O tolo desdenha do inconsciente

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Lyan não conseguiu responder, somente engolir seco e observar os garotos ao longe, todos sorridentes, com uma breve exceção de Claude, alheios ao perigo que talvez corressem. Mas tudo bem, Lúcifer estava ali para protegê-los.

E, quando o vento soprou mais forte, Azriel desapareceu.

Ato 13

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"Velha desgraçada", reclamou Alois na primeira oportunidade após deixar todas as rendas na barraca de uma senhora que oferecia prêmios em troca dos jogos (claramente fraudulentos). Em algum momento do festival, Alois conseguiu extorquir uma boa quantidade de dinheiro de um velhote rico que os observara dançar, o que não agradou muito Claude — mas Alois conseguiu convencê-lo de que era uma boa oportunidade para fazer novas compras. Deu a Claude um cachorrinho de pelúcia, disse que combinava com ele e, pela primeira vez, não o viu irritado com um comentário que tinha como intenção incomodar. Claude amava pelúcias, mais ainda cachorros.

"Então você gosta de animais?", comentou Alois com um sorriso encantado. Nunca tinha visto os olhos de Claude brilharem antes como no momento em que encarava o bichinho. Claude tentou esconder com um resmungo, mas era inevitável.

"Sempre quis ter um cachorro. Cheguei a adotar um por três dias, mas o Lovelace fez tanta bagunça que a minha mãe doou e disse que ele fugiu com uma cadelinha para bem longe." A história foi triste para Claude na época, mas ele não pôde evitar soltar uma risadinha, que encantou Alois.

"Quando você ri assim, fico com vontade de beijar você, sabia?" A confissão repentina assustou Claude. Para quem nunca tinha sequer tentado iniciar um relacionamento, o flerte foi uma flechada que o deixou quase — quase — vermelho.

"Nos seus sonhos, quem sabe."

"Faço muita coisa com você nos meus sonhos", admitiu Alois com um sorriso travesso. "Por que Lovelace?"

"O nome? É uma cientista humana importantíssima para o algoritmo matemático. Ela morreu faz alguns anos." Claude observava as festividades sentado à mesa de frente para uma taverna; com o péssimo histórico deles em locais cheios, Ciel e Sebastian também tinham se sentado a algumas mesas de distância, apenas o suficiente para que Claude não precisasse manter contato visual com o irmão.

"Você tem muitos gostos. Ciência, livros, animais, pintura, música..." Antes que Claude conseguisse perguntar de que forma Alois tinha descoberto sobre seu gosto por pintura, ele completou: "Tem duas telas na casa assinadas por você. Não percebi de cara, mas a assinatura nelas é a mesma que você rabisca em uma folha abandonada do seu quarto. Juntei os pontos."

Claude ficou meio impressionado; não que tenha mudado algo na expressão costumeira de seu rosto, porém Alois passava de um simples pervertido besta para um pervertido observador na visão dele, e às vezes tinha seus momentos de bom senso. Isso não fazia Claude gostar dele, mas já tinha certo tempo que não o odiava. Tudo bem, estava sendo um pouco hipócrita. Não era gostar... também não era odiar. Nem tolerar. Não sabia, apreciava alguns momentos de companhia com ele, e tinha aprendido a lidar com os que sobraram.

"E o que você gosta de fazer?", perguntou Claude, surpreendendo Alois. "Além de fugir de madrugada, irritar qualquer ser vivo e dançar?"

"Eu...", disse meio embasbacado. Claude nunca fazia esforço algum para manter uma conversa. "Gosto de ouvir os outros falarem sobre o que gostam, acho. Se eu for superficial, tem menos chances das pessoas além do Cice se apegarem a mim, e de eu me apegar nelas. Acabei não desenvolvendo muitos gostos, só aprecio os de quem tenha brilho o suficiente nos olhos pra falar dos próprios." Alois chegou a pensar que estava falando demais, porque, apesar de sempre conversar muito, raramente era sobre sentimentos — principalmente com alguém que não fosse Ciel, mas Claude permaneceu quieto, observando, como se esperasse por mais. Atenção deixava Alois ansioso. "Estendi isso para o resto da minha vida no geral. Sem ambições, sem grandes esperanças, sem grandes feitos. Previne a decepção quando as coisas não dão certo."

Se prometer, não case com o DiaboOnde histórias criam vida. Descubra agora