenhum abraço, nem mesmo pedia por eles, embora sua mãe os desse de boa vontade. Ele sempre demorava um pouco mais dentro deles, apreciando-os silenciosamente.
O que Craig nunca pensou, é que estaria ativamente precisando desses abraços.
Com o rosto em branco, encostou a porta suavemente, escondendo as mãos trêmulas dentro dos bolsos do casaco. Ele se virou, imperturbável, tentando focar no corredor tão agonizantemente longo que se desenrolava diante dele, ao invés do formigamento em seus lábios e a dor latejante no estômago.
Aquele soco doeu, mas não mais que o fato de que foram os nós dos dedos de Tweek os responsáveis por aquela dor.
Ele não sabia dizer se o emaranhado que se formava em seu peito era feito de raiva, arrependimento, ou de um choro que estava tentando segurar. Ele não sabia e não queria saber e planejava simplesmente subir até seu quarto, cair na cama e dormir por horas.
Ao passar pela sala, pôde enxergar sua mãe costurando no sofá, com os tornozelos cruzados, atenta a TV. Ela não teria o notado ali, se não fosse por seu sapato, que raspou no chão quando tentou passar reto. A cabeça dela girou para encará-lo, e ao vê-lo, ela sorriu.
— Bem vindo de volta, meu amor. — Largou a agulha de costura e as apoiou no colo, preparada para saber como foi seu dia. — Saiu com o Tweek hoje de novo? Como ele está?
E Craig tentou, tentou mesmo esconder o que estava sentindo, ele era ótimo nisso, mas algum vislumbre do que aconteceu deve ter passado por seu rosto, porque o sorriso de sua mãe vacilou, e uma ruga de preocupação surgiu entre suas sobrancelhas.
— Ah, meu amor, o que aconteceu? — Sua voz suavizou, e a forma como a pergunta soou fez a garganta dele se fechar.
De alguma forma, ele acabou deitado no sofá, sem os sapatos, com a cabeça repousando sob o colo da mãe. Os dedos finos e gentis dela corriam por seu couro cabeludo enquanto ele se encolhia como uma criança chorona, se sentindo ridículo, mas tão grato por ter sua mãe ali com ele.
— Então... deixa eu ver se eu entendi — murmurou ela pensativamente acima dele, as unhas coçando sua nuca devagar. — Ele deu um soco em você?
Engolindo em seco, Craig se afundou um pouco mais no sofá.
— É — confirmou, embora tenha se apressado para defendê-lo antes que soasse mal interpretado. — Mas eu não acho que ele fez por querer. E nem doeu tanto assim.
Os carinhos se moveram para o topo de sua cabeça novamente, calando-o porque era calmante demais.
— Isso não foi muito legal da parte dele — comentou ela, porque seria pedir demais que ela ficasse brava de verdade com Tweek. — Talvez ele não estivesse preparado.
Craig fechou os olhos com força.
— Mãe...
— Craig, eu sei como você pode ser brusco com as coisas. Eu te conheço. Ele deve ter ficado assustado — disse com uma naturalidade quase tranquila. — Não que seja desculpa, mas pode ser assustador mudar uma amizade tão do nada, ainda mais porque vocês se conhecem desde sempre.
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Sobre (não) se encaixar, creek
Romansa[Em andamento] Por anos, Tweek esteve familiarizado com a raiva, a sensação de inconformidade, o sangue nas juntas dos dedos e o medo. Ele se comunicou com os punhos por muito tempo, não se importando em reconhecer qualquer outra forma de expressar...